Os 38 anos de vida e mais de 20 como ator conferem-lhe uma maturidade muito diferente da que tinha quando fez de Rodas na série juvenil Morangos com Açúcar, projeto que lhe abriu definitivamente as portas da representação. Apesar de muitos ainda o chamarem por este nome na rua, Tiago Aldeia tem pautado o seu percurso profissional pela diversidade de papéis, que vão da comédia ao drama. Atualmente integra o elenco da novela A Promessa, exibida na SIC, e diz que não podia estar melhor rodeado. Mas quando as luzes do estúdio se apagam e a sua agenda permite, o ator “foge” para o seu refúgio no campo, uma casa de madeira construída com a menor pegada ecológica possível, em equilíbrio com a Natureza, onde a felicidade se faz de silêncios, do canto dos pássaros ou de um café tomado sem pressas a contemplar o sol.
– Como estão a correr as gravações de “A Promessa”?
Tiago Aldeia – Tem sido incrível. A personagem é fantástica. Gosto muito do Nélson, que é um pinga-amor muito divertido de fazer. Tenho também a sorte de estar num elenco com colegas maravilhosos, que admiro imenso. Tenho a Luísa Cruz e o Adriano Luz como pais, o Ivo Lucas como irmão e entre todos há uma enorme cumplicidade, portanto, está tudo certo.
– É mais um papel cómico na sua carreira.
– É, mas, apesar de ser um papel cómico, tem as suas especificidades e esta família, que é o meu núcleo, é de facto muito boa e torna todos os dias de gravação maravilhosos.
– Revê-se em algum aspeto desta personagem?
– Há sempre pontos em que nos revemos, mas não temos muito em comum, e por isso é que também acho este papel tão interessante. Para mim, como ator, fico mais confortável em fazer personagens que são distantes de mim, exigem construção e dão muito mais gozo. O papel ideal é aquele que está longe daquilo que sou. É o que me interessa fazer como ator. Dou muito valor à versatilidade, poder fazer uma personagem cómica e depois um vilão.
– O que o levou a ser ator?
– A principal razão que me fez escolher ser ator prende-se com o facto de a vida ser efémera. Esta passagem por cá são dois dias e acaba tudo muito rápido. Ser ator é uma profissão mágica, que nos permite viver outras vidas numa só.
– Nesse sentido, sente-se um privilegiado por já ter feito tantos papéis diferentes?
– Com certeza que sim, sou um privilegiado. Nem quero fazer contas aos anos de trabalho. A primeira coisa que fiz foi figuração numa novela chamada Primeiro Amor. Depois, participações pequenas em Crianças SOS e Super Pai, até ser o Rodas de Morangos com Açúcar. E assim começou esta minha aventura. A verdade é que tive boas oportunidades e pude provar que consigo fazer coisas diferentes ao longo destes anos. Isso é muito gratificante.
– Era ainda um miúdo quando começou.
– Era realmente um miúdo, o que ainda me considero, mas estava certo quando escolhi ser ator. O meu pai, António Aldeia, também faz projetos como ator e sempre trabalhou em produção e eu desde miúdo que o acompanhava muito e ficava fascinado com tudo aquilo. Na escola, por minha iniciativa, era aquele que queria fazer sempre vídeos e performances fosse qual fosse a disciplina. Num trabalho de francês cheguei a fazer de Manuela Moura Guedes. Pus uma peruca e lá fui eu gravar. Todos se divertiram. Mais tarde entrei para o grupo de teatro da escola e na catequese também me oferecia sempre para ser uma das personagens do presépio. É, de facto, uma paixão que vem desde muito pequeno.
– Frequentou a catequese. É católico?
– Sou católico por formação, crente em Deus e numa outra dimensão, assim como na história cristã, mas também sou muitas outras coisas. Sou, sem dúvida, uma pessoa espiritual. Acredito que existe Deus com vários nomes, o que lhe quisermos chamar. Para mim a fé é o importante. Acredito que todos temos uma saúde física, mental e energética. E com esta energia cada um faz o que quer: ir à missa, a uma mesquita ou simplesmente meditar a ver o pôr do sol. Tento evitar más energias e procuro passar aos outros boa energia. É por aqui que faço o meu caminho. A espiritualidade está na minha vida, embora não lhe queira atribuir um nome concreto.
– Faz alguma coisa para manter esse lado espiritual?
– Faço meditação e reiki.
– No fim do dia isso traz-lhe serenidade?
– Sim, traz-me serenidade e tranquilidade, mas também posso encontrar essa calma ao entrar numa igreja ou a contemplar uma paisagem. No fundo, o importante é estarmos conectados.
– Foi esta forma de ver a vida que o fez procurar refúgio no campo?
– Sim, mas sobretudo a tal passagem rápida do tempo, que se sente muito mais nas cidades. É uma correria. Adoro Lisboa e outras cidades que têm uma boa oferta cultural, bons restaurantes, vida noturna, mas não há nada como viver em comunhão com a Natureza. No campo passei a apreciar a vida de outra maneira e a dar tempo ao tempo. Cada vez mais tento passar tempo na Natureza, que é algo que me acalma e me faz sentir mais conectado comigo mesmo.
– Divide-se entre cidade e campo ou mudou-se definitivamente para o meio da Natureza?
– Tenho de me dividir, sobretudo por causa do trabalho, mas a minha ideia é progressivamente passar o maior tempo possível no campo. Não há nada como chegar a casa depois de um dia de trabalho e relaxar a ouvir os passarinhos. Na cidade, ouvimos buzinas.
– A casa está terminada?
– Finalmente está e é maravilhosa, embora uma casa de campo seja um trabalho em progresso. Falta sempre alguma coisa.
– Como são as suas rotinas quando lá está?
– É engraçado, porque o meu ritmo muda por completo. Em Lisboa, acordo, tomo banho rápido e saio para ir beber um café, sempre tudo a correr. Quando estou no campo, acordo mais cedo para me atrasar com calma. Gosto de saborear o meu café ao sol, de ver os meus cães a brincar soltos, ouvir os sons da Natureza. Até para estudar textos é muito melhor. O silêncio ali é de ouro. A médio prazo, quero viver nesta casa em permanência.
– Uma casa que escolheu ser de madeira, sustentável.
– Para mim era muito importante que a casa estivesse em consonância com a Natureza. Procurei que tivesse a menor pegada ecológica possível e por isso escolhi uma casa de madeira, pinho nórdico vindo de florestas reflorestadas. É menos agressiva que o betão e, em termos térmicos, muito melhor.
– Encontrou o equilíbrio perfeito?
– Completamente, e sintome muito feliz e grato por ter conseguido concretizar este meu sonho. Este refúgio dá um equilíbrio geral à minha vida. Já não me vejo a viver sem isto.
Agradecemos a colaboração de
Levis e Sheraton Cascais Resort