De mochila às costas, pedalando a bicicleta, Roberto vai à descoberta do mundo, sem rumo. É assim que vemos Francisco Vistas entrar no palco do Teatro do Bairro para dar vida ao protagonista do espetáculo De Passagem, uma comédia que fala de trocas, diálogo e compreensão, com texto original de Luísa Costa Gomes e encenação de António Pires, em cena até dia 4 de fevereiro.
Tal como a sua personagem, também o ator já viajou de mochila às costas, foi conhecendo pessoas nesses destinos por onde passou, mas hoje, aos 31 anos, já não tem o mesmo espírito aventureiro. Reflexões que partilhou com a CARAS no final do ensaio para a imprensa: “Não é que tenha visto muito e ache que não há mais nada para ver. Há muito, mesmo. Mas passei a dar prioridade a outras coisas que estão perto de mim, a focar-me no que está dentro de mim. Quero muito conhecer-me a mim próprio. Só quando estamos bem connosco é que conseguimos ser a nossa melhor versão.” Ainda não chegou lá, acredita, mas está em “permanente aprendizagem”, disse-nos Francisco, que não gosta muito da exposição inerente à profissão, tanto que não tem uma página de Instagram pública e trabalhou até agora sem estar agenciado.
Uma atitude que o tem mantido algo afastado do grande público, apesar do currículo preenchido como ator. Estudou teatro na ACT – Escola de Atores, ainda frequentou o Conservatório, mas quando começou a trabalhar no Teatro Meridional interrompeu os estudos. Seguiu-se o Teatro do Bairro, onde tem sido feito grande parte do seu trajeto. E além das variadas peças e espetáculos, participou no filme O Amor É Lindo… porque Sim!, de Vicente Alves do Ó, e trabalhou com João Botelho em O Jovem Cunhal e 1936 – O Ano da Morte de Ricardo Reis. Juntamente com dois amigos, foi responsável pelo argumento de A Série, um projeto de ficção com 13 episódios que foi exibido em outubro do ano passado na RTP2. E é precisamente a televisão que considera faltar na sua experiência profissional, apesar de ter tido uma pequena participação numa novela.
“Claro que a projeção é maior para quem faz televisão. Há muito bons atores em teatro cujo reconhecimento não é tão grande.”
A par da representação, Francisco Vistas tem feito publicidade para equilibrar o orçamento. “Não tenho agente e faço poucos castings para televisão. E acho que algumas vezes se escolhem os atores para novelas com base no número de seguidores nas redes sociais, para darem mais visibilidade ao projeto. Por sua vez, claro que a projeção é maior para quem faz televisão. Há muito bons atores em teatro cujo reconhecimento não é tão grande, infelizmente. E eu, para conseguir sobreviver, faço publicidade”, justifica, não descartando a hipótese de integrar o elenco de uma novela
“Quero muito conhecer-me a mim próprio. Só quando estamos bem connosco é que conseguimos ser a nossa melhor versão.”
Enquanto isso não acontece, Francisco sobe aos palcos com a esperança de que as salas se encham de público, acreditando que esse hábito deve partir da educação: “Honestamente, acho que as pessoas até gostam de vir ao teatro e valorizam os atores, mas esse hábito cultural tem que ser estimulado desde a infância. Se as crianças forem incentivadas pelos pais, pelos professores, a ir ao teatro, passa a haver interesse. É um problema geracional.”