Chegou a Portugal recentemente e deverá ficar por cá até dezembro, altura em que deverão arrancar as gravações de Anaconda, uma sequela do thriller original de 1997. Depois de ter feito sucesso nos filmes O Esquadrão Suicida, Marlowe, Assassin Club, Guardiões da Galáxia Volume 3,Velocidade Furiosa X e Road House, a atriz portuguesa, de 27 anos, continua a marcar pontos, obtendo o reconhecimento internacional.
O sucesso profissional, contudo, não consegue silenciar alguns estados de maior ansiedade e, consciente da importância de se normalizar este tema, Daniela Melchior tem partilhado nas redes sociais algumas reflexões sobre a sua luta pessoal com a ansiedade e TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), destacando a importância da saúde mental.
Num mundo onde a vida muitas vezes parece perfeita nas fotos partilhadas nas redes sociais, a atriz assume, com coragem, as vulnerabilidades que enfrenta nos bastidores. “Desde a minha viagem à Austrália, os diferentes fusos horários e circunstâncias pessoais desencadearam a minha ansiedade, levando-me a uma espiral de ansiedade severa que desafiou o meu corpo, sistema imunológico, mente e espírito. Por detrás de cada foto perfeita, há uma história que talvez nunca vejamos. As questões de saúde mental podem muitas vezes ser disfarçadas por detrás de sorrisos e feeds selecionados”, escreveu Daniela recentemente no seu Instagram.
E foi precisamente no Dia Mundial da Saúde Mental, que se celebra a 10 de outubro, que a CARAS conversou com a atriz, que esteve como convidada na festa de lançamento em Portugal da Westwing, plataforma online de decoração e artigos para a casa, que teve lugar no Palacete Virtvs, em Lisboa.
– Anaconda ajudou a consolidar a fase inicial da carreira de Jennifer Lopez. Vestir o mesmo papel neste filme pode fazer o mesmo pela sua carreira?
Daniela Melchior – Poderia, mas como não vou vestir o papel dela, não sei o que é que vai fazer por mim… [risos]
– Ainda está no segredo dos deuses a personagem que irá interpretar, mas podemos dizer que será um papel cómico?
– Por acaso o meu papel é dos mais sérios no meio da comédia que vai ser o filme. Acho que vai ser engraçado, porque o espectador vai ver o nonsense todo que está a acontecer, mas nós estamos todos supersérios.
– Com uma carreira cada vez mais internacional, como é que tenta manter as suas raízes e a conexão com a cultura e a realidade portuguesas?
– É continuar a vir a Portugal e estando atenta. Agora vou ficar possivelmente até dezembro, vou manter a minha base aqui em Lisboa. É estar com amigos, com a família, ver o que é que se anda a passar, as agendas culturais, ver que coisas é que eu posso fazer nesse sentido, mas levar sempre a minha cadelinha, porque, lá está, eu sou mãe [risos]. Tenho a Heidi [uma cadela teckel] desde a altura da pandemia, só que sempre que viajo, tenho de a deixar cá.
– Como é que gere as saudades de um animal de estimação que adora?
– Pois… Aguenta-se. Quero trabalhar para chegar a um ponto da minha carreira profissional em que consiga ter uma estrutura que me permita levá-la comigo. Mas enquanto isso não acontece…
– Tem dado visibilidade à cultura portuguesa em Hollywood. Nomeadamente distribuindo pastéis de nata, com os quais tem feito um enorme sucesso.
– [risos]. No último filme que fiz, na Austrália, não deu para levar, porque são 24 horas de viagem. Não iam chegar lá bem. Mas tento sempre levar algumas coisinhas, sim. Mais recentemente, no final das gravações de American Sweatshop, na Alemanha, ofereci uma lembrança aos colegas e à realizadora, um livro pequenino, com poemas do Fernando Pessoa traduzidos. Escrevi em todos uma mensagem a dizer que estava ali um pouco da nossa alma portuguesa. Também já levei vinho do Porto. O Vin Diesel pedia-me para lhe levar uma garrafa sempre que vinha a Portugal.
– Hoje celebra-se o Dia Mundial da Saúde Mental. Fazer partilhas sobre este tema nas redes sociais é uma forma de alertar as pessoas para a necessidade de procurarem ajuda? Tem uma rede de apoio que parece ser fundamental para si em momentos de maior fragilidade.
– Sim. Muitas das vezes as pessoas procuram um psicólogo porque estão aflitas ou já estão num estado limite, e, lá está, aí começam os burnouts. Temos de recorrer a essa rede até antes de precisarmos de ajuda. Não devem existir tabus, devemos falar sobre isso uns com os outros.
– Quanto mais se falar, menos tabu se torna?
– Claro. Acontece muitas vezes, entre o nosso grupo de amigos, sentirmo-nos assoberbados com trabalho ou com coisas do dia a dia, e temos mais essa confiança de ligarmos uns aos outros quando temos crises de ansiedade, e vamos falando até nos acalmarmos.
– É uma das suas ferramentas, desabafar com um amigo que faça parte da sua “rede de apoio”?
– Exato. E lá está, não deixar que chegue a uma situação limite. Ser uma coisa natural. Agora, durante a passagem do furacão na Flórida, ao ver aquele rasto de destruição tentei falar com naturalidade sobre o tema, partilhar que me tenho sentido superansiosa com o que vejo, e tentar ir dar uma volta à praia, tomar um café ou dançar para tentar descontrair. O que eu sinto é que há muitas pessoas que ainda guardam muito isso para elas. Quando têm maus dias ou estão nessas zonas mais cinzentas, simplesmente desaparecem. Isolam-se. E toda a gente tem dias menos bons. É normalizar.
– Deve ter vários espaços a que chama de casa, uma vez que anda um pouco por todo o mundo. É importante ter neles um canto que lhe traga calma e tranquilidade?
– Sim, sem dúvida. Cada vez mais reconheço a importância de termos o nosso ninho, um sítio onde tenhamos as nossas coisas, a nossa energia. Cada vez tenho maior facilidade em transformar o hotel ou o apartamento onde fico na minha casinha, seja por uma semana ou por um mês.
– E o que é que não pode faltar nesse cantinho que dê esse toque de casa?
– Tenho, por exemplo, uns incensos que viajam sempre comigo. Porque, lá está, muitas vezes associamos determinados aromas a memórias, a espaços, a países.