
Longe de querer passar a imagem de que a sua vida é feita de episódios espetaculares, Tânia Ribas de Oliveira, de 48 anos, prefere mostrar-se tal como é, sem filtros nem artifícios no seu livro Ser Feliz nos Dias Normais, no qual mostra que é possível sentir-se completa e realizada nos dias banais. É também assim que a apresentadora do programa A Nossa Tarde, da RTP1, se revela nesta conversa com a CARAS, em que falamos das suas memórias de infância e adolescência, da passagem dos anos, que encara com completa serenidade, e da família, o seu grande pilar. Com o marido, João Cardoso, e os filhos, Tomás, de 12 anos, e Pedro, de 9, encontrou o equilíbrio perfeito.
– O seu livro é quase um diário em que vai relatando a sua vida em determinados momentos.
Tânia Ribas de Oliveira – Sim. É o primeiro livro que escrevo dirigido a adultos, onde conto muitas histórias da minha infância, mas pela minha voz de mulher. São vários textos, crónicas sem uma ordem cronológica, alguns deles já escritos há bastante tempo, como aqueles que relatam o nascimento dos meus filhos, e outros inéditos mais recentes. No fundo, é um bocado o meu olhar sobre o mundo.
– Sobre o mundo, mas muito mais sobre si.
– Bastante sobre mim. Gosto muito de olhar para dentro e perceber-me, porque todos nós somos fruto do que vivemos e das circunstâncias do nosso passado e crescimento. Também gostei de assumir algumas fragilidades e contar coisas menos boas que se passaram na minha vida para que as pessoas entendam que somos todos iguais. Lá porque a minha profissão está exposta e me conhecem, sou um ser humano igual aos outros. Essencialmente, o livro é o meu olhar para as coisas simples da vida, que me fazem sorrir.
– Fala muito no seu avô paterno. É uma grande referência na sua vida?
– Os meus avós paternos são uma referência muito grande na minha vida, até porque os maternos – a minha avó ainda é viva – sempre viveram longe, na Gafanha da Nazaré. Os meus avós paternos viviam em Lisboa, nós passámos todos os fins de semana com eles e uma boa parte das férias também. Eram muito jovens – quando nasci, a minha avó tinha 42 anos e o meu avô 46 – por isso tinham energia máxima para fazermos tudo. Íamos para o Magoito, para o Oeste, passávamos os verões no Vimeiro. Estes meus avós são sempre uma referência muito próxima e muito quentinha de uma infância feliz.
– E os seus pais, que eram também muito novos quando nasceu?
– Os meus pais tinham 20 anos quando me tiveram. E nós, eu e o meu irmão mais velho, crescemos com pais muitos jovens de facto. Quando tinha 15 anos, eles tinham 35. Tenho 48 e filhos pequenos, por aqui vemos a diferença. Sempre tive grande proximidade dos meus pais, até por essa diferença de idades muito curta.

– A família sempre foi para si um pilar fortíssimo em todos os momentos?
– Sem sombra de dúvida. Os meus pais divorciaram-se quando nós éramos adolescentes e a minha mãe quis comprar casa em Telheiras, para continuarmos todos próximos. Eles são superamigos. O divórcio dos meus pais não foi nada traumático para mim. Lembro-me perfeitamente que não se davam bem. Quando se decidiram divorciar, para mim, foi um alívio e achei que para eles era extraordinário, pois eram muito jovens para estarem num casamento que não os fazia felizes. E, na verdade, pouco tempo depois encontraram as pessoas com que ainda estão hoje em dia.
– Na adolescência, já era, portanto muito serena. Não teve momentos de rebeldia?
– Nunca fui uma adolescente rebelde, até porque, na realidade, principalmente o meu pai não me dava muita abertura para isso. Tínhamos horas para chegar a casa, não havia aquela coisa do volto amanhã ou vou dormir a casa de uma amiga. As minhas amigas dormiam em minha casa muitas vezes, mas eu raramente ia dormir à delas. Passava férias da Páscoa com amigos em Faro, mas o meu pai conhecia os pais deles. Tínhamos liberdade com limites e por isso não podíamos variar muito. Fiz os disparates normais e tenho um grupo de amigas maravilhoso que vem desde essa altura. Tive uma adolescência muito gira.
