Nasceu e cresceu em Guimarães, numa família com mais de 100 pessoas. De todos, Catarina Moreira, de 30 anos, sempre foi a que mostrou um talento natural para comunicar. O seu sonho era chegar à televisão, o que a fez deixar a cidade natal e mudar-se para Lisboa, mesmo sem o apoio dos pais, Domingos Moreira e Maria da Dores Castro, e do irmão, João, mais velho cinco anos. Os sonhos eram para ricos, diziam-lhe. Mas a animadora de rádio da Cidade FM não desistiu de concretizar o seu.
– O que a levou a vir de Guimarães para Lisboa?
Catarina Moreira – Numa fase inicial, vim porque me candidatei a um mestrado em Comunicação Social em 2016. Meses depois, vi que havia um casting para o Curto Circuito, da SIC Radical, e participei. Era uma coisa que queria muito que acontecesse, porque sempre adorei comunicar e era fascinada pela televisão. Fiz o casting todo, mas fiquei em segundo lugar. Por um lado, foi bom, porque sem ter experiência consegui ficar bem posicionada, mas por outro foi “morrer na praia”. Assim, voltei para Guimarães, até porque era aluna bolseira e não tinha tido um bom desempenho no último semestre. Até que mandei uma mensagem ao Rui Unas, porque sempre fui fanática pelo Maluco Beleza.
– E é aí que a sua vida muda.
– Exatamente. Perguntei ao Unas se podia assistir a uma emissão e ele respondeu-me: “Parabéns pelo fizeste no Curto Circuito.” Para mim, foi uma surpresa total que me tivesse reconhecido. Andámos a trocar mensagens, até que ele me disse para vir a Lisboa. Nessa altura, trabalhava numa fábrica de têxteis e vim numa sexta-feira para não faltar muito ao trabalho. Quando cheguei, o programa tinha sido desmarcado, mas o Unas acabou por me ir buscar para me mostrar o estúdio. Fiquei uma hora e meia a falar com ele e no fim percebi que tinha sido uma entrevista.
– Que foi bem-sucedida.
– Sim. Ele disse que ia ser um “grande maluco”, que estava contratada e ia começar a trabalhar com ele três dias depois. E foi aí que tudo mudou. Confesso que nem me recordo da minha reação quando deixei o estúdio. Devo ter chorado imenso de alegria. Aquilo teve muito impacto em mim. Fui a primeira funcionária do Unas e festejámos isso. Estava a viver o meu sonho.
– Quando é que a rádio entra na equação?
– Houve uma altura em que o Unas fez mudanças no Maluco Beleza. Percebemos que, se calhar, o projeto ia ter uma pausa, que eventualmente não era viável, e há um dia em que estou no comboio para ir a casa e liga-me o diretor da Cidade FM para me contratar. O convite surgiu numa altura em que achava que o meu sonho tinha chegado ao fim, tinha sido muito giro, mas ia voltar outra vez para Guimarães.
– Foi a paixão pela comunicação que nunca a deixou desistir?
– Foi um misto de tudo: da minha paixão, de alguma sorte e de muito trabalho. Sobretudo, tentei agarrar as oportunidades. Na verdade, entro através do humor, algo que nunca tinha pensado fazer antes. Adoro comunicar, mas não acho particular graça ao que digo. Talvez seja bem-sucedida por ter a coragem de dizer publicamente aquilo que as outras pessoas não têm ou que todos pensam e ninguém diz. Mas isso é natural em mim.
– Essa frontalidade é o seu grande talento?
– Sinto que sim. Digo coisas “desbocadas”, fora do normal, e as pessoas acham graça. Até faço alguma comédia, como agora no NOS Alive, mas isso não fazia parte do caminho. Não sei como cheguei aqui, mas se as pessoas se riem, é bom sinal. A rádio foi uma surpresa na minha vida e tornou-se algo que não quero deixar de fazer. Mas tenho 30 anos e sinto que já estou no fim da validade.
– Há profissionais de rádio que fazem uma carreira até muito tarde. O que a leva a pensar assim?
– Talvez porque na rádio onde trabalho toda a gente é muito jovem. Tenho ideia que ali dá para ficar até aos 33, 34 anos, o que já é uma loucura. Apesar de ainda ter um discurso muito jovem e uma imagem que engana um bocado – as pessoas julgam que sou mais nova – a verdade é que o tempo passa e estou a tentar calmamente passar para uma coisa mais adulta, quer seja em rádio ou em televisão. Não quero ficar conotada apenas como a engraçada, porque depois será difícil convidarem-me para fazer outras coisas.
– Este ano foi convidada para integrar um dos painéis da Comissão de Notáveis dos Globos de Ouro. Vê este desafio como um reconhecimento?
– Confesso que fiquei muito admirada com o convite. Os Globos de Ouro são uma coisa séria e acho que a minha carreira não tem muitas coisas sérias. No início, quando me ligaram, julguei que era alguém a gozar comigo. Depois, percebi que não e gostei muito de fazer esse trabalho.
– Como é que os seus pais assistem ao seu percurso?
– É curioso, porque os meus pais não me apoiaram nada no início. Foram contra a minha vinda para Lisboa e o meu irmão também. O João disse-me que os sonhos eram para ricos e que nós tínhamos de trabalhar. Vim sem recursos e sem apoios, apenas com algum dinheiro que tinha conseguido juntar e como bolseira. Hoje, com distância e maturidade, consigo perceber que não deve ser fácil ver uma filha a dizer que tem um sonho, mas não tem bases. Numa fase inicial, foi complicado. Tive apenas o apoio do meu melhor amigo, que ainda hoje trabalha comigo, é o meu agente. Foi a única pessoa que acreditou em mim. Neste momento, sei que os meus pais têm um orgulho enorme naquilo que faço, embora não me ponham num pedestal, o que gosto. Tenho os pés muito assentes na terra muito por causa dos meus pais. Em Guimarães, sou a mesma Kika de sempre.
– Não esconde que, enquanto esperava por ver o seu sonho concretizar-se, trabalhou como operária.
– Não tenho necessidade de esconder. O meu percurso não foi linear e esta é a minha história. Estou muito tranquila com ela e acho que até pode inspirar muitas pessoas que estão noutras zonas do país e acham que é uma loucura lutar pelos sonhos, porque não há assim tanta representatividade. Não sou a única, há mais exemplos, mas estou aqui para dizer que é possível. É difícil, há poucos lugares, mas é possível sermos o que queremos e concretizarmos os sonhos. Nunca desisti de correr atrás dos meus, talvez seja a minha veia do norte que me dá esta força. Trabalhei na fábrica, nas feiras ao lado do meu pai, que era feirante, em supermercados e call centers para poder sobreviver, mas hoje estou onde queria estar.
– Com uma carreira em ascensão, há lugar na sua vida para namorar ou pensar em formar uma família?
– Neste momento, estou tão focada no meu trabalho que não tenho tempo para ter um namorado. Ainda sou muito egoísta para qualquer coisa que não seja trabalho e amigos. Com o tempo, vai acontecer. Tenho amigas que sentiram muito a pressão dos 30 anos. Percebo, mas o facto de estar na minha melhor fase profissional faz com isso não seja uma preocupação para mim. A outra fase há de vir a seguir e está tudo bem.
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