Não que se encontrem majestosas ruínas de civilizações perdidas ou panoramas muito diferentes dos que avistamos ao atravessar toda esta zona montanhosa, mas pela invulgaridade do seu mercado indígena, que se realiza às quintas e domingos, dia em que é possível acompanhar a procissão das confrarias, uma espectacular manifestação de fé que conjuga um catolicismo fervoroso com práticas ancestrais précolombianas.
Tudo começa na pequena Igreja de São Tomás. Lá dentro, as diferentes confrarias preparam-se para sair para as ruas apertadas carregando os seus vistosos andores e pendões, num despique de cor e brilho que ecoa rivalidades ancestrais. Ao descerem para o empedrado das ruas, as imagens naïves dos andores oscilam por entre a multidão apinhada e, precedendo-as, membros da respectiva confraria projectam, de tubos de ferro que lembram morteiros, petardos de pólvora que atroam o ar quente e fazem levantar os pássaros em alvoroço.
A religiosidade compenetrada dos acompanhantes da procissão penetra a efervescência da feira, surgindo aos nossos olhos como uma imagem saída de tempos medievais.
A toda a volta prossegue a azáfama rotineira de compra e venda, e só quando os andores lhes passam em frente, vendedores e fregueses interrompem o regateio para se benzer ou murmurar uma prece ao santo da sua devoção. Índias de colorida saia rodada cobrem a cabeça com lenços de algodão e ajoelham-se em recolhimento nas pedras de basalto. A criançada segue, espinoteando, a charola, que é precedida por uma banda donde se eleva uma melopeia sincopada e estridente. É Chichicastenango no seu melhor. E é assim todas as semanas.
A NÃO ESQUECER:
Como ir: Embora perdida nas Terras Altas, a pequena cidade de Chichicastenango tem boas ligações por ‘minibus’ com Antígua e o lago Atitlán, os dois sítios mais visitados pelo turismo na Guatemala.
Quando ir: Os meses mais indicados para visitar a Guatemala e o resto da América Central vão de Novembro a Fevereiro, correspondendo à estação seca e proporcionando temperaturas mais amenas.
O que fazer: Só apreciar a azáfama do mercado indígena, é uma boa razão para visitar Chichicastenango. Se a isso juntarmos o espectáculo único da procissão de domingo, temos um programa completo. Claro que as feiras fizeram-se para comprar, e há muito por onde escolher. De belíssimos têxteis coloridos a artigos de couro e bugigangas decorativas, a única regra é regatear até à exaustão.