
De um problema de pele que a levou a questionar tudo até à fundação do The Therapist, Joana Teixeira viveu uma transformação que hoje é uma inspiração para quem acompanhou o seu percurso. Após anos de stress, má alimentação e desafios no mundo corporativo, encontrou na medicina chinesa e na nutrição funcional o caminho para se curar. Em 2017, lançou um projeto pioneiro, enfrentou altos e baixos no empreendedorismo e aprendeu lições valiosas que agora partilha como mentora. Uma história de resiliência, determinação e paixão por um estilo de vida mais saudável, que a CARAS ficou a conhecer durante uma conversa acompanhada por um almoço, saudável e saboroso, no espaço The Therapist do Lx Factory, em Lisboa.
– Como surgiu a ideia de criar o The Therapist?
Joana Teixeira – A ideia nasceu de uma necessidade pessoal. Aos 21 anos, desenvolvi um problema de pele que me afetava muito e que resultou de muitos erros alimentares que fui cometendo ao longo do tempo. Consultei vários dermatologistas, passei dois anos a fazer tratamentos, tomei antibióticos, e nada resultava. Foi então que decidi experimentar a medicina chinesa. Através de acupuntura, fitoterapia e mudanças na alimentação, fiquei curada em menos de um mês. Esse episódio mudou a minha vida. Fui procurar mais informação sobre nutrição funcional e comecei a aplicar o que aprendia no meu dia a dia.
– Começou a cozinhar para si própria?
– Sim, e a descobrir que era possível comer saudável com sabor, porque achava que comida saudável era tipo alpista, que não tinha graça nenhuma. Depois tornou-se um prazer cozinhar comida verdadeira.
– O que é comida verdadeira?
– É comida feita com ingredientes reais, sem processados, sem aditivos. Costumo dizer que é fácil comer saudável, é só não comprar coisas de pacote. Nessa altura, decidi arriscar e, aproveitando uma reestruturação na multinacional onde trabalhava, deixei a empresa e, em 2017, abri o The Therapist, no Lx Factory.
– O conceito inicial era o mesmo que o atual?
– Não, na verdade o plano original era uma clínica de terapêuticas não convencionais com uma pequena cafetaria de apoio. A ideia era integrar consultas com refeições saudáveis, para que as pessoas pudessem cuidar do corpo e da mente ao mesmo tempo, no mesmo espaço. No entanto, a cafetaria começou a ganhar um protagonismo inesperado. Na altura, não havia o conceito flexitariano, não havia espaços, como este, com comida sem glúten, laticínios e refinados. Era ainda uma novidade. Rapidamente, percebi que a alimentação funcional tinha um apelo mais amplo e acessível. Foi então que mudei o foco e decidi investir mais nesse lado do negócio. A transição não foi fácil, porque precisei repensar a estrutura e a operação.
– Qual foi o momento mais desafiante até agora?
– Houve vários, na verdade. A pandemia foi um deles. Em 2020 tive de encerrar dois espaços que entretanto tinha aberto, um na Rua Rodrigo da Fonseca e outro no exterior do Ubbo, na Amadora. Entretanto, fui despejada do Lx Factory, onde o The Therapist tinha começado. Para mim, foi um golpe emocional muito grande. Recomeçar do zero foi uma experiência que me marcou profundamente. Fui à procura de um novo espaço e consegui abrir um novo The Therapist em Alvalade. Outro grande desafio foi lidar com um burnout. É algo de que raramente se fala, mas ser empreendedor pode ser solitário e desgastante. Trabalhei tanto para sustentar o negócio que, ironicamente, deixei de cuidar de mim mesma. Foi mais ou menos um ano e tal depois de ter aberto o primeiro restaurante. O meu primeiro filho tinha 7 meses e ainda mamava quando abri o espaço, e só começou a dormir a noite inteira aos 2 anos, o que também não ajudou. Eu estava muito cansada, exausta mesmo, e decidi repensar a minha forma de viver. Não fazia sentido estar a vender saúde sem a praticar. Acabei por criar uma estrutura para que as coisas não dependessem só de mim para funcionar. Contratei um gerente e uma pessoa para me ajudar em casa. Mudei um bocadinho a minha forma de fazer as coisas, organizei equipas que me permitiam gerir o restaurante de forma mais tranquila. Mas foram anos neste processo, a aprender, e a errar.

– Como define a alimentação funcional?
– Alimentação funcional não é só sobre comer saudável. É entender o impacto que os alimentos têm no nosso corpo, como eles podem prevenir doenças e melhorar o bem-estar geral. No The Therapist, trabalhamos muito com ingredientes sazonais, locais e maioritariamente vegetais. Mas a ideia principal é mostrar às pessoas que comida saudável pode ser prática e deliciosa. Uma das coisas que mais gosto de fazer é desmistificar o conceito de “alimentação chata”. Há tantas combinações e sabores incríveis que podemos explorar. Comer bem não precisa ser complicado.
– O que aprendeu com os erros que cometeu?
– Aprendi, acima de tudo, a importância de planear e delegar. No início, queria fazer tudo sozinha. Era gestora, responsável pelo marketing… e isso simplesmente não é sustentável. Outro erro foi subestimar o lado financeiro. Muitas vezes, os empreendedores começam com paixão, mas esquecem-se de garantir que o negócio é viável.
– Que conselho daria a quem está a pensar empreender?
– Empreender é maravilhoso, mas também é duro. Um dos erros mais comuns é pensar como é que vão abrir o negócio, mas não pensarem como é que o vão manter até começarem a faturar o suficiente. Outro erro é estar muito na operação e pouco na gestão. É preciso ter resiliência, paciência e saber lidar com o fracasso. Mais importante ainda, nunca perder de vista o nosso propósito. É ele que vai guiar todas as nossas decisões, especialmente nos momentos difíceis.

– Como concilia o trabalho com a vida pessoal?
– Essa foi uma das minhas maiores batalhas. Durante muito tempo, o trabalho ocupava tudo. Eu vivia para o The Therapist e deixava a minha família e até a minha saúde para segundo plano. O burnout foi um aviso claro: ou eu mudava ou ia desmoronar. Hoje, tento manter um equilíbrio. Organizo a minha semana de forma a reservar tempo para mim e para a minha família. Passeios com os meus filhos, momentos de pausa, viagens… tudo isso é essencial para me manter focada e feliz. Aprendi que, quando cuido de mim, tudo funciona melhor. É uma lição simples, mas que muitos de nós ignoramos no dia a dia. Não se fala muito da sanidade mental dos empresários e dos pequenos empreendedores, mas é extremamente importante estarem equilibrados. Quando eu estive mal, a minha equipa estava desorientada, desmotivada. É muito importante estar bem, para poder transmitir isso à equipa e aos meus filhos também. Se quero inspirar os outros a cuidarem da saúde, preciso dar o exemplo.
– Quais são os planos para o futuro do The Therapist?
– Acredito que há muito mais a fazer. Neste momento estou a investir em mentoria. Quero ajudar outros empreendedores que, como eu, têm ideias incríveis, mas não sabem como transformá-las em negócios viáveis. Se puder usar a minha experiência para evitar que outros cometam os mesmos erros, sinto que estarei a cumprir a minha missão.