Paul Benjamin Auster morreu ontem, dia 30 de abril, aos 77 anos, rodeado pela sua família, na sua casa em Nova Iorque. O autor de obras como A Trilogia de Nova Iorque, Música do Acaso, Leviathan, e Mr. Vertigo, entre outras, não resistiu a um cancro do pulmão. A notícia foi avançada pelo The New York Times e confirmada por pessoas próximas do escritor .
Nascido em Nova Jérsia no seio de ma família judia, veio a conhecer a sua primeira mulher, Lydia Davis na Universidade de Columbia, onde estudou. A também escritora é mãe do seu filho mais velho, Daniel, que morreu em 2022, com 44 anos, depois de ter sido acusado de matar a própria filha. O romancista tinha mais duas filhas, Sophie, e Janet, fruto do atual casamento com Siri Hustvedt, que em março de 2023, através do Instagram, deu a conhecer a condição de saúde do escritor:
“Tenho estado ausente do Instagram há algum tempo. É porque o meu marido foi diagnosticado com cancro em dezembro, depois de ter estado doente durante vários meses antes disso. Ele está agora a ser tratado e eu tenho vivido num lugar ao qual chamo Cancerland. Muitas pessoas atravessaram as suas fronteiras, seja porque elas próprias estão ou estiveram doentes ou porque amam alguém, um pai, filho, cônjuge, ou amigo que tem ou teve cancro. O cancro é diferente para cada pessoa que o tem. Todos os corpos humanos são parecidos e não há dois iguais. Algumas pessoas sobrevivem e outras morrem. Isto todos sabem, e no entanto viver perto dessa verdade muda a realidade quotidiana.“, podia ler-se num longo texto.
Apesar de ter nascido do outro lado do Atlântico, Paul Auster, conhecido pela sua ficção pós-modernista estilizada, teve uma carreira de enorme sucesso na Europa. Venceu o Prémio das Astúrias de Literatura 2006, recebeu a designação de Comendador da Ordem das Artes e das Letras de França em 2007 e era membro da Academia Americana de Artes e Letras e da Academia Americana de Artes e Ciências.
Mal se soube da sua morte, foram muitos aqueles que recorreram às redes sociais para lhe prestar homenagem, agradecer e reconhecer a influência da sua obra nas suas vidas.
‘A certa altura, parei de o ler. Algures no princípio do novo século o feitiço desfez-se, e só retomei mais tarde, muito mais tarde, quando o fim já se anunciava. Olhando para trás, não me arrependo de o ter deixado, mas não deixo de me perguntar todos os dias o que teria acontecido se tivesse feito diferente’. Este é um parágrafo ‘austeriano’. Escrevi-o agora mesmo, assim que soube da morte de Paul Auster, o escritor mais influente na minha vida literária entre os 15 e os 25 anos. É verdade que a certa altura deixei de o ler, retomando com 4 3 2 1. Nenhum dos livros mais actuais, contudo, teve em mim o impacto de O Palácio da Lua, A Música do Acaso, A trilogia de Nova Iorque, Leviathan ou Mr Vertigo: Auster foi um escritor único e incrivelmente original, e o que os críticos lhe apontavam eram precismente o que fazia dele um autor tão fascinante: ser ele mesmo, com todas as forças e fragilidades do ser humano. Foi o último autor que me fez ler até às quatro da manhã à luz de uma lanterna em dia de escola, e estou-lhe eternamente grato. Boa viagem Mr Auster.”, escreveu João Tordo.
“Antes de ir a NY, NY era o Paul Auster (como era Paul Simon e central park). Há uns 20 anos entrevistei-o, no terraço do Altis, com vista para a Cinemateca. Antes de gravar, já não sei porquê, disse-lhe que não guardava nada; respondeu que isso ia mudar com os anos. Tinha (alguma) razão. Continuei a lê-lo, fascinada com uma cena de um livro onde um homem reconstruía o seu mundo, com minúcia e paciência, até faltar uma peça, que era obviamente ele. Faltamos sempre nós. E agora falta ele, de faltar mesmo, ainda que, ao mesmo tempo, não: porque um escritor nunca falta. (E aqueles olhos-faróis…)”, recordou Anabela Mota Ribeiro.
Baumgartner, o seu último livro, editado pela Leya, foi escrito precisamente enquanto travava a luta contra o cancro e fala sobre a beleza e a tragédia da vida. O seu lançamento mundial aconteceu precisamente em Portugal, em outubro último.