
Para Joana Almeida, de 39 anos, natural do Porto, parece não haver impossíveis. Com apenas 15 anos, tornou-se assistente do mais consagrado mágico do país, Luís de Matos, o que não a impediu de se licenciar em Farmácia e de ter a sua própria farmácia e, mais recentemente, de concretizar um sonho antigo, abrindo uma escola de dança, uma das suas grandes paixões desde criança. E apesar de ter uma filha de 6 anos, Noa, consegue fazer magia com o seu tempo e acompanhar as digressões nacionais e internacionais de Luís de Matos, graças ao apoio fundamental dos pais. É o caso por estes dias, em que o atual espetáculo do mágico, Luís de Matos Impossível ao Vivo, que conta com a participação de quatro mágicos estrangeiros, está no Coliseu Porto Ageas até ao dia 19 de janeiro, depois de ter estado na Figueira da Foz e em Lisboa.
Foi também num ambiente mágico, o Chapitô, em Lisboa, que Joana nos contou um pouco da sua história de vida.
– Como é que se torna assistente do Luís de Matos com apenas 15 anos?
Joana Almeida – Na verdade, não sabia muito bem para o que ia. Eu fazia parte de um grupo de dança e uma delas apercebeu-se de um casting que estava a ser anunciado num jornal para um programa de televisão. Acabámos por ir todas fazer o casting a Coimbra, pois era mais um momento para estarmos juntas. Fizemos o casting e regressámos ao Porto. Eu fiquei sem bateria no telemóvel e só à noite, quando o liguei, vi que tinha uma mensagem do Pedro Lino, que na altura trabalhava com o Luís, era o coreógrafo do programa, e estava a fazer a seleção – estavam a selecionar cerca de 20 assistentes –, a dizer-me: “Joana, foste selecionada para a próxima fase.” Que ia acontecer nessa noite. Liguei a dizer que já estava no Porto, mas eles disseram que podia ir no dia a seguir, e acabei por ficar. Nessa época éramos várias assistentes, mas com o tempo acho que foi havendo uma espécie de seleção natural e, aos poucos, as outras foram saindo e acabei por ficar só eu.
– Isso implica certamente uma grande empatia entre os dois.
– Sim, sim, muito grande. Já são 24 anos a trabalharmos juntos.
– Imagino que tenha sido uma grande excitação ser selecionada.
– Na altura era tão novinha que nem tinha bem a noção do que me estava a acontecer. Mas apesar de vir de uma família de médicos, o mundo do espetáculo sempre exerceu um grande fascínio sobre mim e nesse aspeto tive muita sorte, até porque consegui sempre conciliar com os estudos.

– Os seus pais aceitaram bem esse seu caminho?
– Sim, só foi possível por isso mesmo. Porque eles sabiam que eu aproveitava todos os bocadinhos, mesmo nas viagens, para estudar, que conseguia conciliar tudo, que era muito responsável, que cumpria tudo.
– A magia perdeu a magia quando percebeu o que é que estava por detrás dos truques?
– É diferente, sim, mas continua a ser mágico ver o poder que a magia tem sobre as pessoas, que apesar de saberem que não é possível, veem as coisas acontecer perante os seus olhos e perguntam-se permanentemente como é que é possível. E o que acontece é que elas acabam por assistir a magia de verdade, porque ela acontece de facto. Portanto, a magia permite que as pessoas sonhem. E conseguirmos isso é muito gratificante. Ainda me divirto muito em palco.
– Também ainda sonha ou é só trabalho?
– É trabalho, mas ao mesmo tempo, esta dupla com o Luís entusiasma-me sempre muito, faço os espetáculos com muita satisfação, porque funciona tudo muito bem, temos muito companheirismo, tanto no palco como fora dele. O Luís faz questão de estar presente sempre que eu preciso. Afinal, ele acompanhou desde muito cedo o meu percurso pessoal e profissional. Viu-me crescer, viu-me ser mãe e concretizar outros projetos, como a farmácia ou a escola de dança.
