As confissões de Charlotte Casiraghi. A filha de Carolina do Mónaco está nomeada para Personalidade do Ano, da revista Vanity Fair. Por isso, a jovem deu uma entrevista à publicação, em que faz algumas revelações sobre as ambições, gostos pessoais, lutas e prazeres no seu percurso.
Antes demais, importa dizer que a publicação reconhece a Charlotte uma nomeação que, nas três décadas de existência da revista, já foi atribuída ao tenista Rafael Nadal, ao Prémio Nobel da Literatura Mario Vargas Llosa e aos atores Antonio Banderas e Salma Hayek, por exemplo. Agora, o trabalho de Casiraghi como promotora do estudo da literatura e da filosofia revela uma mente inquieta e versátil, com uma inevitável vertente social e literária.
Licenciada pela Sorbonne, Charlotte não é como “as comuns reais”. Senão, vejamos. Ao lado de Robert Maggiori, seu professor no liceu e crítico literário do jornal Libération, é co-autora do ensaio Archipiélago de pasiones, publicado em França, em 2018, por exemplo.Aliás, Maggiori disse-lhe que ela tinha sido a sua melhor aluna, em 30 anos de ensino.
“Sempre li muito, mas é possível ter uma paixão e segui-la sem ter de se dedicar a ela profissionalmente. Dito isto, sinto-me muito privilegiada por ter tido tempo para estudar, ler e beneficiar de um acesso excecional à cultura, por isso sinto que tenho a responsabilidade de retribuir, empenhando-me em inspirar os outros a ler e a aprender,” explica na entrevista.
Casiraghi assume que uma das pessoas que mais influenciou a sua vocação foi Karl Lagerfeld. A mente criativa da casa Chanel, entre 1983 e 2019 (ano em que morreu), era amigo íntimo dos Grimaldi. Lagerfeld tinha uma biblioteca de cerca de 300 000 livros, local onde Charlotte costumava “perder-se” na adolescência. O criador admirava quem dedicava o tempo à literatura.
“Descobrir o poder dos livros e ter papel e caneta à mão pode ser o início da liberdade” afirmou a neta mais velha do príncipe Rainier do Mónaco.
Outra grande referência da filha de Carolina é Virginia Woolf: “Penso em muitas mulheres impressionantes que nos fizeram mudar a nossa perceção da cultura e da literatura e Woolf foi uma pioneira. Além do seu génio natural, escreveu peças políticas que explicavam como as mulheres tinham sido excluídas do conhecimento. (…) Woolf tinha uma forma muito forte de se exprimir e eu admiro a sua forma de lutar. Teve de lidar com uma vida difícil e era também muito frágil e transcendeu tudo isso para criar a sua obra. Sempre achei esse contraste incrível.”
No campo da filosofia, Kierkegaard e Nietzsche são os filósofos favoritos de Charlotte. Uma admiração que a levou, com Robert Maggiori e o colega filósofo Raphael Zagury-Orly, a organizar encontros filosóficos no Mónaco. “Realizamos vários encontros ao longo do ano e, em junho, temos uma semana inteira – Philomonaco – onde se reúnem até 50 filósofos no principado. Desta forma, os participantes podem distanciar-se do ruído dos meios de comunicação social e ouvir diferentes especialistas debaterem questões que nos preocupam a todos, desde a ecologia à saúde e ao lugar da mulher na sociedade atual. “
Charlotte assume-se como uma leitora metódica. Lê diariamente. Várias vezes por dia. “Nunca três ou quatro horas de cada vez, mas quatro páginas cerca de 15 vezes por dia.” As suas escolhas baseiam-se em recomendações de amigos, em artigos que lê ou em diferentes consultas sobre um tema que lhe interessa. “É um processo de seleção muito variado e natural”, confessa.
E quando se trata de promover a leitura, é impossível dissociá-la da aprendizagem das crianças. Casiraghi tem dois filhos: Raphaël, com quase 10 anos, e Balthazar, com cinco. Segundo Casiraghi, o mais velho diverte-se com a banda desenhada do Tintin e dos Smurfs, enquanto ao mais novo são contadas histórias de Zeus, Hércules e outros heróis da mitologia grega.
Como mulher, Charlotte não podia deixar de falar sobre a maternidade: “Ter filhos é uma mudança enorme que ainda hoje nos afeta muito mais. Exige muita energia emocional e física, e penso que as mulheres, carregam alguma culpa ou são rotuladas de egoístas se trabalharem muito. Historicamente, cuidar da família tem sido a nossa especialidade e essa devoção quase obrigatória é algo que ainda está subjacente. Mesmo que se tenha ajuda em casa, e apesar de os homens estarem hoje mais envolvidos nestas questões, é difícil encontrar um equilíbrio entre a carga pela qual nos sentimos responsáveis e o nosso desenvolvimento profissional.”