Se Carey Mulligan, nascida a 28 de maio de 1985, tivesse seguido as orientações dos pais – um gestor hoteleiro e uma professora universitária –, teria hoje uma profissão dita convencional. Mas preferiu o caminho que lhe ditava a paixão: ser atriz. Um início nada fácil, mas a sua perseverança não a deixou desistir, nem mesmo quando foi recusada três vezes por escolas de arte dramática e foi até desencorajada de enveredar pela representação pelo ator e guionista Julian Fellowes, a quem pediu orientações para se tornar atriz. Insistiu até a mulher de Fellowes acabar por convidá-la para um jantar com aspirantes a atores, onde se cruzou com uma assistente que lhe falou num casting para um filme. Conseguiu um papel em Orgulho e Preconceito, uma adaptação do romance de Jane Austen com realização de Joe Wright, que marcou, em 2005, a sua estreia profissional. Como a representação ainda não lhe permitia uma vida desafogada, fez alguns programas de televisão e acumulou castings com o trabalho atrás do balcão de um bar. Finalmente, em 2008, esta autodidata foi aclamada pela crítica que a viu na Broadway na peça A Gaivota, de Tchekhov.
Cinco anos depois, fez parte do leque de 100 atrizes que lutavam por um papel em Uma Outra Educação, de Lone Scherfig. Conseguiu o de protagonista, o que lhe valeu a primeira nomeação para o Óscar de Melhor Atriz. Foi também uma das preferidas na mesma categoria nos Golden Globes, SAG Awards e Critics’ Choice Awards e subiu ao palco dos BAFTA para receber o galardão que reconhecia o seu talento. A carreira estava lançada. A partir daqui, somaram-se sucessos.
Em 2013, a propósito de O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann, uma adaptação do romance de F. Scott Fitzgerald, foi elogiada pelo colega de elenco Leonardo DiCaprio, que comentou com o realizador: “Acho que estamos mesmo perante a próxima grande revelação do cinema.” Palavras certeiras. A atriz britânica continuou a conquistar cineastas e papéis de relevo. O filme As Sufragistas, em 2015, não podia ter acontecido num momento melhor. Mulligan, que tinha sido mãe pela primeira vez nesse ano, de Evelyn Grace – fruto do seu casamento com o músico Marcus Mumford, dos Mumford & Sons, com quem tem mais dois filhos, Wilfred, hoje com quatro anos, e uma bebé que nasceu há cerca de quatro meses e cujo nome não foi ainda revelado –, estava a passar por uma depressão pós-parto, sentia-se sozinha, assustada e confusa com a experiência da maternidade e “voltar ao trabalho, de alguma forma, foi o que me colocou no caminho para me encontrar novamente, com um incrível apoio à minha volta”, revelou à revista People em outubro de 2022.
O filme Uma Miúda com Potencial (2020) voltou a dar-lhe a oportunidade de estar na corrida aos mais importantes prémios de cinema, tendo sido reconhecida como Melhor Atriz nos Critics’ Choice Awards, galardões atribuídos pela crítica norte-americana. O feito repete-se nesta temporada de prémios de cinema nos EUA. Falamos de Maestro, no qual Mulligan dá vida a Felicia Montealegre Cohn Bernstein – atriz e ativista de origem chilena que foi mulher do maestro Leonard Bernstein, personagem interpretada por Bradley Cooper (que assina o argumento e a realização desta longa-metragem, que ainda pode ser vista em algumas salas de cinema e está na plataforma de streaming Netflix). Um papel que pode levá-la a ganhar finalmente o primeiro Óscar da sua carreira de 18 anos. Cooper também está nomeado na categoria de Melhor Ator e se ambos arrecadarem as respetivas estatuetas, será uma proeza, já que essa “dobradinha” apenas aconteceu sete vezes na história dos Óscares. A 96.ª cerimónia dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood acontece a 10 de março.