Aos 81 anos, a icónica cantora e atriz americana Barbra Streisand lança finalmente a sua autobiografia. My Name is Barbra levou mais de vinte anos a ser escrito, mas o resultado, quase mil páginas na versão original, compensa a espera para quem queira conhecer o seu lado mais íntimo e reservado. Das pressões que sofreu por causa da sua aparência, nomeadamente as críticas ao nariz marcante, passando pela infância infeliz, a intensa vida amorosa e o assédio de algumas estrelas, nada parece ficar por contar.
São mais de seis décadas de sucesso no mundo do espetáculo e que lhe valeram os principais prémios artísticos – Emmy, Grammy, Óscar e Tony, o conjunto a que na gíria chamam EGOT – passados em revista, contados em paralelo com as revelações sobre a sua vida pessoal. A própria diz que, depois disto, não tem razão para dar mais entrevistas, pois não deixa nada por dizer. “Este é o meu legado. Escrevi a minha história”, afirma.
A quantidade de comentários e críticas que sempre recebeu à sua aparência são um tema central deste autorretrato. “Às vezes sinto que o meu nariz obtém mais atenção do que o meu próprio talento artístico”, escreve, explicando que, apesar das pressões para que fizesse uma rinoplastia, nunca quis arriscar a saúde – ou a voz – em prol da aparência. “Barbra Streisand representa um triunfo de aura sobre a aparência. O seu nariz é demasiado longo, os seios demasiado pequenos e as ancas demasiado largas. Mas quando chega ao microfone, transcende gerações e culturas”, escreveu, por exemplo, a Newsweek em 1966. A Time, por seu lado, deu a um artigo de capa o título “Este nariz é um santuário”. “Mesmo hoje, depois destes anos todos, ainda me sinto magoada pelos insultos, e não consigo acreditar nos elogios”, confidencia a artista,
Nascida a 24 de abril de 1942, nos subúrbios de Brooklyn, Nova Iorque, relata uma infância infeliz, com poucos recursos e sem carinho. O pai morreu quando tinha 15 meses e diz que nunca recebeu atenção da mãe ou do padrasto, que descreve como “frios, cruéis e distantes”. Nenhum apoiava a sua vontade de seguir a carreira artística, pelo que o percurso foi solitário. mas consistente: ela pró+pria diz que nunca duvidou de que seria bem sucedida.
A primeira conquista na Broadway, os filmes famosos, os prémios, tudo merece referência e desencadeia memórias que trazem pequenas histórias e curiosidades nesta autobiografia, mas também as conquistas amorosas como os atores Marlon Brando, Steve McQueen, Omar Sharif, Ryan O’Neill ou Don Johnson. E até um piropo que recebeu do atual rei de Inglaterra, então príncipe Carlos, que lhe disse que era “devastadoramente atraente” e que tinha um enorme sex appeal.
A história de amor com o primeiro marido, o ator Elliot Gould, pai do seu filho, o ator, realizador e escritor Jason Gould, hoje com 56 anos, e o romance com o segundo e atual marido, o realizador James Brolin (pai do ator Josh Brolin), merecem relatos tocantes. “Eu e o Jim [como trata James] conhecemo-nos numa fase da minha vida em que basicamente já tinha desistido de encontrar alguém. E, sinceramente, estava bem sozinha.” Brolin acabou por conquistá-la e hoje, 25 anos depois, diz que o segredo da relação é a vontade que ambos têm de fazê-la resultar.
“Não me diverti muito na minha vida, para ser sincera, quero divertir-me mais”, desabafa Streisand, mostrando que, aos 81 anos, sente ter ainda uma vida pela frente.