Fortaleza-residência dos Grimaldi (influente família oriunda da vizinha república de Génova) há mais de 700 anos, o Palácio do Mónaco, dentro das muralhas da medieval e pitoresca Cidade do Mónaco, domina, sobranceiro, o alto de um promontório na costa mediterrânica, entre França e Itália, vulgarmente conhecido por O Rochedo.
É este palácio, que foi crescendo algo desordenado ao longo dos séculos, num somatório de vários estilos arquitetónicos, que será cenário, a 1 e 2 de julho próximos, de dois dos momentos mais importantes das comemorações do casamento do soberano monegasco, Sua Alteza Sereníssima o príncipe
Alberto Alexandre Luís Pedro, de 53 anos, com a antiga nadadora olímpica sul-africana
Charlene Lynette Wittstock, vinte anos mais nova.
No primeiro dia, Alberto unirá legalmente a sua vida à de Charlene numa cerimónia civil marcada para as 17h00, na imponente Sala do Trono do palácio. Dirigida por
Philippe Narmino, presidente do Conselho de Estado do Mónaco e oficial do Registo Civil da família soberana, esta oficialização reunirá um número reduzido de convidados, sobretudo familiares de ambos os noivos, mas os monegascos poderão vê-la em direto no exterior, nos ecrãs gigantes instalados na Praça do Palácio (e o mesmo acontecerá no dia a seguir com a cerimónia religiosa).
A título de curiosidade, a prestigiada marca alemã Montblanc fez expressamente para esta ocasião uma caneta cravejada de pedras preciosas e com o monograma AC, com a qual os noivos assinarão o livro de registos. Terminada a cerimónia, que durará cerca de 50 minutos, Alberto e Charlene, que nesse momento já será oficialmente princesa, saudarão a multidão a partir da varanda da Sala dos Espelhos.
Soberano, desde abril de 2005, do segundo mais pequeno dos 25 microestados do mundo (o primeiro é o Vaticano), mas também o de maior densidade populacional – os seus 2km² albergam cerca de 32,5 mil habitantes – Alberto II sabe que fez sofrer os seus súbditos com o facto de ter demorado mais 30 anos do que seria esperado a eleger a sua princesa. Uma demora que em 2002 levou mesmo o seu falecido pai, o príncipe
Rainier, a fazer uma emenda à Constituição monegasca, de forma a assegurar que, se Alberto não deixasse descendência legítima, pudessem suceder-lhe as irmãs ou os sobrinhos. Talvez por isso, o príncipe parece agora querer recompensá-los, partilhando com eles vários momentos destes dois dias, que decretou feriados.
É o caso do
cocktail dinatoire – em que serão servidos pratos mediterrânicos e sul-africanos – que ele e a noiva oferecem à população pelas 18h00 de dia 1, na Praça do Palácio, e durante o qual o
maire do Mónaco,
Georges Marsan, dará ao casal o presente dos monegascos. E, nessa noite, é também aos súbditos que é dedicado o espetáculo de som e luz que o músico francês
Jean-Michel Jarre dará no Port Hercule, na cosmopolita zona de Monte Carlo.
No dia seguinte, de novo às 17h00, vestida pelo seu costureiro de eleição, o italiano
Giorgio Armani, a noiva repetirá exatamente os passos dados há 55 anos por uma atriz de Hollywood,
Grace Kelly: pelo braço do pai,
Mickael Wittstock, Charlene descerá os 30 degraus da imponente escadaria de mármore de Carrara que liga a Galerie Hercule (em estilo italiano, esta galeria datada do séc. XVI domina a principal fachada interior do palácio) ao Pátio de Honra. Neste aparatoso espaço, transformado, como no dia do casamento de Grace e Rainier, em igreja ao ar livre – serão usados objetos litúrgicos da Catedral do Mónaco -, a sul-africana, recentemente convertida ao catolicismo, verá a sua união com Alberto ser abençoada por monsenhor
Bernard Barsi, arcebispo do Mónaco. A esta celebração assistirão 3500 convidados.
Um momento grandioso como este exige música à altura. E assim será. Acompanhados pela Orquestra Filarmónica de Monte Carlo, darão voz aos temas litúrgicos escolhidos pelos noivos a soprano americana
Renée Fleming, o tenor peruano
Juan Diego Florez, o popular tenor italiano
Andrea Bocelli e, mais inesperado, o ex-Beatle
Paul McCartney.
Depois do serviço religioso, os noivos percorrerão as ruas do Mónaco num Lexus LS 600HL descapotável e com bancos elevatórios. Uma viatura que, graças ao seu motor híbrido, emite muito menos CO2 que qualquer dos modelos de luxo antigos guardados nas garagens do palácio. E esse é um fator importante para Alberto, que pelas suas preocupações ambientais já ganhou o cognome de Príncipe Verde. Terminado este périplo, Charlene cumprirá uma tradição da família Grimaldi e deporá o ramo de noiva na capela de Sainte-Dévote.
Para as cerimónias das tardes de 1 e 2 de julho, o
dress code pede jaqueta ou uniforme militar para os cavalheiros (mas informa que será tolerado o fato escuro) e chapéu para as senhoras, o que implica vestidos curtos. Já para o jantar e baile de gala que os recém-casados oferecerão na segunda noite a mais de 450 convidados – entre os quais se conta um vasto número de representantes de outras monarquias e chefes de Estado e muitas figuras das artes, da cultura e da alta finança internacional – é exigido traje de noite. Ou seja, as senhoras poderão exibir belos vestidos compridos e muitas joias.
E foi precisamente para que as visitantes estrangeiras pudessem facilmente trocar de
toilette, mas também para poderem assistir ao ar livre ao espetáculo de fogo-de-artifício marcado para a meia-noite, que os noivos decidiram mudar o local do jantar e do baile de gala que se seguirá. Inicialmente previstos para o Museu Oceanográfico, estes decorrerão, afinal, nos terraços do famoso Casino de Monte Carlo e nos salões da sua vizinha Ópera Garnier, muito perto dos quais se situam os luxuosos Hôtel de Paris e Hôtel Hermitage. Nestes dois magníficos hotéis
belle époque, ambos de cinco estrelas, ficará alojada a maior parte dos membros da realeza.
Assumido apreciador dos bons prazeres da vida, Alberto escolheu um dos mais conceituados cozinheiros do mundo – e o primeiro a ter três estrelas Michelin – para confecionar a ementa deste jantar:
Alain Ducasse, francês que adotou a nacionalidade monegasca. Dono de um autêntico império de hotelaria e restauração (que inclui uma escola de cozinha), Ducasse acumula, também, o cargo de
chef do já referido Hôtel de Paris. E será nas cozinhas deste hotel que, inspirado na gastronomia tradicional mediterrânica, concretizará, com produtos locais (alguns saídos da propriedade agrícola que Alberto possui em Rocagel), iguarias dignas de tão ilustres comensais, para o que contará com a colaboração dos experientes profissionais da Société des Bains de Mer, que explora aqueles dois hotéis e o casino.
Mas não se pense que dois dias chegam para comemorar este casamento feito por amor. Na verdade, tudo começará logo na noite de 30 de junho, com um concerto da mítica banda americana Eagles.
Este espetáculo com o grupo que imortalizou temas como
Hotel California ou
New Kid in Town, vai realizar-se no Estádio Louis II, e será de acesso gratuito. Aguardam-se cerca de 15 mil pessoas, ou seja, a maior parte dos monegascos com idade e saúde para estarem presentes.