Beatriz Rubio, de 58 anos, nasceu e cresceu em Saragoça, Espanha. Há mais de três décadas mudou-se para Portugal com o marido, Manuel Alvarez, de 60, e já não se imagina a viver em mais nenhum lugar do mundo. Aqui nasceram os três filhos, Marta, de 28 anos, Patrícia, de 26, e Manuel, de 18, e em breve nascerão os primeiros netos, já que ambas as filhas estão grávidas.
Economista e a maior empresária na área do imobiliário no nosso país, dona da RE/MAX e de outras empresas, foi recentemente agraciada pelo rei Felipe VI com a Ordem de Isabel a Católica, uma homenagem que partilha com o marido, sem o qual nunca teria vivido esta aventura.
A família recebeu-nos no Casal de São Roque, um antigo forte de Cascais convertido numa maravilhosa casa que se abre sobre o mar, e Beatriz conversou com a CARAS sobre o passado e o futuro que está a chegar.
– Que significado tem para si ter sido distinguida com o grau de grã-mestre da Ordem de Isabel a Católica pelo rei Felipe VI?
Beatriz Rubio – É uma grande honra, que vem na sequência do trabalho que eu e o Manuel desenvolvemos há mais de 20 anos em Portugal. Nesta altura, entre as nossas quatro empresas, temos cerca de 15 mil pessoas a trabalhar connosco nas mais variadas áreas. Somos muitos. É um grande feito e orgulhamo-nos muito deste caminho que começou só com os dois.
– Como é que gerem empresas tão grandes?
– A cabeça de tudo isto é o Manuel. Por isso é que digo sempre que tenho muito orgulho em ter recebido esta medalha, mas acho que ele a deveria ter recebido comigo. Não sou só eu a criadora deste projeto, existe um trabalho de equipa. A visão de tudo é muito do Manuel. Depois, então, chego eu para pôr em prática e implementar as ideias. Ninguém me ganha em proatividade e a equipa é feita à minha medida.
– Com o Manuel assumiu um projeto de vida, que também é um projeto profissional.
– É verdade. Temos estas duas uniões. Não é fácil, mas não faríamos de outra maneira.
– São casados há quantos anos?
– Estamos casados há 33 anos e temos nove de namoro. Era muito nova quando comecei a namorar com o Manuel, ainda andava na escola. E estamos tão felizes juntos como nessa altura.
– Qual é o segredo para manter uma união tão firme em todas as frentes?
– O segredo é dar liberdade à outra pessoa. Quando éramos casados há pouco tempo, entrei num master muito conceituado em Espanha, em que havia oito mulheres e 60 homens e fui para Barcelona com total apoio do Manuel. Ele estava a viver em Madrid, eu estava em Barcelona, e tudo correu bem. O segredo é, por um lado, a liberdade, por outro, acreditar muito um no outro. E depois tem de haver muito respeito. Podemos não concordar e até refilar em casa, mas se um toma uma decisão, está tomada. O trabalho também fica fora de casa e passamos a ser só a família. A verdade é que como casal coincidimos em muitas coisas. Até desporto fazemos juntos. Ao longo destes anos temos tido sempre objetivos de vida em comum e isso é maravilhoso.
– O maior é a família que construíram?
– Sem a menor dúvida! Se me pergunta qual o maior feito que tenho na vida, a resposta é a minha família. Já diz o ditado popular que “o dinheiro não compra tudo”. O amor e o carinho da família é impagável e não comparável a nada na vida.
– Tem três filhos. Trabalham convosco?
– Não todos. O mais novo está a estudar em Boston. É provável que venha a trabalhar connosco, ele decidirá. A Marta é médica, foi o que sempre quis fazer na vida, e a Patrícia, sim, trabalha connosco no marketing. Sempre disse que as empresas são um sonho do Manuel e meu. Se algum filho quiser continuar, será maravilhoso, mas se não quiserem, também aceitamos bem. Passamos 80% da nossa vida no trabalho, os anos mais maravilhosos, portanto temos mesmo de gostar do que fazemos, senão é uma tortura. E tudo o que quero é que sejam felizes.
– O que os levou a mudarem-se para Portugal?
