“Fazemos muita psicologia estética, as expectativas têm de ser bem medidas.” É este um dos pontos-chave quando abordamos o tema da medicina estética com a espanhola Blanca Porto, especialista na área que há sete anos se mudou para Lisboa para dirigir a clínica Secret Beauty. Apaixonada pelo que faz, afirma que o seu maior orgulho reside em dizer às suas pacientes que têm uma aparência natural apesar dos tratamentos estéticos. E tudo isso é um trabalho árduo “de artista. Tenho de trabalhar para manter um rosto harmonioso e equilibrado, para que não pareça mexido”, frisa.
Nesta conversa, Blanca falou sobre os tratamentos mais solicitados a nível de medicina estética nesta altura do ano e traçou o perfil do paciente que procura a clínica, sublinhando que em Portugal ainda há muito espaço para evoluir nesta área.
– O que é que as pessoas mais procuram a nível de rosto nesta altura específica do ano, em que a maior exposição ao sol já passou?
Blanca Porto – É a época em que temos de tratar a pele em profundidade, tirar os estragos do verão. Nesta altura, dou a todas as minhas pacientes um creme despigmentante, que é um manipulado de farmácia, para limpar a pele “suja” do sol. Depois disso, começa a época dos peelings e dos lasers (tratam a qualidade da pele), porque há pouca luminosidade. É também nesta altura que se tratam os vasos capilares que se quebram no nariz, maçãs do rosto e peito, por exemplo.
– Aposta-se nos tratamentos mais invasivos no inverno?
– Não necessariamente, mas é preciso que haja pouca luz, porque senão pode pigmentar. Nunca vamos ser jovens se não tivermos uma pele luminosa. E não se resume tudo ao rosto. Por exemplo, o pescoço e o peito são muitas vezes esquecidos. Na maioria das vezes, a cara aparenta uma idade, o pescoço outra e as mãos outra diferente também. As pessoas têm muita dificuldade e receio em fazer o primeiro peeling, porque a pele vai escamar e ficar vermelha. O melhor é fazer esse tipo de tratamentos longe do fim de semana e nunca perto de um evento.
– Há muita preocupação com a redução de manchas solares?
– As pessoas vêm porque têm a pele manchada e estragada devido à exposição excessiva ao sol. O paciente português ainda não sabe muito bem o que quer além do botox e do ácido hialurónico. É como se não existissem mais coisas. Sinto isso em Portugal.
– Porque é que acha que os portugueses ainda estão pouco informados acerca dos tratamentos estéticos que já se fazem nos outros países?
– Em Portugal, a medicina estética ainda é muito jovem. Ainda se fala muito no excesso de volume devido ao botox e ácido hialurónico. Já há médicos com experiência avançada, mas, no geral, há pouca experiência. Há muitos impostores e os pacientes não sabem o que pedir, porque têm pouca informação em relação a clínicas qualificadas. Há um leque muito grande de tratamentos e muitas pacientes jovens chegam à nossa clínica com excesso de ácido hialurónico, por isso somos obrigados a dar volume à pele e fazer hidratação antes de passar a outro processo, para dar elasticidade.
– Continua a haver um padrão de beleza vincado, algum ideal a que todos querem chegar?
– O rejuvenescimento é uma junção de tratamentos, não se pode chegar do 0 ao 100 num estalar de dedos, tem de ser paulatinamente. Em Espanha também houve o boom do ácido hialurónico, mas já passou essa fase. Agora já não é para se notar, muito pelo contrário. Já não dá para as mulheres, a partir dos 50 anos, parecerem todas irmãs [risos]! O perfil do rosto agora é com lábios muito grossos, a mandíbula quadrada e muito masculina e as sobrancelhas muito fortes e vincadas. Tenho muitos anos disto e já fui feminista quando tinha de o ser, e era complicado. Para se ser uma mulher empoderada não é preciso ser masculina, em absoluto.
– O que se pode fazer para que a medicina estética em Portugal evolua de forma equilibrada e com a informação certa?
– Há um trabalho didático que os médicos têm de fazer. Na Secret Beauty, por exemplo, vamos fazer uma série de eventos educativos para o público em geral sobre todo o tipo de tratamentos, como as hormonas. Mas não há milagres, tudo gira à volta de boa alimentação, água e exercício físico.
– Há tratamentos inovadores ao nível do rosto?
– Temos uma radiofrequência microagulhada para tratar a flacidez com uma máquina apelidada de Potenza. É realizado através dos fatores de crescimento que se extraem do plasma do paciente. É ideal para pessoas com mais de 40 anos. Esta clínica não é para gente jovem, tem muitos tratamentos de antienvelhecimento e tudo o que se pode fazer para ter qualidade de vida.
– Sente que a velocidade com que vivemos hoje em dia prejudica o estilo de vida e a consequente procura por esta área da medicina?
– Tenho muitas consultas com mulheres depois do parto, por exemplo. O que se passa agora é que as gravidezes e as menopausas acontecem cada vez mais na mesma década, antes não era assim. Tudo se agudiza num curto espaço de tempo e é preciso recuperar muito num pós-parto, ainda para mais numa situação em que a mulher está desorientada e fragilizada. Hoje em dia o mercado tem soluções para todos os problemas que temos.
– A medicina estética continua a ser um estigma?
– Para os portugueses, sim, pois vivem numa sociedade mais fechada e conservadora. Temos necessidade de confrontar mais os pacientes com o motivo para os tratamentos, de falar mais. Para os brasileiros e os espanhóis já não.
– Há cada vez mais homens à procura de tratamentos estéticos?
– Sim, também querem sentir-se bem, é perfeitamente normal. E também muitas pessoas que vêm em casal. Há a tendência para tratar em conjunto, pois, se o parceiro não o fizer, haverá uma descompensação.
– Nota-se cada vez mais um público à procura de uma abordagem holística?
– Creio que sim. Não é só para amenizar as rugas, é sentir-se bem como um todo. A menopausa, na mulher, e a andropausa, no homem, são questões importantes, cada vez mais se procuram tratamentos que privilegiam o bem-estar, a energia e a boa disposição, minimizando o cansaço. Não é só medicina estética, é um conceito mais amplo.
Carreira dedicada à estética em Portugal e Espanha
Blanca Porto nasceu no Chile, mas mudou-se muito jovem para Ourense, na região espanhola da Galiza. Por lá cresceu e fez a formação na Universidade de Santiago de Compostela. Depois da licenciatura em Medicina, especializou-se em Medicina Estética e Cosmética e Medicina Antiaging em Barcelona. Desde há sete anos dirige uma clínica em Telheiras, Lisboa, além de colaborar com outras em Espanha. “Mudar de país foi uma decisão complicada, sobretudo porque nunca quis ter uma clínica própria nem trabalhar muitos anos no mesmo sítio. Mesmo que estivesse ligada a todas, não queria estar ligada a nenhuma, porque, ao fim e ao cabo, quando se vai de uma para outra há uma correia de transmissão. Enriquecemos mais com a experiência”, revela.