Especializada em Anti-Aging, Marta Padilha explica-nos como funciona esta terapêutica e que benefícios pode trazer na forma como envelhecemos, sobretudo as mulheres, que passam, ao longo de toda a vida, mas em especial na menopausa, por grandes alterações hormonais. Através de cinco pilares – modulação hormonal, suplementação não hormonal, exercício físico, nutrição funcional e gestão do stress –, a médica procura a promoção de uma melhor qualidade de vida dos seus doentes, assim como a prevenção de doenças relacionadas com o envelhecimento.
– O que é a Medicina Anti-Aging?
Marta Padilha – O Anti-Aging é uma área da medicina que tem como objetivo detetar precocemente e tratar atempadamente todas as doenças que envolvem o funcionamento fisiológico. Ao contrário do que as pessoas pensam, este tipo de medicina já existe há muitos anos. Em Portugal é que surgiu há apenas dez, 15 anos, mas é uma área em que há cada vez mais gente interessada na prevenção da doença e na promoção da saúde. Quanto mais precocemente evitarmos as doenças de que podemos vir a sofrer, maior qualidade de vida vamos ter.
– Ou seja, não estamos a falar de estética?
– Não. O anti-aging não tem um objetivo estético e é importante desmistificar esta ideia. Contudo, obviamente que se a pessoa estiver equilibrada do ponto de vista hormonal, isso também é visível na pele, no cabelo.
– Trata-se de saúde e bem-estar?
– Sim e é muito importante sublinhar isso. O que trabalhamos aqui é uma questão de saúde. As mulheres, sobretudo num determinado grupo etário, com as alterações hormonais, deixam muitas vezes de ter qualidade de vida. O facto não as torna doentes ou não saudáveis, mas se tiverem mais agilidade, estiverem mais confiantes, vão mais vezes ao ginásio, estão dispostas a comer melhor, isso tudo permite-lhes cuidar da saúde.
– Qual é faixa etária que mais a procura?
– A faixa em que tenho mais consultas é entre os 45 e os 55 anos. Nós, a partir dos 35 anos, começamos a perder hormonas, 1% a 3% ao ano, sendo que aos 40, 45 começam as surgir mais sintomas desse declínio. Depois, entre os 45 e os 50 englobam-se as mulheres que estão na perimenopausa, que começa quatro a cinco anos antes da cessação da menstruação, e, por fim, as que já estão na menopausa e que, por várias situações, não estão a conseguir superar os sintomas e recorrem a nós para que, de alguma forma, lhes devolvamos alguma qualidade de vida.
– O tratamento é mais complicado quando as mulheres já estão na menopausa?
– É bastante mais, porque já nos chegam à consulta com muitos sinais e sintomas, com calores, afrontamentos, tristeza, alteração da qualidade do sono, do ponto de vista sexual, aquela sensação do ninho vazio, em que os filhos já saíram de casa e elas não sabem lidar com a situação. Na maioria das vezes estas pacientes vêm com antidepressivos, indutores do sono, porque na realidade é fácil tratar as consequências, no entanto estas podem advir apenas de uma nova fase da vida em que se encontram. Nesses casos tentamos repor os níveis hormonais que vão proporcionar equilíbrio.
– Estamos a falar de modulação hormonal. Em que consiste?
– A Medicina Anti-Aging é baseada em cinco pilares. Primeiro, a suplementação não hormonal. Não nos devemos só preocupar com as questões hormonais, temos de perceber que para as hormonas serem introduzidas têm de haver boas condições para que possa ocorrer e isso muitas vezes requer que haja uma série de nutrientes que têm de estar dentro dos valores ideais para que o metabolismo possa produzir as hormonas à velocidade que queremos. A segunda é o exercício físico. É importante, de acordo com o perfil hormonal, perceber se é preciso fazer mais exercício de força e a que horas deve treinar. Outro pilar tem a ver com a alimentação, porque na realidade, em fases diferentes da nossa vida, precisamos de alimentos também eles diferentes, de forma a suplementar ou a nos ajudar a adquirir o equilíbrio não hormonal que pretendemos. O quarto pilar é a gestão do stress. O stress tem um papel muito importante no desequilíbrio hormonal. E, finalmente, a modulação hormonal, que tem a ver com o uso de hormonas bioidênticas que os recetores hormonais reconhecem como sendo suas.
