
Foto: LUSA
Stephen Graham não é apenas um ator, é um contador de histórias que nos desafia a refletir sobre questões profundas e urgentes. Com a minissérie Adolescência – que há várias semanas se mantém no top da Netflix em vários países – conseguiu criar uma narrativa que deu origem a inúmeras críticas, opiniões e reflexões, com pais e educadores a examinarem as pressões enfrentadas pelos jovens de hoje. Inspirado pela sua própria preocupação com o futuro das crianças, Stephen Graham quis abordar temas delicados, como a violência, as redes sociais e a saúde mental. Afinal, ele próprio mantém presente os obstáculos que enfrentou, e ainda enfrenta, como a dislexia e a depressão, além dos desafios enquanto pai de Grace, hoje com 19 anos, e Alfie, de 18, que nasceram da sua relação com a também atriz Hannah Walters, que conheceu quando ambos estudavam Teatro e Representação no Rose Bruford College, e com quem se casou em junho de 2008.
Nascido em Kirby, nos arredores de Liverpool, Stephen, de 51 anos, tem ascendência irlandesa e escocesa, com uma costela jamaicana da parte do avô paterno. As suas origens trouxeram-lhe, aliás, algumas inseguranças. “Ser mestiço não era bem-visto na minha época. Houve momentos na minha infância em que não tinha certeza onde me encaixava”, recorda o ator, que teve de lidar, na infância, com algumas situações de bullying. Foi a mãe, uma assistente social, que decidiu colocá-lo no teatro, aconselhada por Andrew Schofield, um ator famoso nos anos 80, que vivia perto de casa dos seus avós. Entrou no Rose Bruford College, de onde foi expulso, e estava decidido a tornar-se bombeiro quando um telefonema a dizer que tinha sido aceite para uma audição para a novela britânica Coronation Street o fez mudar de ideias, abrindo caminho para aquela que viria a ser uma carreira de sucesso no mundo da representação.

Foto: LUSA
Foi escolhido por Martin Scorsese para atuar em Gangues de Nova Iorque, brilhou em O Irlandês, Piratas das Caraíbas e Rocketman, entre muitas outras produções de sucesso, para as quais contou sempre com o apoio da mulher, que lê os guiões e o ajuda a selecionar as suas personagens, já que o ator sofre de dislexia, o que lhe dificulta o processo de memorizar falas. “A minha mulher lê o guião e diz-me se vou ou não fazer o projeto. Até hoje tomou sempre boas decisões. Tenho de ler o guião vezes sem conta e depois fazer parecer que é a primeira vez que digo aquelas palavras”, confessou o ator, que, em 2020, fundou, com a mulher, a produtora de cinema e televisão Matriarch Production, através da qual coproduziu a minissérie Adolescência, assim como o filme O Chef.

Foto: Fred Duval/Dreamstime
A depressão foi outro dos obstáculos que quase o fizeram desistir da sua carreira. Um colapso mental causado pela solidão e pelas intensas técnicas de atuação levou a que, com 20 anos, o ator se tentasse suicidar. Uma tentativa que, felizmente, falhou, e que permitiu que contribuísse de forma significativa para o mundo da representação. Em 2023, foi distinguido com a medalha da Ordem do Império Britânico, uma homenagem que dedicou à mãe e às crianças que enfrentam dificuldades semelhantes às suas. “Para a minha mãe e para todas as crianças que ouviram um vai procurar um emprego decente”, escreveu o ator nas redes sociais, quando recebeu a distinção.