Poderíamos ter centrado esta entrevista no facto de
Ana Sousa ser uma
designer de sucesso com 62 lojas espalhadas pelos quatro cantos do mundo e manequins de renome internacional, como
Letícia Birkheuer,
Helen Svedin,
Kim Cloutier ou
Larissa Castro a servirem de imagem aos seus catálogos. Mas o lado profissional é certamente o que a maioria das pessoas conhece. O que talvez não se saiba é que Ana Sousa, de 52 anos, nasceu numa aldeia, no seio de uma família rural, casou-se aos 18 anos e foi mãe pela primeira vez um ano depois. Para descobrirmos estas e outras curiosidades, marcámos encontro na quinta da família, em Manhente, Barcelos, onde a
designer se deixou fotografar sob o olhar carinhoso dos seus maiores admiradores: o marido,
João Sousa, e os dois filhos,
Nuno, de 33 anos, e
Sandro, de 27. Ana mostrou-se instintiva, generosa e lutadora, características que os outros facilmente lhe reconhecem. Difícil é resistir à sua simpatia.
– Nasceu numa aldeia perto de Barcelos. Era a típica menina da aldeia?
Ana Sousa – Pelo contrário. Antes do 25 de Abril já eu marcava pela diferença. Usava minissaia, tinha o cabelo curto, pintava as unhas de todas as cores, inclusivamente vermelho, e fumava por rebeldia, para me afirmar. Era extrovertida e as pessoas diziam-me que eu não era uma menina da aldeia, que parecia uma menina da cidade.
– Nunca precisou de trabalhar no campo?
– Sou de uma família rural, a mais nova de sete irmãos. Os meus pais trabalhavam no campo e eu era a única que dizia que não queria ir para o campo. Gostava de desenhar e queria estudar. E a minha mãe deu-me a oportunidade de seguir o meu sonho.
– Ela deve ter ficado orgulhosa ao ver o seu percurso…
– A minha mãe não chegou a ver os meus sonhos concretizarem-se, pois morreu quando eu tinha 13 anos. Mas tinha muito orgulho em mim. O meu pai, sim, chegou a ver a minha progressão. Morreu aos 82 anos.
– Era boa aluna?
– Muito aplicada, os meus cadernos eram irrepreensíveis, tanto que a minha professora os mostrava às outras meninas como sendo um exemplo. Ainda hoje os guardo como recordação.
– Casou-se aos 18 anos para sair de casa, ganhar liberdade, ou porque estava perdidamente apaixonada pelo João?
– Casei-me para ter mais liberdade, mas também porque estava apaixonada. Na altura, vivia só com duas das minhas irmãs e com o meu pai, e não podia fazer tudo o que queria. Por isso decidi casar-me. Mas também estava muito apaixonada. Essa paixão deu lugar ao amor, que dura há já 34 anos…
– Mas foi um casamento tradicional ou quebrou o ritual?
– Casei-me de branco, de véu e grinalda, pela Igreja, numa cerimónia à qual assistiram 125 pessoas, e depois seguiu-se um almoço. Acho que não poderia ter sido mais tradicional. [risos]
– E a liberdade que tanto queria, conseguiu-a ou passou a viver em função do seu marido?
– Acabei por não o conseguir, mas não por causa do meu marido… É que dez meses depois fui mãe. Tinha 19 anos, achei que tinha de trabalhar, e pus mãos à obra. Comecei a minha luta.
– Ser mãe aos 19 deve ter sido uma aventura…
– Sim, mas na altura com 19 anos éramos mais adultas do que hoje. Com a ajuda da minha sogra, criava o Nuno e trabalhava.
– Depois nasceu o Sandro…
– Seis anos depois! E, dessa vez, sim, foi uma mudança muito grande. Eu estava na Flor da Moda, empresa que o meu marido, juntamente com dois irmãos, criou em 1981 e que se dedica à produção de roupa para várias marcas, entre as quais a Ana Sousa. A minha vida profissional estava a crescer e de repente soube que estava grávida. Chorei imenso. Ia ter de interromper a minha actividade e não me sentia preparada. Mas depois do choque inicial senti uma alegria imensa. E na prática a minha carreira não ficou prejudicada. Doze dias depois do Sandro nascer fui fazer uma colecção.
– Como é viver rodeada de homens?
– Fico tão feliz! O meu marido e os meus filhos são tão meus amigos, sou tão acarinhada por eles… Quando estava grávida do Sandro, achei que ia ter uma menina, mas ainda bem que era um rapaz, porque hoje penso que se tivesse sido uma menina eu não seria tão mimada. Teria de repartir com ela o carinho deles. Assim, todas as atenções são para mim. [risos] São os três homens da minha vida…
– Que hoje preferiram ficar nos bastidores…
– Eles não querem aparecer. Acompanham-me sempre, não me deixam ir sozinha a lado nenhum. Estão sempre por perto e querem que as atenções recaiam sobre mim. Acham que o trabalho deles é nos bastidores, que se aparecerem me tiram o protagonismo. Para eles, sou como um ídolo.
– Como é que se mantém saudável um casamento?
– É complicado. Nem sempre foi fácil, nem tudo são rosas, e claro que temos divergências, mas a nossa união é muito forte. Temos um lar feliz.
– Suponho que as divergências venham sobretudo do facto de trabalharem juntos…
– Pois não é muito fácil trabalharmos juntos, embora eu esteja ligada ao design e ele à economia. Os números não me dizem nada, não sei, nem quero saber. Ele é um óptimo gestor, eu faço a parte criativa. Se as colecções forem bonitas, o dinheiro há-de aparecer. Por vezes, o meu marido tenta discutir os problemas da empresa quando estamos em casa, contra a minha vontade, e acabo por convencê-lo a fazer isso na empresa…
– E não precisam de um escape, de estar sozinhos?
– Quando viajo em trabalho, faço-o com algumas colaboradoras do meu departamento, e ele também viaja com as pessoas com quem trabalha directamente, por isso acabamos por arranjar tempo para estar separados.
– Acha que o vosso casamento é indestrutível?
– Estamos casados há 34 anos e penso que, com a união que temos tido, nada vai destruir o nosso casamento.
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