Celebrar a vida. Foi este o objetivo de Sofia Varatojo ao conceber o BlissFest (informações e bilhetes em blissfest.pt), um festival dedicado a “alimentar a mente, nutrir o corpo e elevar o espírito”, que irá decorrer nos próximos dias 7 e 8 de setembro no Sesimbra Natura Park. Com a missão de honrar o legado e a memória do pai, Francisco Varatojo, o “pai” da macrobiótica em Portugal – que, recorde-se, morreu acidentalmente, durante uma sessão de mergulho, em 2017 –, Sofia quis voltar a chamar a comunidade do antigo festival ZIMP (desenvolvido pelo seu pai através do Instituto Macrobiótico) para dois dias dedicados à alimentação saudável, a práticas espirituais e ao desenvolvimento pessoal. “Vai com medo, mas vai” – um ensinamento do pai que ela transformou em filosofia de vida, tal como partilhou com a CARAS.
– Qual é a diferença entre o festival que organizavam em Seia, o ZIMP, e este BlissFest?
Sofia Varatojo – O outro era um formato de férias, decorria durante uma semana e estava muito associado à macrobiótica, era uma coisa mais para determinado nicho. Esta nova versão é num novo sítio, com um novo formato, e a ideia é chegar a cada vez mais pessoas. Diria que pode ser um bocadinho mais mainstream. Embora mantenha os valores da macrobiótica, são apenas dois dias. As pessoas podem ir e vir ou optar por dormir uma noite. Este é mais em modo festival.
– Que tipo de transformação esperam que os participantes do festival experimentem depois de passarem pelo evento?
– Pelas práticas que fui experimentando e retiros que fui fazendo ao longo da minha vida, há sempre um momento de quase catarse. Houve retiros que foram completamente impactantes para mim, momentos que testemunhei que mudaram a minha perceção fosse da vida, fosse em relação à espiritualidade ou à parte física. A ideia é que as pessoas possam encontrar essa luz, que estejam mais próximas dessa sensação de felicidade e de bem-estar.
– E o que é essa definição de uma vida mais plena e mais leve?
– Acho que, através da espiritualidade, conseguimos dar menos importância a certas coisas do dia a dia, pode trazer-nos mais leveza, menos preocupações e angústias, menos medos também. Ensina-nos a ter presente que a vida é boa para viver.
– A partir do momento em que um dos pais morre, a perceção da finitude da vida não se torna mais real e assustadora?
– Sim, muito mais. Prin-cipalmente quando, como foi o meu caso, perco o meu pai precocemente e de uma forma muito inesperada. Tens uma maior noção da finitude da vida e isso traz-nos, naturalmente, mais medos. De repente, ficas com mais medo de perder também a outra pessoa, a mãe, no meu caso, porque tens a noção de que as coisas não acontecem só aos outros.
– A morte do seu pai assinala um antes e um depois na sua vida?
– Sim. Parecem duas vidas diferentes. Acho que, enquanto existiam o meu pai e o instituto, havia um sentimento de pertença, um mundo do qual tu fazias parte. De repente, não tens o teu pai, que é um dos teus pilares, e deixas de ter também o instituto… E há ali uma mistura de sentimentos, entre a liberdade de poderes encontrar o teu caminho, de caminhares sozinha e o medo de não teres aquele colo da família a que estavas habituada.
– Porque o Instituto Macro-biótico deixou, entretanto, de estar nas mãos da família Varatojo?
– Sim. Quando o meu pai morreu, a minha mãe assumiu a direção. Há dois anos começámos a sentir que o instituto, sem o meu pai, era um esforço demasiado grande para nós, enquanto família, sobretudo para a minha mãe, que tinha de tratar da gestão da empresa, que nunca foi a área dela. Então decidimos passar o instituto a outras pessoas, que estão a seguir com a marca em frente…
– Foi um luto difícil de fazer? Afinal, era uma ligação que mantinham com o vosso pai, o instituto era a menina dos seus olhos…
– Foi muito difícil, sim. Costumamos dizer que foi o segundo luto do meu pai. Mesmo para a minha mãe, acho que foi um ato de coragem ter conseguido fazê-lo, porque foram 40 anos da vida dela, de ligação a uma empresa. Fizeram nascer e viram crescer o instituto. E, de repente, passá-lo para outras mãos foi difícil, mas, ao mesmo tempo, acho que ela sentiu necessidade de também fazer o caminho dela, porque este sempre foi o sonho do meu pai. Passou a ser o dela também, naturalmente, mas creio que ela sentiu que era importante recomeçar a vida de uma outra forma.
– Como é que foi crescer sendo filha do introdutor da macrobiótica em Portugal?
– Foi ótimo, pelas bases e pelos valores pelos quais fui educada. Claro que também houve ali algum peso associado, porque o meu pai era bom a fazer tudo, e, portanto, era daqueles que dizia que, se era para fazer, era para fazer bem feito. A fasquia estava sempre muito elevada e havia muita exigência. Era também uma pessoa que passava muito tempo fora de casa, porque a missão dele era para o mundo. Por outro lado, havia o facto de sermos vistas como filhas perfeitas, de as pessoas pensarem que éramos a família perfeita, com a alimentação perfeita, quando na verdade ninguém é perfeito… Essa imagem que tinham sobre nós limitava-me.
– E acrescentava peso?
– Se me viam a beber um copo de vinho, por exemplo, vinham-me logo perguntar se o podia fazer, se afinal eu não era assim tão saudável. Sim, acrescentava muito peso. Agora já consigo ter essa liberdade de, se me apetecer, beber um copo de vinho. Esse peso saiu um bocadinho de cima de mim. Porque o meu pai também era muito exigente nessas coisas. Olhava muito para o que comíamos e bebíamos, era muito regrado.
– Qual o legado mais importante que ele lhe deixou?
– A maior herança que ele me podia ter deixado foram as bases que tenho para lidar com a vida, seja com a alimentação, seja com o lado mais espiritual ou com práticas de autocuidado. E quando decidi avançar com este novo festival, foi muito com a ideia que o meu pai sempre nos incutiu de seguirmos os nossos sonhos. Dizia sempre: “Sigam. Vai com o coração. Vai com medo, mas vai.” E eu quis honrar esta ideia, vou seguir em frente com um sonho que quero realizar.
“Styling”: Catarina Bica
Agradecemos a colaboração de Palácio do Governador – Lisbon Hotel & Spa