Mais de dez anos depois de ter sido afastada do papel de diretora do Teatro da Trindade, Cucha Carvalheiro regressa àquele teatro para subir ao palco na peça A Senhora de Dubuque, cujo tema incide na morte. A atriz admite que pisar este palco, ao qual chama “casa”, é uma alegria e um aconchego enormes. “O facto de a minha personagem ser uma espécie de anjo da morte, e tendo eu 75 anos – portanto, a vida que me resta é mais curta do que a que já vivi –, é evidente que o confronto com essa passagem é um modo de pacificação, ou seja, é muito bom estar viva, mas tenho de estar preparada para alguém me vir buscar. Há um certo conforto no sentido de que, se houver alguma coisa para além do nosso fim físico, temos quem nos acompanhe. Se for mesmo o fim, é pensar que também não estava em parte nenhuma antes de nascer, por isso não tem importância”, justificou.
Com uma carreira de quase 50 anos, Cucha orgulha-se do seu percurso, mas dispensa falar da importância que o seu trabalho possa ter para as gerações vindouras. “Nunca encaro o trabalho como um legado, o teatro é uma coisa efémera. Claro que me alegro se ouvir as pessoas dizer que uma determinada peça as marcou, mas o que quero deixar aos meus sobrinhos e sobrinhos-netos é o exemplo de honestidade, seriedade e os valores em que acredito… mais do que os prémios. É um património pelo qual lutei, por situações justas e espetáculos bonitos, que fala de coisas interessantes para as pessoas pensarem, mas que também console e divirta”, declarou a atriz.
Salientando a sua tomada de decisões conscientes, refere: “Aquilo que tenho feito na vida e na carreira são escolhas de acordo com aquilo que sou, penso e quero ser. Não me deixo vencer pelas adversidades, com ou sem trabalho. Tenho ferramentas que me permitem fazer várias coisas, dar aulas, fazer traduções… Ocupo-me muito a fazer aquilo que me apetece!”