
Em jeito de celebração do fim do verão, Raquel Prates esteve no MEO Kalorama, que encerrou a época dos festivais que animam a estação mais quente do ano. E foi com a música como pano de fundo que pusemos a conversa em dia com a empresária, de 48 anos. Falámos sobre a sobrevalorização da imagem, por vezes pouco autêntica, sobretudo nas redes sociais, da vontade de voltar à televisão, do encerramento, que prevê temporário, da 39A Concept Store, um espaço onde comercializava roupa e peças exclusivas de designers tanto de marcas emergentes como de consagradas, e constatámos ainda como Juan Carmona, artista plástico por quem se apaixonou há dois anos, veio preencher a sua vida, da qual faz também parte a filha do namorado, Kiara, que completa 17 anos este mês.
– Teve um verão preenchido?
Raquel Prates – O verão foi curto e feliz, em família. Com os dias contados e preenchidos na sua totalidade no Algarve, como já é costume. Portugal continua a ser um lugar bom. Dias praticamente dedicados à praia e ao sossego de casa, sem euforias [risos]. Precisava muito de descansar, de não fazer nada com consciência [risos].
– Conseguiu desligar?
– Desliguei de tudo e principalmente do telemóvel, aliás é público a minha má relação com as redes sociais. Cansam-me os vários personagens que foram criados para se vencer nesse meio virtual, que agora, ainda por cima, pode definir a evolução profissional em outras áreas.
– Acha que a imagem está sobrevalorizada?
– Sempre acreditei que a imagem devia ser uma consequência natural e fundamentada das nossas experiências ou percurso. Mas aquilo a que assisto é à imagem ser o percurso em si. E na grande maioria das vezes nem sequer é real. Esse é o mais perigoso dos filtros.
– Como é que se pode incentivar uma abordagem mais autêntica e menos filtrada?
– Essa abordagem já começa a surgir em pequenas quantidades. Como em todas as “modas”, ainda numa fase humorística, exagerada, quase como uma caricatura, para que não se torne “aborrecida”. Apesar de continuar a acreditar que a realidade ultrapassa sempre a ficção, também entendo que fugir dessa realidade, em doses moderadas, seja positivo para a maioria de nós.

– Como é que se pode incentivar uma abordagem mais autêntica e menos filtrada?
– Essa abordagem já começa a surgir em pequenas quantidades. Como em todas as “modas”, ainda numa fase humorística, exagerada, quase como uma caricatura, para que não se torne “aborrecida”. Apesar de continuar a acreditar que a realidade ultrapassa sempre a ficção, também entendo que fugir dessa realidade, em doses moderadas, seja positivo para a maioria de nós.
– Como consegue evitar a pressão que as redes sociais impõem cada vez mais?
– É curioso como esse problema parece maioritariamente feminino. Julgo que incentivar uma crítica construtiva interior, onde se trabalham as inseguranças e, principalmente, a autoestima, é crucial, mas este é um processo gradual. E desculpem se estou a ser polémica, mas atualmente existe este hábito de culpar sempre o exterior, principalmente a sociedade, o que não entendo. É doloroso verificar que depois de mais de um século em que milhares de mulheres lutaram e dedicaram a vida pela emancipação, pela igualdade, pela liberdade, vemos hoje em dia as mulheres a autoimporem-se um ideal de sucesso e imagem plástica perfeita, uma vida ideal digitalmente pós-produzida. É visto como um problema de imposição social. Objetivos e propósitos de vida deturpados. A sucessiva comparação. Será que não é uma escolha individual seguir ou não esta autoescravatura? O supérfluo não deve prevalecer. Aprofundar e dar prioridade ao nosso verdadeiro eu em vez de seguir a “manada” é uma decisão de cada um. Ninguém quer admitir, mas vivemos novamente uma fase histórica de aparências, promovida em quantidades industriais. Acredito que estrutura e bases sólidas podem ser incutidas de uma forma divertida, leve e natural.
– Mudando de assunto, trabalhar em televisão é um capítulo completamente posto de parte?
– Não é, pelo menos na minha perspetiva. Voltar onde fui feliz faz sempre parte dos meus planos [risos].

– Interrompeu o seu negócio com o encerramento da 39A Concept Store. Isso causa-lhe alguma tristeza, calculo.
– Continuo a trabalhar na área criativa, depois do desenvolvimento da coleção de alta joalharia para a Terzihan estou envolvida num outro projeto nacional relacionado com a cerâmica. A moda acredito que é uma questão de tempo para voltar com um novo fôlego. Atualmente, é difícil viver de projetos que não sejam mainstream, a realidade é esta. Mas depois existem as nossas paixões, o que nos move. Quem consegue criar o equilíbrio é um sortudo. Eu ainda não agarrei esse bilhete da lotaria [risos].
“O Juan não aprecia qualquer tipo de visibilidade. (…) Eu sinto-me muito, muito feliz perto dele.”
– Mas agarrou outro ao ter encontrado o Juan, com quem já nos disse viver um amor mais sereno.
– Faço sempre uma pausa para falar do Juan, em primeiro lugar porque é uma pessoa de bastidores e não aprecia qualquer tipo de visibilidade, em segundo lugar porque há coisas que quero guardar só para nós. O que posso adiantar é que me sinto muito, muito feliz perto dele. Que temos uma família unida, que vive em harmonia e que se ama perdidamente.