– Qual é a vantagem de tomar hormonas?
– Servem para equilibrar o nosso corpo. É uma grande vantagem para as mulheres que têm défices hormonais e que podem fazer hormonas não havendo qualquer risco de patologia oncológica. Nem todas podem fazer esta terapêutica. O declínio hormonal tem enorme impacto na nossa vida. Tudo corre bem quando temos as hormonas bem. Aos 20 anos fazemos diretas e sentimo-nos ótimas, não acordamos com a cara inchada, perdemos peso com facilidade. Estamos no auge hormonal. Quando as hormonas começam a diminuir, o metabolismo vai desacelerando e todas percebemos que o corpo está a mudar, embora nenhuma mulher passe por esta fase da mesma maneira. Quem pode, deve tratar previamente, para que a menopausa seja uma fase tranquila. Tenho mulheres que se sentem melhor agora do que aos 30.
– Não é aconselhável para toda a gente?
– Não. A modulação hormonal é para quem pode, não é para quem quer. Nós não podemos dar hormonas sem perceber a história clínica, os exames imagiológicos, as análises hormonais. As hormonas são ótimas, mas têm de se saber manusear.
– Ou seja, quem tenha tido um cancro ou se encontre num grupo de risco não pode fazer modulação hormonal.
– Exato. Se estivermos a falar de um cancro hormono-dependente, não pode. Nestes casos, temos de saber de que patologias estamos a falar e depois como podemos ajudar de outra forma. Por isso é que a avaliação inicial é fundamental.
– Quais são as alternativas para quem não pode recorrer a esta terapêutica?
– Podemos fazer os outros pilares sem a questão hormonal. É isto que é engraçado e desafiante em cada consulta, porque ninguém é igual a ninguém. Temos é de saber que valores hormonais a mulher tem e quais deveria ter e, em função disso, fazer a gestão.
– A gestão do peso é dos sintomas mais desafiantes de trabalhar?
– É das coisas que mais gozo me dá fazer. Há muitas causas que podem estar associadas à questão do peso. Hoje sabemos que ter uma dieta equilibrada e fazer exercício não chega na maior parte das vezes. Temos de perceber porque é que o metabolismo não permite uma melhor gestão do peso. Associada à menopausa, é um desafio a dobrar.
– A partir de que altura se deve fazer prevenção?
– Em média, a partir dos 35, quando começa o declínio hormonal. Se bem que devemos orientar os doentes sempre que tenham queixas. Não há uma idade específica. Se não tivermos perceção de que há hormonas que vamos perdendo, não vamos ter o corpo que queremos, mas sim o corpo que podemos.
– Porque é que há controvérsia em relação ao “anti-aging” em Portugal?
– Talvez por ser recente, pois estamos a falar de medicina e de processos completamente seguros. Quero acreditar que, como ainda somos poucos, possa de alguma forma haver certo desconhecimento da população e da própria classe em relação à terapêutica que passamos. O que fazemos é prevenção da doença, não vendemos o elixir da juventude. Somos médicos e tudo o que fazemos envolve muito estudo.
– Com este tipo de prevenção é expectável que aumente a esperança de vida?
– Provavelmente, se bem que há muitos fatores externos, componentes genéticas que não controlamos. Não podemos afirmar que se fizer anti-aging vai durar até aos 100 anos. Podemos é dizer que se o fizer pode viver com mais qualidade de vida.
Experiência profissional
Marta Padilha é licenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Coimbra, com pós-graduação em Medicina do Trabalho e um curso de Medicina do Viajante. Entre 2009 e 2017 fez parte do corpo clínico de Medicina Geral e Familiar do Hospital da Luz, em Oeiras, tendo sido responsável pela área de Medicina do Trabalho em empresas.
Mais tarde frequentou o curso Hormone Therapy Specialty, na Medical School Thierry Hertoche, em Bruxelas, obtendo depois o Master em Medicina Antienvelhecimento e Longevidade, da Universidade de Barcelona.
Membro da American Academy of Anti-Aging Medicine, obteve o certificado de Gestão do Peso por esta mesma instituição. É igualmente membro da Aesthetic Multispecialty Society e da Sociedade Portuguesa de Medicina Estética. Em 2016 iniciou as consultas de Anti-Aging e desde então dá consultas desta especialidade na sua clínica, em Lisboa.