
Jornalista por vocação, pivô pelo desafio, Sara Pinto, de 38 anos, tem feito um percurso seguro na sua carreira, que começou no Porto depois de terminar a faculdade.
Há três anos, deixou a SIC para abraçar novos projetos na TVI e não se arrepende. Atualmente, conduz o Jornal da Uma, uma decisão que esteve longe de significar uma despromoção depois de ter feito o horário nobre, mas uma decisão tomada por ela, em conjunto com a direção de Informação do canal, e que lhe permite acompanhar melhor os filhos, Vasco, de 4 anos, e Manuel, de 2, do casamento com o engenheiro civil Edgar Alves Ribeiro, por quem se apaixonou em Roma, quando ambos estudavam na capital italiana. “O mais importante para mim é ser feliz e só sou se conseguir equilíbrio entre a vida pessoal e profissional”, afirma.
– Passou para o jornal da hora de almoço, decisão na qual os seus filhos tiveram peso. Como descreveria esta fase da sua vida?
Sara Pinto – Estou numa fase muito feliz da minha vida, tanto pessoal como profissional. Esta mudança veio proporcionar mais felicidade, porque me permite conjugar melhor a vida familiar, passar tempo com os meus filhos, o que não acontecia quando estava no ar à noite. Eles são muito pequenos ainda. E do ponto de vista profissional também, porque havia o desafio de colocar o jornal com outros números nas audiências e tem corrido bem.
– Pensou que a mudança poderia significar um retrocesso na sua carreira?
– Não, até porque esta mudança parte de uma necessidade da redação, mas também minha. Para mim, não foi dar um passo atrás. Cada coisa tem o seu tempo e, neste momento, fazia todo o sentido estar neste horário.
– Trocou a SIC para a TVI há três anos. Foi uma boa aposta?
– Sem dúvida. Nunca me arrependi. Veio na altura certa. Estava e estou muito ligada às pessoas da SIC, tenho lá grandes amigos, foi lá que comecei. Há sempre um peso emocional nestas decisões, mas o facto de esta proposta ter vindo depois de ter sido mãe e de ter estado afastada a gozar a licença de maternidade ajudou-me a ter alguma coragem extra. Se fui capaz de gerar um ser humano e de estar a criá-lo, se calhar consigo fazer muito mais coisas, foi o que pensei.
– Com a maternidade passou a ver a vida de outra maneira?
– Sim, a maternidade traz-nos uma visão diferente da vida e até coragem para nos superarmos. Se calhar, esta mudança profissional também foi isso: superar medos, arriscar, mudar.

– É portuense, mas veio para Lisboa. Era imprescindível para o seu crescimento profissional?
– Não tinha outra alternativa. No Porto, as oportunidades são mais limitadas. Na altura, em 2008, estávamos em plena crise económica e agarrei-me ao que havia. Isso exigia a mudança para Lisboa e não hesitei.
– Deixarmos o local onde nascemos e crescemos pode ser difícil.
– E foi. No início, foi muito complicado. O meu marido, na altura namorado, continuou no Porto, era lá que tinha a família e os amigos. Mudar para Lisboa de repente, sozinha, foi difícil, mas creio que já posso considerar que esta é a minha casa.
– A dada altura, o Edgar veio ter consigo?
– Não foi imediato. Demorou cinco anos a conseguirmos estar juntos em Lisboa. Ele ainda trabalhou dois anos em Londres, eu ponderei mudar-me para lá. Cheguei a ir a uma entrevista na BBC, mas depois acabei por decidir ficar, até porque a minha carreira estava a tomar um caminho ascendente e veio ele.
– Foi uma decisão ponderada pelos dois.
– Sim. Queríamos constituir família, estávamos cansados de estar longe e decidimos que era hora de ficarmos juntos no mesmo sítio. O meu marido acabou por abdicar de seguir a carreira dele de uma forma diferente para estar comigo e concretizarmos os nossos sonhos.
– Durante este caminho nunca houve arrependimento?
– Não. Escolhemos ficar no nosso país e somos felizes. Seria ainda mais complicado criar filhos no estrangeiro, se bem que aqui também não temos grande apoio familiar, mas numa emergência está a três horas de distância.
– Como foi crescer em Marco de Canaveses?
– Tive uma infância muito feliz, com algumas rebeldias, mas no geral era bastante atinada. Cresci muito ao ar livre, a brincar com os vizinhos até ser de noite. Recordo esses tempos com alguma saudade.
