Há 4,6 biliões de anos, Deus criou a Terra. E pareceu-lhe perfeita. Há 8,1 milhões de anos, porém, percebeu que lhe faltava um pequeno detalhe para a perfeição. Revolveu o fundo dos mares e deles fez sair, uma a uma, num longo parto marcado por rugidos, abanões e jatos de fogo, nove ilhas de picos elevados, lagoas serenas e profundas, costas agrestes de areais negros recortadas, aqui e ali, por baías tranquilas e acolhedoras, caldeiras vulcânicas, muitas e de todos os tamanhos. Algumas com tamanho para acolher cidades lá dentro, outras pouco maiores que uma mesa de jantar. Apaixonado por esta sua criação, Deus quis que esta fosse a sua obra inacabada, pois, de tempos a tempos, faz-lhe alterações mais ou menos profundas na fisionomia, que vai sempre retirar às entranhas da Terra e que podem modificar da cor ao relevo e às dimensões daquelas ilhas.
Entretanto, há cerca de seis séculos, Deus quis testemunhas para a sua maravilhosa criação e conduziu até às ilhas as pequenas embarcações de uns intrépidos marinheiros. Deslumbrados com o que acharam, os portugueses fizeram do arquipélago um porto de abrigo a meio do imenso oceano Atlântico. Povoaram aquelas nove jangadas de pedra, cultivaram-nas e, graças a um clima ameno, mas sempre húmido, transformaram-lhe a natureza, cobrindo o seu solo vermelho (se de formação mais antiga) ou preto (se de formação mais recente) de todos os tons de verde que para ali conseguiram levar dos quatro cantos do Planeta.
S. Miguel, a maior e a segunda a ser descoberta, impôs-se naturalmente como a capital. Com isso, é certamente a que mais tem sofrido com as alterações que o ser humano impõe aos seus habitats, algumas das quais violam profundamente a natureza. Ainda assim, quando nos afastamos um pouco da “civilização”, a ilha continua a ter mil e um encantos para nos mostrar.
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