Provavelmente, o nome Joana Anes não é muito familiar, mas se falarmos na determinada e enigmática Mia da série juvenil Rebelde Way, que estreou há mais 15 anos na SIC e está neste momento a ser resposta na plataforma Opto, o cenário talvez mude de figura. Depois do enorme sucesso do projeto, a artista, agora com 40 anos, passou por uma fase de crescimento e aceitação pessoais, trabalhou como bartender em cruzeiros, lançou-se como DJ, com o nome artístico Swami, mas a pandemia trocou-lhe as voltas e decidiu emigrar: há quatro anos foi viver para a Suíça, onde neste momento é barmaid num hotel de luxo na zona de Crans Montana. É aqui que dá asas às suas ideias musicais, pois também é uma das cantoras residentes da unidade, e pratica outra das suas paixões, o snowboard, uma vez que trabalha junto a uma estância de esqui.
Os únicos pedaços que ligam tudo lá atrás são a música, da qual nunca se separou, e a vontade de voltar à representação, como nos contou numa tarde soalheira de primavera na zona de Oeiras.
– Passaram mais de 15 anos desde que fez a Rebelde Way. Como é que descreve o seu caminho até aqui?
Joana Anes – De aventura, de viagens bonitas, mas nem sempre fáceis. A decisão de me afastar da representação, televisão e entretenimento foi pessoal, mas essa escolha provocou-me, a dada altura, algumas dificuldades. Neste momento trabalho em hotelaria e toda a gente do meio sabe que é pesado.
“Fui para a Suíça com o objetivo de juntar dinheiro para fazer o meu álbum, porque agora sei o que quero.”
– Mas continua a cantar.
– Sim! Fui para a Suíça com o objetivo de juntar dinheiro para fazer o meu álbum, porque agora sei o que quero.
– Fez as pazes com o passado?
– Não tinha tudo bem resolvido. Esta reposição da Rebelde vem numa altura curiosa porque, para eu chegar ao ponto de saber o que quero e apesar de não ter as pazes todas feitas, fiz as mais importantes.
– O que é que mexia mais consigo?
– Talvez o afastamento abrupto que fiz do meio. Na altura não sabia bem do que precisava, mas sabia que tinha de descobrir a minha linguagem. Comecei muito cedo e direcionei muito a minha carreira para o lado da imagem, por isso eu própria não sabia qual a essência que queria colocar no meu trabalho. Quando me afastei não tive noção de que podia arrepender-me e que as minhas características pessoais poderiam dificultar o meu regresso.
– Tem saudades de representar?
– Muitas, gostava muito de regressar, mas faz sentido fazer outras coisas, mais atuais e à medida deste avanço tecnológico por que passamos. Por exemplo, tive uma experiência na música eletrónica que adoraria poder explorar.
– Há muita nostalgia quando vê imagens da série?
– Imensas, até porque há uma certa energia que pus na personagem que é interessante. Às vezes dou por mim a tentar encontrá-la, é muito engraçado. Deixa-me supernostálgica.
– Era ingenuidade própria daquela idade?
– Completamente, mas a maturidade trouxe-me outras coisas boas. Agora consigo olhar para trás e perceber o porquê de algumas escolhas, boas e más.
“Sendo muito honesta, uma das críticas que apontava era uma arrogância do meio, que percebi depois que era minha. Isso deu-me grandes lições de humildade.”
– A sua vida mudou para melhor?
– Não posso dizer isso… sendo muito honesta, uma das críticas que apontava era uma arrogância do meio, que percebi depois que era minha. Isso deu-me grandes lições de humildade, o que me tornou uma pessoa melhor.
– Este ar mais gótico reflete a verdadeira Joana?
– A 100%! Tenho 40 anos, sei assumidamente que não aparento a idade que tenho e sempre tentei manter uma irreverência que está inerente à minha personalidade, que às vezes não consigo ter na relação com as pessoas. Sou bastante tímida e reservada e a minha forma de vestir é muito expressiva.
– Melindra-a o facto de as pessoas estarem sempre a recordar a Mia?
– Não, de todo. Isso dá-me a certeza de que fiz algo bem feito. Deixei uma marca, é muito positivo, e isso traz responsabilidade. Acho que a minha arrogância foi o manter esse papel e essa responsabilidade perante os jovens.
– Vê-se como bartender para o resto da sua vida?
– Não. Não consigo ficar muito tempo a fazer o mesmo e em quase todos os sítios onde trabalho acabo por dar uma série de ideias de como melhorar várias coisas. Acabo por desenvolver projetos, como está a acontecer agora no hotel onde trabalho, em que vou ter um canal interno relacionado com música. Sou uma mente inquieta.
– Já foi casada uma vez. Tem vontade de reencontrar o amor?
– Estou bem agora. Depois de me divorciar [de Tiago Claro], tive algumas relações complicadas. Neste momento acredito no amor, mas mais em companheirismo e respeito, em encontrar alguém que de facto encaixe na minha vida e acrescente.
“A idade faz questionar a maternidade, mas com a ciência e a medicina tão evoluídas ainda espero ter tempo.”
– Ser mãe faz parte dos seus planos?
– Sempre fez. Há uns anos, tive uma gravidez que não correu bem, foi interrompida naturalmente, quando ainda era casada. Depois disso, não voltou a acontecer. Claro que a idade faz questionar essas coisas, mas com a ciência e a medicina tão evoluídas ainda espero ter tempo.
– O que é que a move?
– A música e uma grande vontade de marcar a diferença como um alerta para ver coisas que nem todas as pessoas são capazes de ver. Sei que tenho essa capacidade e já não sinto que seja arrogância. Quero conseguir partilhar ao máximo a minha visão.
– O que gostava de fazer neste momento?
– Adoro a ideia de não me focar só numa área artística, porque passei por várias. Gosto muito do trabalho conceptual, de misturar a música com a fotografia e a dança. Um dos meus objetivos é juntar as várias pessoas que conheci e admiro e poder criar.