– Foi em pequena que forjou o desejo de ser jornalista?
– Aconteceu muito nova, de facto. Sempre tive gosto pelo jornalismo. Era hábito em minha casa ver as notícias e sempre me imaginei a fazer algo deste género.
– Como pivô ou noutra área dentro do jornalismo?
– Via-me como repórter. O caminho que me levou a ser pivô surgiu depois de estar a trabalhar como repórter. Foi uma proposta que, na altura, me foi feita e que aceitei. Tenho a sorte de poder juntar os dois lados, ainda que, neste momento, esteja mais a apresentar.
– Uma função que conjuga com a maternidade, sendo os seus filhos ainda muito pequenos.
– Eles estão ambos numa idade muito exigente. A vantagem de estar neste horário é que, de facto, me permite dedicar-lhes mais tempo, ir buscá-los à escola, jantarmos em família, que era algo que não acontecia antes. Eles já estavam a dormir quando chegava.
– Precisava de equilibrar a balança?
– Completamente. Não quero olhar para trás um dia e ver que perdi a infância dos meus filhos. Quero aproveitar o tempo com eles, enquanto são pequenos, criar memórias, e daí ter dado prioridade a um outro trabalho.

– A carreira é importante, mas a família sobrepõe-se?
– Tem de haver um equilíbrio. Não sou só mãe, também sou jornalista e gosto muito do que faço.
– Sente que é importante passar a mensagem de que, para nos impormos profissionalmente, não temos de abdicar da maternidade?
– É importante passar duas mensagens. Uma é essa: a de que não temos de tentar uma afirmação profissional à custa da nossa vida pessoal. Ainda há essa pressão sobre as mulheres. A outra é que, se a mulher achar que deve dedicar mais tempo à sua vida profissional, deve fazê-lo sem constrangimentos sociais. Tem de ser uma escolha pessoal. Mães felizes proporcionam crianças felizes. E isto também é válido para os homens.
– Teve total liberdade para tomar a sua decisão?
– Estava muito decidida e senti total liberdade para conversar com a direção de Informação e, em conjunto, tomarmos esta decisão.
– O que gosta mais de fazer no tempo que dedica aos seus filhos?
– Eles têm muita energia e podiam estar sempre no parque a correr e a dar chutos numa bola. O mais velho anda encantado com o futebol. O mais novo também, mas menos. O que gosta mesmo é de autocarros. Fazê-lo feliz é pô-lo num e levá-lo a passear. Fomos recentemente a Londres e delirou com os autocarros de dois lugares. Ocupamos o máximo de tempo possível ao ar livre e é muito engraçado ver como aos olhos das crianças é preciso muito pouco para ficarem felizes. Também fazemos artes plásticas. Somos muito restritivos com ecrãs, portanto puxamos pela imaginação.
– Não deixa de viajar com eles por ainda serem pequenos?
– Ainda não viajámos para fora da Europa, mas já fomos a Londres e a Cinque Terre, em Itália. Faltou mostrar-lhes Roma, a cidade onde os pais se conheceram. É cansativo, eles não se vão lembrar, mas nós vamos e estamos a criar memórias, por isso vale a pena.
– Há uma dose extra de romantismo quando se encontra o amor em Roma. Como se conheceram?
– Estávamos a fazer Erasmus, conhecemo-nos através de um grupo de portugueses com que nos dávamos e ficámos juntos desde então. Tinha 21 anos. Levámos muito tempo até conseguimos viver os dois em Lisboa, mas cá estamos.
– São a prova de que o amor vence a distância.
– O amor quando é a sério, vence todas as distâncias. Estamos quase a fazer 20 anos de relação, já atingimos a maioridade. A vida é, obviamente, muito diferente agora. Há dias em que mal conseguimos falar os dois, porque os miúdos requerem a nossa atenção. É preciso uma relação muito forte para se conseguir superar os dias de exaustão. Felizmente, as bases que temos de amor um pelo outro têm feito com que este barco continue a navegar, mesmo que, às vezes, por águas tumultuosas.
– Pensa ter mais filhos ou dois é a conta perfeita?
– Gostava de ter mais um filho. Se viesse uma menina era muito bom, mas, se for outro menino vou ficar igualmente feliz.
Cabelos: Paula Correia para Lúcia Piloto
Maquilhagem: Marta Cruz
Agradecemos a colaboração de Casiraghi Forever, Cristina Lemos, Eugénio Campos, Hyatt Regency Lisboa e Luís Onofre