Numa conversa inédita entre pai e filho no programa Júlia, na SIC, Guilherme e José Castelo Branco fizeram uma viagem ao passado, na qual o filho do marchand d’art revelou como a excentricidade e a sexualidade do pai condicionaram a sua adolescência. Mas sempre de olhos postos no futuro porque para Guilherme, de 33 anos, há uma única certeza: “Houve uma fase que andei mais fragil porque estava na fase de crescimento mas se não fosse isso não era a pessoa que sou hoje.”, assume.
“Com ou sem boneco?” pergunta José Castelo Branco ao filho antes de darem início à conversa. Guilherme Castelo Branco responde “sem boneco”, ou seja, o mais transparente possível. Sempre num registo muito tranquilo, assumiu que foi vítima de bullying na escola por causa dele e recordou alguns episódios especiais e num deles, admitiu que se afastou do pai:
“Afastei-me propositadamente quando apareceu pela primeira vez na revista CARAS vestida de Tatiana Romanov. Cheguei à escola e tinha capas da revistas espalhadas por todo o lado. senti como uma ofensa do pai para mim”, reconhece, para acrescentar logo de seguida: “Depois percebei que era muito novo, fiquei muito magoado e fiquei perto de três meses sem falar consigo. Afastei-me , assimilei…”, assegura.
José Castelo Branco apressa-se a pedir desculpas. “Não tem de pedir desculpa, fazia parte do percurso”, justifica Guilherme perante o pai, que não esconde a dualidade dos papéis:
“Acho que a nossa relaçao… às vezes penso que será que o meu filho é o meu pai? Às vezes tem atitudes comigo de uma responsabilidade tão grande, chama-me à atenção nos momentitos em que não sei se estou ou não a ser um boneco, e o menino é mais pai do que filho. Por outro lado, é filho porque tenho um grande sentido de proteçao em relação a si, à tia Betty e à Constança”, reconhece referindo-se à mulher com quem partilha a vida há quase 30 anos, e à neta, Constança, de dois anos, que foi batizada recentemente.
Guilherme lembra-se também da estranheza que o pai lhe causava quando, em criança, o via maquilhar-se e percebia que não era igual aos outros pais, e pergunta se a mudança do pai aconteceu de forma gradual porque acreditava que o filho precisava de tempo, ou se ele próprio é que precisava de tempo para se aceitar como era? “Acho que foi o tempo [necessário] dos dois”, reconhece José Castelo Branco.
A dada altura da conversa, Guilherme precisa de saber como é que o pai reagiu ao seu nascimento e se ser pai tinha sido sempre a sua vontade. “Eu não queria ser pai, sei que vou magoá-lo mas não queria ser pai”, admite, “Tinha muito medo, enquanto Tatiana tomei muitos hormonas e tinha receio que isso pudesse afetar. Interiormente fiquei assustado quando soube que a sua mãe estava grávida. Foi difícil, fui assimilando e quem me deu força para encarar a paternidade foi o padre Fernando”, acrescenta. Mas logo depois não esconde o que o filho trouxe à sua vida:
“Aceitar o seu nascimento foi muito cmplicado para mim, era muito novo também, tinha 22 anos… Comecei a amá-lo . Queria tudo menos um rapaz, mas tive sorte de ter tido um rapaz. Tenho muito orgulho de si, o momento mis mágico foi o dia em que nasceu, nunca chorei tanto, tanto”, assegura, emocionado.
Guilherme reconhece também que, apesar de ter vivido sempre com a mãe e o padrasto, o “pai sempre fez questão de estar presente, estar presente na minha vida era fundamental para si”. E de imediato, José Castelo Branco justifica: “Nunca quis que você sentisse o que eu senti: ausência de pai, O seu avô Francisco foi meu avô, não foi pai”, acrescenta.
Já quase no final da conversa, José Castelo Branco quer saber mais soube os episódios de bullying e Guilherme recorda um episódio em que o encostaram à parede, que bateu com a cabeça na parede, mas que preferiu não reagir fisicamente. Recordou ainda as vezes em que “chegava muito abalado (…) fechava-me na casa de banho e chorava, questionava-me porque tinha de passar por isto, porque é que não me respeitam…”.
Mas logo de seguida conta como deu a volta: “Aprendi a lidar com as situações por mim, Embora o pai estivesse presente, o tio Luís estava mais e ele foi fulcral, ensinou-me a racionalizar muitas coisas, aprendi a lidar com as situações e fui ficando cada vez mais forte ao longo dos anos. Permito-me ter falhado porque era tão novo.”, reconhece.
José Castelo Branco volta a pedir desculpas ao filho por “sem querer, o ter afetado dessa forma negativa”. Mas Guilherme elogia o pai pelo caminho difícil e solitário que cruzou para ser quem é:
“A vida foi-me ensinado a lidar com as situações e o facto do pai ser quem é, a falta de medo de ser quem é, ensinou-me que não podemos ter medo de ser quem somos, que temos de respeitar e aceitar-nos como somos. Percebi que fazia mal a si próprio por impor uma realidade para um país tão pequenino. O pai está a fazer o que as pessoas na altura não faziam, temos de ser quem somos, se formos verdadeiros connosco próprios, essas coisas aontecem menos.”, reconhece.
Mostra-se orgulhoso do pai e não esconde que o país lhe deve algo mais: “Em Portugal, às vezes, são mal agradecidos porque não veem as portas que o pai abriu. o pai tem muitas maluqueiras mas o pai abriu as portas para ser quem eram… Ao longo do tempo, percebi as pessoas falam e temem o que não sabem e acabam por ser más. Aos 16 comecei a ter outra perspetiva. As pessoas que me gozavam eram as mesmas que me bajulavam e a quem chamo amigo, são irmãos. se alguum dia ficar mal, sei que elas não me falham. Agradeço a Deus ser filho de pais separados”, termina para depois beijar carinhosamente o pai.