
Aos 39 anos, Fábia Rebordão, reconhecida pela sua voz emotiva e poderosa, é considerada uma figura proeminente no domínio do “fado novo”. Com uma música que reflete a alma do fado ao mesmo tempo que abraça as suas diversas influências musicais, criando uma identidade única, a artista acaba de lançar o seu quarto trabalho discográfico, Pontas Soltas. A CARAS conversou com ela a propósito deste e de outros projetos profissionais, bem como da experiência da maternidade, já que é mãe de Maria Inês, de 2 anos e meio, nascida da união de 15 anos com o músico e produtor Jorge Fernando, de 67 anos.
– Como define este seu novo álbum?
Fábia Rebordão – Já andava a pensar neste disco há algum tempo, mas só agora é que achámos por bem fazê-lo, eu e os meus produtores, que são o Jorge Fernando e o Kapa de Freitas. No fundo, este trabalho consistiu em reunir e recriar músicas com as quais eu convivo desde sempre, autores e compositores com os quais me identifico, e que oiço desde há muito tempo.
– Entre eles há vários artistas brasileiros…
– Sim. Este trabalho é também um grito de união entre nós e o Brasil. Aproveitámos para juntar os maiores compositores e cantores portugueses, como o Fausto, ou o Sérgio [Godinho] e brasileiros como o Chico [Buarque], o Vinícius de Moraes, o Zeca Baleiro, entre outros.
– Podemos chamar-lhe de um disco de fado com novas sonoridades?
– Percebe-se que o fado está intrínseco neste disco, como em todos os que fiz. Tem a componente eletrónica, que dá um lustro ao projeto, mesmo em temas que não são fados puros, o Jorge e o Kapa tornaram-nos fados e isso para mim foi muito importante.
– Quanto tempo é que demorou a conceber este trabalho?
– Nós somos muito minuciosos e perfeccionistas e demorou cerca de três anos desde a ideia inicial até à sua finalização. Foi um caminho interessante, eu ia pondo a voz-guia no estúdio, com a melodia dos temas, e o Jorge e o Kapa iam criando à volta disso. É um trabalho que não perde de vista a sua matriz, o fado, mas que tem muita modernidade.

– Já está a pensar num próximo trabalho discográfico?
– Eu sou muito impulsiva, organizada, as pessoas às vezes nem me entendem, porque já tenho tudo esquematizado na minha cabeça em relação ao que vou fazer. Mas a maternidade fez-me ver que às vezes não conseguimos controlar tudo, por isso tenho tentado aproveitar mais o agora. E estou a tentar ter essa maturidade para desfrutar ao máximo do presente.
– Já que fala nisso, como foi criar este disco conciliando-o com as exigências da maternidade?
– Costuma dizer-se que a maternidade é como um tsunami, em que a água ocupa todos os espaços quando entra, e é mesmo assim. Mas também foi maravilhoso, porque a minha filha fez parte de todo o processo desde o início. Já tem o seu tema preferido do disco e já canta as canções, mexe o corpo e isso é espetacular.
– Como se está a dar com o seu papel de mãe?
– Está a ser bastante desafiante, mas muito compensatório. A Maria Inês é uma líder nata, sabe o que quer, é parecida comigo, curiosa, comunicativa e adora cantar, tem sido uma criança muito feliz e tem-me feito uma mãe muito feliz.
– Também tem veia de artista?
– Sim. Se for preciso, num espetáculo meu, invade o palco, agarra no microfone e começa a cantar. A Maria Inês nasceu neste meio, rodeada de muitos artistas, convive com tudo isto desde sempre e para ela é tudo muito natural. Acredito profundamente que vai seguir a carreira artística. Tanto eu como o pai não temos qualquer dúvida disso, é incontornável.

– O que se segue agora é a promoção deste trabalho. Já tem espetáculos marcados?
– Estão a ser marcados. Agora este mês de novembro vou estar no maior festival de música da China e posso adiantar que para o ano tenho um projeto importante, do qual ainda não posso falar.
– Tem algum grande sonho enquanto artista, algum dueto que gostaria de fazer ou alguma sala de espetáculos onde gostasse de atuar?
– O meu sonho é cantar. Adorava cantar com a Maria Bethânia ou com o Chico Buarque, por exemplo. Felizmente, consegui realizar o sonho de cantar com o Fausto, isso já guardo comigo a sete chaves. Também já tive a sorte de cantar nas maiores salas de espetáculo do mundo, como o Carnegie Hall, em Nova Iorque, e o Olympia, em Paris. Mas todas as salas são especiais e gostava de cantar no Meo Arena, o que ainda não aconteceu. Mas tudo a seu tempo.
Produção: Fashion Studio Lab
“Styling”: Alana Adolfo e Mar Garcia
Maquilhagem: Patrícia Ribeiro com produtos L’Oréal Luxe
Agradecemos a colaboração de Anna Afonso, D’Ornellas Boots e Duo Hotel Lisbon