
Na véspera de mais uma edição da cerimónia dos Globos de Ouro, que distinguem o que de melhor se faz em Portugal nas várias esferas do mundo artístico, Clara de Sousa, de 56 anos, falou com a CARAS no Coliseu dos Recreios. A pivô do Jornal da Noite, da SIC revelou-nos como se prepara para a condução da gala, contou alguns pormenores sobre as surpresas desta edição e também sobre o vestido que vai usar naquela que é a noite mais glamorosa do ano.
– Como é que recebeu o convite para conduzir, uma vez mais, a Gala dos Globos de Ouro?
Clara de Sousa – Há cerca de três ou quatro meses, o Daniel Oliveira mandou-me uma mensagem a dizer que tinha de falar comigo e percebi logo sobre o que era. Acabou por ser um bocadinho inevitável que me fizesse novamente este convite, e, mais uma vez, aqui estou para fazer parte desta noite tão especial. É algo que não tem absolutamente nada a ver com aquilo que faço nos outros 364 dias do ano, mas a que me dedico com muito prazer.
“Faço este trabalho com a mesma verdade e sentido de responsabilidade com que faço o noticiário.”
– É exatamente a mesma Clara que vemos no Jornal da Noite?
– Sim. Faço-o sem adulterar a minha personalidade. E acho que é também por causa disso que me convidam – por ser eu. Obviamente que com um vestido com mais brilho, com outro tipo de glamour, mas não deixo de ser eu e faço este trabalho com a mesma verdade, concentração e sentido de responsabilidade com que faço o noticiário.
– E desta vez hesitou na resposta quando foi convidada para conduzir a gala?
– Na verdade, eu achava que a terceira poderia ser a última, mas depois pareceu-me óbvio que as circunstâncias este ano eram idênticas às dos anos anteriores e que seria natural que o Daniel me convidasse. E se não o fizesse sei que teria uma conversa comigo para me dizer que tinha outra solução, e estaria tudo excelente, voltaria a sentar-me aqui, nas cadeiras da plateia.
– Pode levantar a ponta do véu sobre como vai ser a gala deste ano?
– Posso dizer que o ano passado tivemos momentos impactantes e de que gostei muito, como os Táxi, que apresentaram aquele medley e um In Memoriam que me deixou muito emocionada. Este ano vamos voltar a ter pelo menos um desses momentos, que acho que vai ser especial, as pessoas vão ficar muito comovidas, vão sorrir, chorando um pouco por dentro.
“Tenho sempre de me controlar, sim, sou muito emocional. Até nos noticiários, quando as câmaras estão desligadas, emociono-me brutalmente.”
– A Clara tem de se controlar nesses momentos mais emotivos?
– Tenho sempre de me controlar, sim, sou muito emocional. Até nos noticiários, quando as câmaras estão desligadas, emociono-me brutalmente, mas embora com uma noção de controlo muito maior. Aqui tenho o coração aberto e sugo todos os momentos como se estivesse na plateia como espectadora. Já sei que este ano haverá um momento em que vou ficar emocionada, mas será um privilégio estar a assistir ao vivo a tudo isto.
– Qual é a sua participação no que respeita às suas intervenções?
– Bom, isto é uma produção de entretenimento, não é o noticiário, mas a abordagem que tenho aos textos é a mesma. Dão-me um guião e eu trabalho em cima dele com as minhas palavras, com as minhas pausas, muitas vezes não só mudo frases de sítio como crio mais texto se for preciso um melhor enquadramento. Altero sempre o texto para que seja algo com o qual me sinta confortável e que o possa transmitir corretamente.

– Tem improvisado muito nestas três edições que conduziu?
– Sim, é necessário improvisar, porque às vezes o teleponto falha, e há momentos em que queremos dizer alguma coisa porque algo nos tocou. A verdade é que, apesar de se ter um guião, há sempre imprevistos.
– Com quanta antecedência recebe os textos?
– Mesmo na semana da Gala dos Globos de Ouro. A equipa que trabalha nesse guião manda-me um draft [rascunho] inacabado, para me ir ambientando, e já vou percebendo para onde é que vai a emissão. E depois, mesmo já muito mais perto, às vezes de véspera, é que eu entrego à produção o meu texto final. É também nessa altura que fazemos o ensaio geral, um ensaio corrido. Este ano será na antevéspera, na sexta-feira, e é aí que alinhamos as nossas dinâmicas, para que no dia corra tudo bem. Se há uma gala feita com grande qualidade em Portugal, é de facto a dos Globos de Ouro.
– Costuma ter a família presente na plateia? O seu namorado [o jornalista Fernando Esteves] virá, como nos últimos anos?
