Reza uma lenda com sete séculos que os Grimaldi nunca serão felizes no amor. Isto porque, no longínquo séc. XIII, um dos fundadores da dinastia, Rainier I, terá violado uma jovem que, por vingança, lhe lançou essa maldição. Acredite-se ou não no poder de tais feitiços, a verdade é que, pelo menos na história recente, a família tem sido realmente azarada no que ao amor diz respeito. Com dois divórcios e uma viuvez, a princesa Carolina será o exemplo mais notório dessa falta de sorte, mas Stéphanie, divorciada duas vezes e com um rol de relações fracassadas, também tem razões de sobra para se queixar. Quanto a Alberto, após sucessivos casos inconsequentes, vai agora, aos 53 anos, fazer o grande ‘teste’. Esperançado, naturalmente, de conseguir repetir a façanha dos seus pais, Grace e Rainier, que partilharam um casamento de 26 anos, que só terminou com a morte da princesa, em 1982.
Resta saber se mesmo este foi de facto o conto de fadas que aparentou ser. Porque os rumores de que o divórcio estaria iminente tinham-se tornado insistentes nos últimos anos de vida de Grace, que passava mais tempo no apartamento que possuía em Paris do que no Mónaco. E apesar da história de um dos mais mediáticos casamentos do séc. XX ter sido escrita com tinta cor-de-rosa, houve sempre más-línguas a assegurarem que por detrás dessa fachada romântica havia muitos interesses. Recorde-se, por exemplo, o acordo pré-nupcial, em que Rainier exigia aos Kelly uma indemnização milionária em caso de divórcio… Para a posteridade, porém, fica o dia em que o príncipe e a atriz uniram as suas vidas, contribuindo para aumentar ainda mais o glamour que já se associava ao Rochedo.
Com uma carreira de sete anos, que começou nos palcos nova-iorquinos e rapidamente a levou a Hollywod, onde contracenou com os principais galãs do seu tempo – entre eles Cary Grant, Gary Cooper, James Stewart ou Clark Gable, com os quais todos os tabloides lhe atribuíram romances-, Grace já tinha sido consagrada com um Óscar, pelo seu desempenho em The Country Girl, de 1954, quando a exibição desta película no Festival de Cannes a levou ao sul de França, na primavera de 55. Rainier, que já a admirava dos filmes, quis conhecê-la pessoalmente. E aqui começa o mito: fulminado pela beleza, a elegância e a simpatia da atriz, o príncipe, que aos 32 anos já se sentia pressionado a casar-se e ter descendentes, ter-lhe-á de imediato feito a corte. Grace, que gostava de representar, mas não apreciaria especialmente o ambiente do star system de Hollywood, terá ficado rendida ao charme do príncipe europeu. O namoro começou de imediato, mantido por carta durante os meses seguintes, e em dezembro desse ano Rainier foi a Filadélfia pedir aos Kelly a mão da filha.
A 19 de abril de 1956, pelas 9h30 da manhã, Grace entrava na Catedral do Mónaco, belíssima no seu vestido de noiva, oferecido pelos estúdios para que trabalhava, a Metro Goldwin Mayer. A solenidade do momento foi tal que Rainier não esboçou um sorriso nem quando a noiva chegou ao altar e esta, por seu turno, chorou durante uma boa parte da cerimónia. Nove meses depois, nascia a primeira filha, Carolina, que com apenas 21 anos protagonizaria novo casamento no principado.Com fama – e proveito – de playboy, o francês Philippe Junot, de 37 anos, que Carolina conheceu nas noites parisienses, não era o genro com que os Grimaldi sonhavam. Grace terá mesmo profetizado que a relação não duraria mais do que dois anos. E assim foi: a jovem princesa subiu ao altar a 28 de junho de 1978, num virginal vestido com griffe Christian Dior, e a sua separação foi anunciada a 10 de agosto de 80.
Após alguns casos sem consequências, Carolina conheceu aquele que seria o seu grande amor, o italiano Stefano Casiraghi, filho de um magnata do petróleo. Pediu a anulação do casamento com Junot, mas porque o processo era moroso e já estava grávida do seu primeiro filho, casou-se com Stefano pelo civil, a 23 de dezembro de 83, na Sala dos Espelhos do palácio paterno. Andrea nasceu em junho seguinte. A princesa – que entretanto teve mais dois filhos, Charlotte, nascida em 85, e Pierre, em 87 -, parecia a mais feliz das mulheres quando o destino lhe pregou uma terrível partida: a 3 de outubro de 1990, Stefano morria num acidente náutico. Mergulhada num luto profundo, Carolina envelheceu anos em poucos dias.
Era, no entanto, muito jovem, e acabou por ultrapassar a perda, em muito graças ao apoio de um amigo de longa data, o príncipe Ernst de Hannover, que teria desde a adolescência uma paixoneta por ela. A 23 de janeiro de 1999, no dia em que completava 42 anos, Carolina, que já estava grávida de Alexandra (nascida seis meses depois) casou-se com Ernst. A relação, que nunca terá sido fácil, em parte devido ao temperamento colérico do príncipe e à sua tendência para abusar do álcool (que quase o levou à morte em 2005), terminou no verão de 2009, apesar de oficialmente a separação nunca ter sido confirmada.
Quanto à vida amorosa de Stéphanie, que a mãe tratava por “pequena selvagem”, os episódios são tantos que se torna impossível relatar todos neste espaço. A princesa que foi cantora, estilista, modelo e até acrobata de circo começou por namorar com meninos de boas famílias, ou, pelo menos, que frequentavam o jet set internacional, mas a sua personalidade pouco convencional depressa se aborreceu dos ambientes e pessoas mais formais. A princesa queria ter uma vida comum e mostrou-o quando se envolveu com o seu guarda-costas, Daniel Ducruet, com quem teve dois filhos, Louis, nascido em 92, e Pauline, em 94, antes de se casarem, numa cerimónia íntima, no Palácio do Mónaco, em 96. Um ano depois, no entanto, a publicação de fotos de Daniel numa piscina aos beijos com uma stripper provocaram escândalo e levaram-na a pedir o divórcio.
Profundamente abalada, Stéphanie afastou-se por completo do principado, e foi durante uma temporada em que trabalhou num restaurante de montanha que se envolveu com outro dos seus guarda-costas, Jean Raymond Gottlieb. Desta relação que pouco durou nasceu Camille, em 98. Seguiu-se um novo caso muito badalado, com um domador de elefantes casado e 11 anos mais velho, Franco Knie, e foi também no meio circense que conheceu o seu segundo marido, o luso-descendente Adans Lopez Peres. O casamento, celebrado em 2003, duraria apenas um ano. Depois disso, a princesa tornou-se mais discreta e pouco ou nada se tem sabido sobre os seus romances.
Com as irmãs marcadas por tantos amores mal sucedidos, é natural que Alberto temesse seguir-lhes as pisadas. O sorriso cândido mas determinado de Charlene acabou por vencer os medos do príncipe. Os próximos episódios adivinham-se interessantes.