– Houve, no entanto, um episódio que envolveu uma mota?
– É verdade. Eu e uma amiga pedimos uma mota emprestada e tivemos um acidente. Não teve consequências, mas valeu-me um valente susto e um grande castigo.
– Qual é o segredo para se ser feliz todos os dias?
– Não há um segredo. A nossa vida não é feita de picos contínuos, de festas. 99,9 % dos nossos dias são normais. Se estivermos à espera de um dia especial para sermos felizes, desperdiçamos a vida toda, logo, é aproveitar com um sorriso. Sou uma pessoa de rotinas, os meus dias são banais. Vou levar os meus filhos à escola, vou à mercearia, trato dos meus assuntos, trabalho, regresso a casa, trato de banhos, faço o jantar. Isto é tudo normal, mas tenho muita sorte, porque adoro o que faço, seja na minha profissão – às vezes, sento-me no estúdio e nem acredito que sou eu quem apresento este programa – ou na minha vida pessoal, na qual sou mesmo muito feliz.
– Mas até chegar ao topo como apresentadora houve um caminho?
– Foi um caminho muito grande. Estou na RTP há 20 anos e estou todos os dias no ar, em direto, há 17. É óbvio que é o culminar de muito trabalho. É preciso entrega, estudo, não é só chegar apresentar e ir embora. Parece fácil, mas não é. Não interessa como se chega aos sítios, para provares que mereces ficar não basta teres uma carinha bonita nem 500 mil gostos no Instagram. Isso não é suficiente para chegar ao coração das pessoas, para ter empatia, para saber trabalhar. Sei que fiz um caminho e que hoje estou à vontade para fazer qualquer programa de televisão.
– Ao fim de 25 anos, continua apaixonada pelo que faz?
– Sou completamente apaixonada por aquilo que faço. Estou em A Nossa Tarde há seis anos e esta é a minha linguagem favorita e o meu público também. Gosto de trabalhar para aqueles que precisam mesmo de nós. Quem vê os programas da manhã ou da tarde são os que passam praticamente o dia sem falarem com ninguém e que precisam do nosso sorriso e das nossas conversas para se sentirem acompanhados. Isso para mim é uma missão. Encaro a minha profissão como uma missão de vida e, por isso, sinto-me muito à vontade neste formato. Talvez até pela relação que sempre tive com os meus avós, de afeto, carinho e muito respeito. Uma vez chamaram-me a neta de Portugal e achei muita graça. Nos anos 90, havia a namoradinha de Portugal e eu passei a ser a neta e tenho muito orgulho nisso.
– Foge ao estereótipo da apresentadora de televisão. Acha que abriu caminho na desconstrução de uma certa figura física?
– Penso que se foi desconstruindo essa imagem aos poucos, mas mais importante do que isso é vermos mulheres com 60 anos a apresentar programas, o que não acontecia. Isso orgulha-me, porque não temos um prazo de validade.
– Preocupa-se com a proximidade dos 50?
– Bom, já não vou viver tanto como vivi, mas sinto-me muito bem na minha idade. A passagem do tempo é inevitável, não paro muito tempo a pensar nisso. Sou muito de viver o dia a dia e não como vou estar daqui a cinco ou dez anos. A minha preocupação é estar cá para os meus filhos, poder vê-los crescer.

– Como são os seus filhos nesta altura?
– Os meus filhos estão em idades muito engraçadas. São miúdos incríveis que nós, pais, vamos vendo crescer com muito orgulho. O Tomás é mais parecido com o meu marido e o Pedro comigo. Enquanto irmãos adoram-se. É uma alegria ser mãe deles. Somos uma família com sorte por nos termos uns aos outros. Sinto que estamos a fazer um bom trabalho e que vamos no caminho certo.
– Ser mãe não foi algo fácil para si, como relata, aliás, no livro?
– Não foi, de facto. Antes de ficar grávida do Tomás, passei por duas situações em que as gravidezes não seguiram. Foi muito difícil para mim, mas é uma coisa absolutamente normal, acontece a muitas mulheres, e foi nesse sentido que fiz esta partilha. Tudo acabou por correr bem. Ouvir o batimento do coração de um filho é uma coisa absolutamente maravilhosa e fiquei rendida aos meus filhos mal os ouvi na minha barriga.