– Desta vez ele não poderá comparecer, não vai estar em Portugal nesse dia. Mas vão estar pessoas da minha família, sim, o que costuma acontecer. Este ano vou ter cá a minha filha e o namorado, o meu enteado e um grande amigo. Desde que eu sou a “âncora”, os meus têm vindo sempre e é muito importante que aqui estejam. A opinião da família é fundamental. Estou no palco e há ali um momento, depois de entrar, em que espreito e vou ver onde é que eles estão sentados. Olho para eles, pisco-lhes o olho, eles dizem-me que está tudo bem. Nós gostamos sempre de ter os nossos ao pé de nós nestes momentos especiais. Claro que podia fazer tudo da mesma forma sem eles presentes, mas para mim é um conforto no coração ter a família na plateia a assistir, é um calorzinho que me sabe muito bem.
“Tenho o hábito de, com a equipa, beber um bocadinho de champanhe antes de entrar em direto.”
– Tem algum ritual antes ou durante a Gala dos Globos de Ouro?
– Normalmente faço uma drenagem linfática na véspera, para não ter as pernas pesadas, porque vou estar muito tempo em pé. Também faço uma massagem para me retirar um bocadinho de tensão na zona dos ombros. Depois, no dia, quando chego, coloco uma máscara para o rosto antes da maquilhagem. Também tenho o hábito de, com a equipa, beber um bocadinho de champanhe antes de entrar em direto e depois, quando a emissão acaba, celebramos com o champanhe que sobra. Acho que é nestes momentos que temos de aproveitar para celebrar a vida e festas como esta, que nos fazem bem.
– Quando termina o espetáculo, vai para casa?
– Sim, venho logo muito cedo para o Coliseu, então, quando termina, desmaquilho-me, visto uma roupa confortável e vou para casa descansar. Depois, no dia seguinte, por regra faz o Rodrigo [Guedes de Carvalho] o noticiário e tenho esse dia para desligar dos Globos e trocar o chip. Passo assim a segunda-feira tranquila, em casa, a relaxar, e retomo o trabalho na terça-feira.
– O que nos pode revelar sobre o vestido que vai usar este ano?
– Foi o Carlos Gil quem fez o vestido. Eu coloco-me sempre nas mãos dos criadores e este vestido foi uma escolha inteiramente dele. Ele desenhou, mostrou-me, acertámos ali uns pontinhos e trocámos umas impressões.
“Este ano o vestido é um meio termo dos anteriores. É muito bonito, elegante.”
– É um modelo muito diferente dos anteriores?
– Sim. Agradeço imenso a todos os estilistas, são fantásticos, estão sempre comigo, dão-me muita força, e por isso eu tento honrar os vestidos deles o melhor que posso. Nos dois primeiros anos tivemos o João Rôlo, com vestidos com uma estrutura mais cénica, mais de encher o palco, saias com muito tecido, mais teatrais. O ano passado a criação do Nuno Baltazar era mais simples, mais a direito, mas, ao mesmo tempo, muito elegante e com aplicações de que gostei imenso. Este ano acho que o vestido é um meio termo dos anteriores, mas é muito bonito, é elegante, de uma cor nova (ou seja, não é nem rosa, nem verde, nem amarelo). É uma cor que no primeiro ano poderia dizer que não usava nos Globos, mas chegámos à conclusão de que com o cenário vai ficar bonito.
– É parecido com o que está a usar neste momento?
– Não tem nada a ver com este, que também é do Carlos Gil. Também tem brilho, é verdade, mas de resto é diferente, tanto na cor como no feitio.

– O vestido que usa suscita sempre muitos comentários, alguns negativos. Isso incomoda-a?
– Nós já sabemos que as pessoas não podem gostar todas nem do rosa, nem do amarelo, nem do verde. E é ótimo que assim seja, sendo jornalista e democrata e gostando de ter a minha opinião e debater opiniões diferentes, ainda bem que não agrada a todos. Cada um pensa à sua maneira e tem o seu gosto pessoal. Prezo as opiniões de toda a gente, porque acho que as pessoas têm de dizer aquilo que pensam. E não aquele “ah, está muito bem”, e na verdade não está nada. Mas deverá ser assim em tudo na vida, sempre com educação, claro. E estou tranquila, porque me sinto bem com o vestido, elegante, confiante e segura.
– E os vestidos que usa depois ficam para si?
– Não, os vestidos são dos costureiros e eles ficam com eles. Não sei se depois os vendem. O cor-de-rosa do João Rôlo creio que houve um pedido de uma cliente que queria um igual.
– E os sapatos e as joias que vai usar de quem são?
– Os sapatos são Luís Onofre, e têm sido sempre dele. Todos os anos me faz sapatos muito semelhantes, mas todos diferentes. São excelentes sapatos de plataforma, que me deixam mais alta, mas muito segura a caminhar, e são muito confortáveis. As joias são Gilles, que é o joalheiro das joias dos meus noticiários. Vou estar bem e como gosto.