Tirou o curso de Restauro de Metais, mas começou por trabalhar no restaurante dos pais, onde esteve até o namorado, que mais tarde se tornaria seu marido, Francisco Azevedo, a convencer a mudar de vida e de país. Foi em Southampton, Inglaterra, que, enquanto o marido tirava o curso de Arquitetura Naval, Catarina Vassalo começou a vender as suas primeiras peças de bijuteria. Mais tarde, os dois foram viver para Valência, Espanha, onde Catarina teve duas lojas que vendiam todo o tipo de acessórios. Foi aí que começou a experimentar fazer toucados, um acessório usado sobretudo em penteados de noivas. O primeiro exemplar, recorda, foi vendido no dia do casamento de William e Kate Middleton. De regresso a Portugal, Catarina abre o seu ateliê em Sintra, onde nasce a Cata Vassalo, marca conhecida por produzir manualmente peças únicas, “alinhadas com o conceito de slow fashion, que permitem dar voz à identidade e sonhos de cada mulher portuguesa”, defende a designer e empreendedora, de 40 anos, que parece já ter transmitido às filhas, Mia e Emma Azevedo, de 11 e oito anos, respetivamente, a paixão pelo mundo da bijuteria.
– Acha que teria tido o mesmo sucesso se tivesse ficado em Portugal em vez de ter ido para Inglaterra e para Espanha?
Catarina Vassalo – Acho que não. Aliás, as minhas filhas já dizem que querem trabalhar aqui e eu digo-lhes sempre que, primeiro, têm de ir viver para fora. Acho muito importante passarem por essa experiência, sobretudo para poderem dar valor àquilo que temos no nosso país.
“É muito difícil começar uma marca, e eu tive de o fazer três vezes, mas depois ficamos com mais garra, com vontade de fazer mais e melhor.”
– Foi importante ter crescido profissional e pessoalmente no estrangeiro?
– Foi. É muito difícil começar uma marca e eu tive de começar três vezes o meu negócio. Primeiro em Inglaterra, depois em Espanha e mais tarde aqui. É difícil, mas depois a pessoa fica com mais garra, com vontade de fazer mais e melhor.
– As suas filhas já demonstram, então, vontade de seguir este negócio?
– Ainda esta manhã foi a nossa conversa no carro. Claro que gostava muito que elas trabalhassem aqui. Aliás, estou só a começar um caminho, que tem sempre pernas para andar.
– E o sucesso da marca é apenas uma questão de criatividade ou fruto de muito trabalho?
– É sobretudo criatividade, o resto vem por acréscimo. Tem é que se estar bem rodeado, com as pessoas certas ao nosso lado, caso contrário não conseguiria chegar aqui.
“Gosto de saber que estou a dar às mulheres ferramentas para crescerem.”
– Tem já uma equipa grande e, pelo que percebi, é 100% feminina. Ser mulher é um requisito para entrar nesta empresa?
– Já foi. Gosto de saber que estou a dar às mulheres ferramentas para poderem crescer. Contudo, neste momento já estamos abertas a trabalhar com qualquer pessoa que se queira juntar à equipa.
– Acha que as suas filhas herdaram a sua veia criativa?
– Completamente. Quem me dera ter tido as possibilidades que elas têm de ter um contacto muito próximo com todo este meio. A Emma tem oito anos e já costura na máquina de forma completamente independente. A Mia desenha como eu nunca desenhei, faz imensos trabalhos em missangas também. Estão as duas muito bem encaminhadas.
– A continuidade da empresa parece estar então assegurada.
– Sim. O sonho de fim de semana para todas nós é passar o dia em casa a fazer trabalhos manuais.
– Acha que as portuguesas precisam de ser um bocadinho mais vaidosas, como são as espanholas?
– Não, acho que as portuguesas estão no sítio certo neste momento.
– De que forma é que esta marca se distingue das concorrentes?
– Não encaro as outras marcas como concorrência, porque acho que há mercado para toda a gente.
– Mas o que é que a diferencia? Qual é a assinatura?
– É o facto de todas as peças serem feitas manualmente e, por isso, serem peças únicas.
– Não dá por si a olhar para as mãos e orelhas das pessoas que a rodeiam para perceber que peças estão a usar?
– Não [risos]. Eu desligo mesmo. É um exercício, a pessoa tem que aprender a fazê-lo, mas é muito difícil. Eu consigo. Mais depressa está o meu marido, quando entramos num restaurante, por exemplo, a ver se alguém tem uma peça Cata Vassalo.
“Acho que não existe uma joia certa. Hoje podemos gostar de penas e amanhã estamos a usar flores…”
– O que é que é importante uma mulher saber para poder escolher a joia certa?
– Acho que não existe uma joia certa. Hoje podemos gostar de penas e amanhã estamos a usar flores… Gosto de pensar que as pessoas evoluem, que começamos muito timidamente e depois podemos ir arriscando.
– Defende que podemos usar qualquer tipo de joia?
– Muitas vezes os clientes chegam a dizer que querem levar uma peça pequena e muito simples e acabam por levar duas grandes e até arrojadas. Nada é só para os outros.
– No seu guarda-joias tem apenas peças com a sua assinatura?
– Sim. Na verdade, não uso quase nada no meu dia a dia. Uso apenas um smartwatch, a aliança e uns anéis que fiz.
– Não deixa de ser uma montra do seu trabalho…
– Claro, mas uso também porque gosto de tudo o que faço.
– Nunca teve medo de crescer e arriscar?
– Não penso muito para além daquilo que estamos a fazer no momento. Não sou pessoa de ter megaplanos de até onde quero chegar. Vou deixando tudo fluir. Acho que é mais saudável. E não tenho medo nenhum de trabalhar a fazer o que gosto.
– O que é que um acessório, como uns brincos, uma pulseira ou um toucado, pode trazer à pessoa que o usa?
– Confiança. É só fazer o exercício de experimentar pôr um blazer e um top, como estou hoje, sem os brincos. Mal os coloca, fica logo outra. Dá logo outro empoderamento.