– Sou de Saragoça e o Manuel de Mérida, alentejano, como digo, porque há muitas semelhanças entre as duas terras, e chegámos aqui quando ele veio para montar os negócios de franchising do grupo DIA. Como eu estava na L’Oréal, pedi para mudar para Portugal também. Vínhamos para ficar três anos, depois as empresas para as quais trabalhávamos renovaram para mais três e fomos ficando. Ao fim de seis anos, convidaram o Manuel para ir para a China e foi aí que decidimos ficar e montar um negócio nosso. Já tínhamos tido uma pequeno negócio durante a Expo’98. Comprámos o terreno mais feio, que era o mais barato e o único que podíamos pagar, e montámos um parque de cabanas. Foi uma aventura maluca, que nos deu um dinheirito e que nos fez pensar a sério se nos podíamos meter em algo maior e sermos bem-sucedidos.
– Foi aí que surgiu a ideia de se dedicarem ao imobiliário?
– Sim, pensámos na RE/MAX, estudámos a empresa e avançámos. O Manuel aventurou-se no projeto e eu mudei-me para a Jerónimo Martins, pois alguém tinha de manter um vínculo para haver alguma segurança monetária. Nessa altura já tínhamos as duas filhas.
– Quando vieram por alguns anos, imaginaram que iriam acabar por ficar?
– Nunca imaginámos que ficaríamos. Era só uma passagem, mas estamos cá há 31 anos. Só posso estar agradecida a Portugal por tudo o que nos deu.
– Adaptaram-se com facilidade a viver num país diferente?
– Muito bem, desde o início. A nossa ideia era ter uma experiência internacional, mas Portugal acabou por se tornar casa. Fizemos o nosso grupo de amigos e adaptámo-nos muito bem.
“Se vais viver para outro país, tens de te entregar. É fundamental.”
– Os filhos nasceram cá ou optou pelo nascimento em Espanha?
– Nasceram cá os três. Ir tê-los a Espanha nem sequer foi uma hipótese que tenha posto. Se vais viver para outro país, tens de te entregar. É fundamental para assumir que se está inteiro nesse país. É preciso desfrutar do que se está a viver. E a verdade é que gostámos tanto de cá estar que ficámos. Tem sido uma aventura maravilhosa.
– Nunca pensou em voltar para Espanha?
– Não. Já não volto para Espanha. Depois de todos estes anos cá, defino-me como um bacalhau com natas. A expressão que uso tem a ver com o facto de já não ser só de Espanha nem ser só de Portugal. Sou uma grande mistura. Vamos ficar a viver aqui para sempre. A minha vida está feita aqui. Mais de metade da minha vida foi passada em Portugal. Já disse em casa que me vou reformar, mas não me vejo sem fazer nada. Irei à empresa dar as minhas ideias, embora queira cuidar mais de mim. Só este ano consegui começar a fazer Pilates.
“Não me arrependo nada. Gosto muito do que faço. Dá-me vida. Se alguma coisa ficou para trás, fui eu, mas nunca me incomodei.”
– Foi sempre uma vida de muito trabalho. Arrepende-se de não ter tido mais tempo para si?
– Não me arrependo nada. Gosto muito do que faço. Dá-me vida. Se estivesse em casa todo o dia, se calhar já não tinha nem marido, nem filhos, nem empregada. Toda a gente se tinha afastado, porque sou muito intensa, tenho muita energia, em algum sítio tenho de a deixar. Se alguma coisa ficou para trás, fui eu, mas nunca me incomodei com isso. Se não podia fazer nuances num dia, podia noutro.
– Sente-se preparada para iniciar uma nova etapa com a chegada dos netos?
– Estou completamente preparada e muito feliz. Já levei a minha bicicleta e a do Manuel para colocarem as cadeirinhas de bebés, pois a partir dos quatro meses vamos andar a passeá-los. Vem aí um menino e depois uma menina. E eu quero aproveitar. Mais uma vez, digo, é muito importante desfrutar do que se está a viver, sempre. Foi muito engraçado elas terem ficado grávidas ao mesmo tempo. Os meninos vão ter três meses de diferença, vão crescer juntos. Agora, sim, vou limitar o tempo de trabalho e irei todos os dias buscar os meus netos ao colégio. Vou aproveitar bem esta nova fase, desfrutar dos bebés e ainda mais de toda a família.