Quando contou aos pais que ia abdicar do seu emprego seguro no programa das manhãs da estação de Queluz de Baixo para seguir a sua verdadeira ambição profissional, disseram-lhe que só podia estar louca por estar a pôr de lado aquilo que era o sonho de tanta gente: trabalhar em televisão. Só que muito mais do que a visibilidade pública e o dinamismo das reportagens, era a paixão pelas viagens que preenchia Catarina Duarte, de 43 anos. Por isso, há seis anos lançou-se nesse desafio, em grande parte graças à apresentadora Cristina Ferreira, de quem é muito amiga e que foi quem mais a incentivou a abrir o seu próprio negócio.
– Como é que começou esta aventura de abrir uma empresa de viagens?
Catarina Duarte – O ponto de partida foi o enorme prazer e a grande paixão que tenho por viajar. Quando comecei a trabalhar na TVI, onde estive 13 anos, tomei o gosto pelas viagens. Eu e um colega meu estávamos sempre de malas feitas e a planear a próxima aventura. Trabalhava muito e acumulava folgas para depois ir para fora durante um mês. Por volta de 2016, decidi criar um blogue, o Free Mind Travel, onde contava as minhas viagens. E tudo começou aí. Mais tarde, tirei uma licença sem vencimento e acabei por deixar a televisão para me dedicar a este sonho a 100%.
– Fale-nos um pouco do seu percurso profissional, antes de se iniciar na área do turismo.
– Licenciei-me em Comunicação Social com especialização em jornalismo na Escola Superior de Educação, em Setúbal. Durante o curso fiz dois estágios no Correio da Manhã, na parte da agenda, e tinha como funções ligar para os bombeiros, para a polícia, para saber as ocorrências. No fim do curso fiz um estágio de seis meses na SIC e estive no arranque da SIC Notícias. Entretanto, nessa altura namorava com o Luís Maia [repórter do programa Casa Feliz, da SIC], ele estava na TVI e falou-me de uma vaga no programa da manhã, o Você na TV!. Fiz a entrevista com a Júlia Pinheiro e fui contratada.
– Quando é que surgiu o click de que tinha de mudar de área?
– Em 2018 percebi que já não fazia sentido continuar a trabalhar em televisão. O que me dava mais prazer quando lá estava era organizar as viagens da Cristina Ferreira, do Manuel Luís Goucha e de outras pessoas. E foi a Cristina quem me incentivou e me deu a ideia de criar o meu negócio.
– E foi um processo fácil?
– Mais ou menos. É muito burocrático. É preciso tirar o RNAVT – Registo Nacional dos Agentes de Viagens e Turismo, pagar uma licença e depois, para termos acesso a todo o sistema de gestão, temos de contratar uma empresa especializada. Essa empresa é que negoceia com os operadores, com os hotéis, etc.
– Trabalha com todo o tipo de viagens?
– Neste momento, estou dedicada às viagens de luxo que é o que tem mais procura e o que me dá mais prazer. Adoro desenhar os itinerários, gosto de vender este sonho da viagem perfeita.
– Tem alguém a trabalhar consigo?
– Embora às vezes sinta que vou dar em maluca, porque há fases com muito trabalho, sou só eu. Porém, como não tenho horários e sou muito responsável, consigo sempre fazer tudo e conciliar perfeitamente o trabalho com a minha vida familiar e social, que é muito agitada! Quando comecei a organizar viagens ainda estava na TVI, foi de loucos. Ficava até às 5 da manhã a responder a pessoas e a fazer orçamentos. Às 6h30 já estava acordada para ir para o estúdio.
– Foi complicado mudar completamente de área profissional?
– Não foi fácil tomar esta decisão, como já disse, foi a Cristina Ferreira quem me deu força para mudar. Embora nunca tivesse tido aquele sonho de aparecer e ser reconhecida publicamente, a verdade é que deixei de lado uma carreira na televisão para me dedicar às viagens e algumas pessoas olharam para esta minha escolha com algum medo. Isto para os meus pais foi dramático, diziam-me que a televisão era o sonho de muita gente e eu estava a fechar as portas nesse sentido.
– Não teve receio de ser mal sucedida?
– Quando se tem um negócio próprio, os riscos são sempre maiores. Perder a estabilidade de um contrato de trabalho provoca algum medo. Mas sempre trabalhei, desde os meus 16 anos. Trabalhei em lojas, num supermercado, numa loja de surf, portanto, sei que se precisasse poderia voltar a trabalhar em qualquer coisa.
