Dedicada a vários projetos de televisão nos últimos tempos, com destaque para as séries Senhor Rui, Um Homem do Povo, A Filha e Faro, que acabou de gravar recentemente, Sara Barradas, de 33 anos, está de volta ao teatro com a peça Se Acreditares Muito, em cena no Teatro da Trindade. Ao lado de Diogo Martins, com quem se estreou quando tinha apenas 10 anos, a atriz vive uma “montanha-russa de emoções” ao interpretar uma mulher que perde o filho no dia do parto e fica entregue a uma dor profunda. Ela que é mãe de Lua, de 5 anos, do casamento com José Raposo, e que sente que a filha a torna uma pessoa melhor.
– Enquanto mãe, este papel marca-a de uma forma diferente?
Sara Barradas – Inevita-velmente. A maternidade une-nos, mas, independentemente disso, gosto sempre de me colocar no lugar das personagens e pensar no que faria se fosse eu. Muitas vezes, não seria a mesma coisa. Claro que aqui o facto de ser mãe ajudou a criar um laço maior com a personagem, Alex, pois mais facilmente consigo imaginar a situação. Portanto, é fácil, mas doloroso, imaginar essa dor a que empresto todas as minhas emoções. É uma história dramática, intensa. Acabamos a peça destruídos.
– Quando leu o texto, qual foi o seu primeiro pensamento?
– Gostei logo muito. Gosto de textos densos e achei que era um grande desafio, uma montanha-russa de emoções, uma coisa bastante vertiginosa e um exercício só para dois atores e isso apaixonou-me logo. Depois, foi sendo, e ainda é, uma descoberta diária, pois todos os espetáculos são diferentes. Li o texto e fiz logo uma projeção do que seria viver este espetáculo, ainda por cima com o Diogo Martins ao meu lado.
– Este reencontro com o Diogo Martins, que faz de seu marido, foi perfeito para a peça?
– Foi, até porque era um desejo de ambos trabalharmos juntos. Quando fizemos a novela Amanhecer estávamos a começar. Éramos duas crianças a realizar um sonho, a dar os primeiros passos na representação. Podíamos nem ter seguido esta carreira, mas seguimos e é muito interessante ver o percurso bonito que temos feito. Admiro o Diogo e sei que ele também me admira. Podermos estar juntos em palco, com a maturidade e experiência que já adquirimos, sem os artefatos da televisão, é maravilhoso. Desde o primeiro dia que nos temos apoiado muito um no outro.
– A sua personagem é histriónica e impulsiva. Revê-se em alguns dos seus traços de personalidade?
– Revejo-me um bocadinho nalguma espontaneidade que ela tem, na assertividade com que diz as coisas, na intolerância dela, porque às vezes também sou intolerante.
– Em que circunstâncias sente que é intolerante?
– Quando trabalho, não gosto de sentir que as pessoas que estão ao meu lado não são profissionais ou não têm competência. Também sou intolerante perante certas injustiças. Às vezes, reajo a quente, mas estou muito melhor, pois esses ímpetos vão-se atenuando com o passar do tempo. A idade traz-nos uma calma, uma sabedoria, uma capacidade para lidar com determinadas coisas que não temos quando estamos nos 20 anos.
“Ser mãe é das melhores coisas que nos podem acontecer quando queremos e eu queria muito. Mas também é muito duro, difícil, um desafio constante.”
– De que forma se vê como mãe?
– Com a Lua tenho feito uma viagem incrível. Ser mãe é mesmo das melhores coisas que nos podem acontecer quando queremos e, no meu caso, queria muito. Mas também é muito duro, difícil, um desafio constante, um duvidarmos de nós próprias, estarmos sempre com medo do que vai acontecer àquele ser que depende de nós, se as nossas escolhas vão mexer com o futuro daquela criança. Quando somos mães ou pais, voltamos à criança que fomos. Há sempre coisas que temos mal resolvidas, todos nós. Nenhuma vida é perfeita. A perfeição não existe e a maternidade deixa-nos, muitas vezes, inseguras. Tentamos sempre melhorar, ser uma melhor versão do que fomos ou de que foram para nós. Portanto, vejo-me nesse desafio constante, sem falar em todas as mudanças físicas pelas quais as mulheres passam, todas as provações.
– A maternidade é amor, mas também é um processo duro.
– Sim. Há fases muito duras, e ou se quer mesmo muito, ou não vale a pena. Não vale a pena sermos mães porque a sociedade nos diz que é normal procriarmos. Cada vez mais temos de cortar com essa ideia. Aliás, neste planeta já somos demais. Mas, no meu caso, tem sido uma ótima experiência e estou muito feliz. Tenho a certeza de que a Lua faz de mim uma melhor pessoa, faz com que esteja sempre a ver onde estão os meus defeitos e as minhas falhas, pois não quero passar-lhe isso. Quero que a minha filha seja melhor do que eu.
“Olho para a minha filha e sei que é uma sortuda. Não lhe falta nada.”
– Tem uma relação sólida com o José Raposo e uma família que parece um clã. Sente que a sua filha cresce de uma forma privilegiada?
– Sem dúvida! Há uma harmonia muito grande e ela é seguramente uma criança sortuda. Basta vermos o que se passa no mundo, com estas guerras que provocam tanto sofrimento nas crianças. Olho para a minha filha e sei que é uma sortuda. Não lhe falta nada. Tem comida, casa e amor dos pais, dos avós, dos irmãos. Tem uma família, uma estrutura. A Lua é abençoada e Deus queira que possa ser sempre. É o que queremos para os nossos filhos.
– É tempo de ver a Lua crescer e concentrar-se na carreira ou pensa ter mais filhos?
– Confesso que não faço planos nesse sentido. Para já, estou focada na carreira e na minha filha, e muito feliz. A Lua está numa fase muito gira. Faz-me perguntas novas todos os dias, há sempre uma palavra que descobre, está a crescer imenso, a dar um grande salto, quer saber tudo e eu tento estar todo o tempo que posso com ela.