– O Luís faz muitas parcerias com mágicos estrangeiros de grande renome. Considera que ele está ao nível dos melhores?
– Ah, sim, sem dúvida! O Luís é um artista extremamente completo e inigualável. E é um comunicador absolutamente fantástico, tem uma série de qualidades que não se encontram facilmente. Como ser humano e como artista.
– Não tem medo de truques como aquele em que fica fechada num tanque cheio de água?
– Quando o Luís me falou desse número fiquei em pânico, porque se há coisa que me aflige é a água, mas, por incrível que pareça, quando fui fazer a experiência ao estúdio a coisa correu muito bem. A água estava muito quentinha, ele criou todo um sistema de aquecimento da água, e acaba por ser um momento relaxante e confortável, é como se estivesse num spa [risos]. Depois, a parte de não respirar durante o tempo que estou no tanque é que é mais complicada.
– Tendo a Joana outras atividades, quando estão a ensaiar números novos deve ser complicado conciliar com tudo o resto na sua vida.
– Sim, quando temos truques novos demoramos muito tempo a ensaiá-los, por isso, por vezes é complicado. A parte boa é que podemos estar um mês, dois meses, um ano, três anos sem o fazer, que não precisamos depois de grandes ensaios, porque ficou muito bem oleado à primeira, as coisas já acontecem espontaneamente.
– Fazem muitas atuações no estrangeiro?
– A maioria dos espetáculos são de facto no estrangeiro. Por acaso, o Impossível ao Vivo, que é um espetáculo incrível e tem tido um sucesso fora do comum, tem feito com que estejamos mais em Portugal, mas somos muito convocados para ir para fora, ainda agora em dezembro estivemos um mês em Paris.
– Entretanto, surgiu o projeto da escola de dança Action. Dá aulas?
– Este projeto acabou por tomar proporções que eu não estava à espera, até porque já tenho duas escolas, e acaba por me tirar muito tempo. Para mim as 24 horas do dia não chegam, porque estou nas frentes todas, desde a parte administrativa, redes sociais, design, organização das equipas e, no meio disto tudo, acabo por não conseguir dar aulas, que foi o que me fez abrir a escola [risos].

– Com uma filha de 6 anos a sua agenda implica certamente uma logística complicada.
– Como sou a única assistente do Luís, não posso mesmo faltar, é muito raro dizer-lhe que não posso. Acho que é sempre possível fazer tudo, mas há de facto momentos mais difíceis. É imprescindível o apoio que tenho dos meus pais. Se assim não fosse, era impossível. À hora a que a Noa está a sair do colégio as atividades na Action estão a arrancar e acabam à noite a horas a que ela já tem de ter tomado banho, jantado e estar pronta para ir para a cama.
– Ela aceita bem as suas ausências?
– Da mesma forma que eu tenho pena de não estar mais tempo com ela, ela também tem pena de não estar mais tempo comigo, mas é compreensiva, diz-me que percebe que eu tenho de trabalhar.
– A Noa gosta de a ver em palco?
– Gosta, imenso, e está naquela fase em que faz muitas perguntas, quer perceber tudo, apesar de eu não poder revelar-lhe os truques.
– Qual é o número que mais gosta de fazer?
– Há muitos, mas tenho um pelo qual tenho um carinho muito especial, por ter sido o primeiro. É uma caixa que está suspensa, eu entro nela, o Luís acaba por separar a caixa em gavetas, depois cai gaveta a gaveta, voltam a formar a caixa e eu apareço lá dentro. Mas provavelmente neste momento a ilusão de que talvez mais goste é a dupla levitação. Levitamos os dois e no final eu desapareço.
– É uma mulher bem-sucedida a vários níveis.
– Sim, felizmente. Não sei estar parada e, portanto, as coisas vão surgindo e eu não lhes digo que não.
Produção: Sandrina Francisco assistida por Mar Garcia e Andrea da Costa
Maquilhagem: Camila Sofia com produtos L’Oréal Luxe
Agradecemos a colaboração de Chapitô e Louise Marel