– Não se arrepende de nada?
– Não. Tenho a empresa há seis anos e foi a melhor decisão que tomei na minha vida, passei a ser muito mais feliz. Não é que estivesse infeliz, mas o jornalismo é muito mal pago e eu queria ter tempo para mim, para fazer as minhas coisas.
– E acaba por ter uma profissão de sonho, porque está sempre a viajar!
– Quanto a isso, é engraçado, porque agora viajo muito menos do que viajava antigamente. Fico cansada de planear as dos clientes e confesso que às vezes não tenho paciência para planear para mim. E agora, quando vou, já não gosto de ir um mês, porque sinto falta das minhas rotinas.
– Pode dizer-se que já conhece meio mundo?
– Já estive em mais de 50 países, alguns deles mais do que uma vez. Conheço muito bem a Ásia, mas uma das minhas falhas é o Japão – quero conhecer ainda este ano ou no início do próximo. Também explorei muito pouco a América Latina, tenho ido sempre para o outro lado. A verdade é que quem conhece a Ásia fica apaixonado por aquilo e há aquele receio de a América do Sul não estar ao mesmo nível.
– Que países a impressionaram mais, pela negativa e pela positiva?
– Bom, como dizê-lo sem ferir suscetibilidades? A Índia. Foi um país que gostei de visitar, mas que me esgotou. As pessoas estão sempre em cima dos turistas, agarram-nos, pedem para tirar fotos connosco. Como sou branquinha, até bebés me punham ao colo, pois acreditam que dá sorte! E depois é um país muito sujo e há muita miséria. Por exemplo, as vacas andam na rua e comem o lixo que está espalhado por todos os lados, as pessoas fazem as necessidades em qualquer lado… Enfim, o choque cultural impressionou-me. Pela positiva, surpreendeu-me a Birmânia, adorei, pela diversidade e por não ser nada turístico.
– Costuma viajar com amigos ou a solo?
– Sempre com amigos, nunca viajei sozinha. O que sinto quando viajo é que é uma experiência gira para partilhar. Há pessoas que fazem viagens a solo para se encontrarem e para pensarem na vida, mas não sinto essa necessidade, nunca senti.
– Acha que ser amiga de Cristina Ferreira potenciou o seu negócio?
– O facto de algumas pessoas saberem que somos amigas tem-me trazido muitos pedidos, muitas solicitações, mas clientes em si, não. O que acho que acontece é que as pessoas que me procuram uma primeira vez se sentem mais seguras em fazer algum negócio comigo.
“Fico envergonhada e quando pedem para tirar fotos com a Cristina [Ferreira] afasto-me.”
– Já é reconhecida na rua. Sente-se uma figura pública?
– Sou reconhecida às vezes, mas gosto de manter a minha vida muito tranquila. Foi por isso que nunca quis dar a cara quando era jornalista. Confesso que fico envergonhada e quando pedem para tirar fotografias com a Cristina, por exemplo, afasto-me. Muitas vezes, as pessoas insistem para que eu também fique na foto, mas não me sinto completamente à vontade com isso.
– Vive sozinha? Tem namorado?
– Divorciei-me há quatro anos depois de 11 de relação e não tenho ninguém. Tenho uma vida tão cheia que, apesar de não ter namorado neste momento, não me sinto sozinha. Sou superfeliz, tenho uma família que adoro, amigos espetaculares, portanto, não me posso queixar, sou uma sortuda.
– O que é que leva sempre na sua mala de viagem?
– Bom, além do computador, que é o meu instrumento de trabalho, levo sempre a escova de dentes, o meu desmaquilhante e os meus cremes e, se for para um destino de praia, muitos biquínis.
“É uma das ironias da minha vida: tenho medo de andar de avião!”
– Já apanhou algum susto numa viagem?
– Os maiores sustos que apanho são quando estou a voar. É uma das ironias da minha vida: tenho medo andar de avião! Começou a acontecer-me há 5 anos. Deve ser da idade, não sei. Tenho mesmo ataques de pânico.
“Não trago nada [das viagens], só as memórias e recordações do que vivi.”
– Tem o hábito de trazer alguma coisa quando visita um país?
– Trazia sempre um íman para mim e para a família e amigos. Mas desisti, agora não trago nada, só as memórias e recordações do que vi e vivi.
Maquilhagem: Daniela Sousa
Cabelos: Esfera Cabeleireiros
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