Este verão a princesa
Letizia mostrou-se cada vez mais determinada em impor as suas regras. Esteve em Palma de Maiorca apenas quatro dias, não coincidiu com as suas cunhadas,
Elena e
Cristina, e ainda sentiu liberdade para fazer declarações desastradas sobre os dias que é obrigada a passar todos os verões na ilha. Depois, partiu rumo a umas desejadas férias privadas na companhia do marido, o príncipe
Felipe, e das filhas,
Leonor e
Sofía, deixando para trás as mais polémicas férias de sempre da família real espanhola. Cansado deste comportamento, pois considera que a falta de harmonia põe em causa a imagem e longevidade da família real,
Juan Carlos decidiu reunir filhos e nora e chamar todos à razão, garantem fontes de círculos próximos do rei. E um facto é que, dias depois, no casamento de
Nikolaos e
Tatiana da Grécia, tanto Letizia como Elena e Cristina fizeram um esforço para aparecer sorridentes e em grupo.
A polémica estalou com um desabafo que Letizia fez junto dos jornalistas que estavam no Clube Náutico de Palma a fazer a cobertura da Copa del Rey:
"São isto férias privadas?" A princesa nunca escondeu que não aprecia especialmente estes habituais dias em Palma, pois, ao contrário do resto da família, incluindo Felipe, não gosta de regatas, preferindo gozar uns dias sossegada com o marido e as filhas. Mas ao desabafo Letizia ainda juntou a frase:
"Não tenho saudades nenhumas do jornalismo. Gosto muito do meu trabalho atual!" Claro que as suas declarações tiveram eco em todas as televisões e jornais espanhóis, e consta que o rei ficou chocado, o que é fácil de compreender se tivermos em conta que este tipo de aparições estivais fazem parte do seu trabalho de princesa-consorte (o tal de que diz gostar), nomeadamente para promover a ilha como destino turístico. E, mais importante ainda: estes dias são pagos pelos cidadãos espanhóis. Portanto, nem sequer se pode dizer que devam ser encarados como férias puras, pelo que não poderia ter caído pior o desabafo de Letizia, proporcionando diversas especulações sobre a relevância e legitimidade da existência de uma família real.
Durante os dias passados em Palma, e mesmo antes destes desabafos, Juan Carlos já pedira ao filho que servisse de intermediário entre a mulher e as irmãs na tentativa de melhorar as relações familiares, já que, até aí, era o assunto que merecia maior especulação. Não foi bem sucedido: exatamente no dia em que Elena e Cristina chegavam a Palma de Maiorca para se juntar aos pais, Letizia desaparecia da ilha com as filhas (Felipe saíra antes para assistir à tomada de posse do presidente da Colômbia) com o objetivo de ir finalmente gozar as tão desejadas férias privadas e, aparentemente, indiferente ao resultado dos seus comentários. No dia seguinte chegava
Michelle Obama para uma visita na companhia da filha mais nova,
Sasha, e inicialmente a presença da princesa não estava prevista no almoço de boas-vindas, mas fontes próximas da Zarzuela garantem que foi o rei a decidir chamá-la em cima da hora, na tentativa de minimizar os estragos que as declarações da nora tinham feito. Conclusão: Letizia deixou a ilha no sábado, dia 7 de agosto, horas depois de ter feito as polémicas declarações, e foi obrigada a regressar a Palma domingo de manhã, em avião oficial, para acompanhar os reis no almoço, tendo regressado a Madrid logo após a sobremesa. Mas se estas idas e vindas proporcionaram estranheza, mais esquisita ainda surgiu a ostracização a que foi sujeita à chegada de Michelle Obama: enquanto Juan Carlos e Sofía esperavam a primeira-dama americana à entrada do palácio de Marivent, residência oficial do casal em Palma de Maiorca, Letizia permanecia em segundo plano, como que escondida a um canto.
Apenas um pedido da rainha ao rei, no exato momento em que o carro que transportava Michelle e a filha chegava ao palácio, fez Juan Carlos recuar nesse excesso de protocolo – que muitos comentadores políticos espanhóis consideraram arcaico – e deu autorização para que Letizia descesse os degraus da escadaria e ficasse perto dele. Ficou bem evidente a fúria do rei que, ao regressar a Madrid, reuniu a família na Zarzuela para uma reunião que inicialmente previra para a primeira semana de setembro, mas que decidiu antecipar face à repercussão negativa das desavenças familiares que as férias de verão deixaram ainda mais evidentes. Sabe-se que foi uma reunião muito dura: Juan Carlos deu indicações para que Letizia e as infantas se entendessem de vez e relembrou a cada uma o seu papel na família real, sublinhando que são pagos pelos contribuintes para representar o país.
Quando saiu dessa reunião, Letizia, mais do que as infantas, estava consciente que tinha que mudar. Juan Carlos, garantem as referidas fontes, ter-lhe-á lembrado que desde a sua chegada à família real, há seis anos, as polémicas não têm cessado. É que há muito se tornou evidente que Letizia, a par do escrupuloso cumprimento das suas tarefas institucionais, sozinha ou junto de Felipe, se mostra cada vez mais desvinculada da esfera privada da família real. Basta lembrar que, no início do verão, não só esteve de férias no Algarve com as filhas enquanto o marido participava na festa de aniversário do seu tio
Constantino da Grécia, rodeado dos futuros reis e rainhas da Europa, como ainda faltou à primeira comunhão do filho mais velho de Elena.
O rei parece estar certo nos seus receios: cada vez mais atentos ao comportamento de Letizia, os espanhóis criticam o facto de parecer ser ela, pelo seu protagonismo, a ‘princesa-titular’, e o príncipe Felipe o consorte. Muitos acreditam que foi o comportamento altivo e arrogante da princesa que fez estalar a crise na monarquia e defendem que a situação é insustentável. Aqueles que previam que Letizia poderia converter-se numa nova
Lady Di, no sentido de ter sido Diana a grande responsável pelo nascimento da instabilidade na Coroa britânica, parecem cada vez mais certos. Antes do verão, Letizia deixou bem claro, perante um grupo de pessoas que ultrapassa a estrita esfera privada, que se via a si própria como a futura rainha de Espanha e a filha como sua sucessora. Uma afirmação desastrada que parece dar razão a quem a acusa de roubar protagonismo ao marido: há que ter em conta que Letizia será só a rainha-consorte, enquanto a sua filha Leonor, essa sim, será a titular do trono.
Haverá quem diga que são questões de somenos importância, mas a verdade é que já muitos comentadores falam em crise monárquica. E os próprios monárquicos exigem que Felipe chame a mulher à razão, pondo-a no devido segundo plano, ou que, em alternativa, seja alterada a Constituição, eliminando a prevalência do varão, para que reine Elena. A crise é real e todos os caminhos parecem ir dar a Letizia, mas o comportamento mais amistoso que demonstrou no casamento real na Grécia indicam que esta está disposta a mudar. Só o tempo poderá confirmá-lo.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.