A 28 de janeiro, Beatriz da Holanda anunciou aos súbditos a sua pretensão de abdicar do trono no dia do 33.º aniversário do seu reinado, 30 de abril. Nesse mesmo dia, a mulher do príncipe herdeiro, Máxima, fez saber ao chefe do governo holandês, Mark Rutte, que a sua família não estará presente na cerimónia em que ela e o marido serão investidos reis. Uma abnegada decisão que, na verdade, não foi surpresa para ninguém. Afinal, em 2002, para se poder casar com Guilherme da Holanda, a economista argentina Máxima Zorreguieta, então com 27 anos, não teve apenas que renunciar à sua nacionalidade e ao seu cargo de vice-presidente de vendas institucionais no Deutsche Bank em Nova Iorque. Para autorizar esta união, o Parlamento dos Países Baixos impôs à noiva do seu futuro rei um sacrifício bastante mais doloroso: que prescindisse da presença do pai no dia do seu casamento. Não por este ser estrangeiro ou plebeu, mas porque, entre 1976 e 1983, Jorge Zorreguieta foi ministro da Agricultura do seu país, então sob a ditadura militar do presidente Jorge Rafael Videla, acusado de graves violações dos direitos humanos.
A ideia de ter uma futura rainha associada a um passado tão sombrio era intolerável para alguns políticos holandeses, que chegaram a sugerir que Guilherme abdicasse do trono para se casar com Máxima. Aquilo com que esses políticos não contavam, porém, é que a jovem argentina de sorriso aberto e franco e de personalidade extrovertida e exuberante – o que a intensa paleta de cores do seu guarda-roupa bem reflete – já tinha conquistado o povo holandês. Uma sondagem realizada na época revelou que 89 por cento dos súbditos dava a sua bênção ao casamento, que acabou por ser autorizado oficialmente em junho de 2001.
Naturalmente, solidária com o marido, a mãe da noiva, María del Carmen, decidiu também não estar presente. Não foi por isso de estranhar que quando, durante a celebração religiosa do seu casamento, a 2 de fevereiro de 2002, se ouviu na Nieuwe Kerk de Amesterdão o tango Adiós Nonino (que Astor Piazzolla, compôs em homenagem ao seu falecido pai, tratado por Nonino), Máxima tenha sido incapaz de conter as lágrimas, que escorreram pelo seu rosto maquilhado sem, contudo, lhe apagar o sorriso. A mulher apaixonada tinha razões de sobra para estar muito feliz, a filha que queria partilhar aquele momento com os pais tinha motivos mais do que suficientes para estar profundamente triste.
Onze anos depois, Máxima vê a história repetir-se. Mas, entretanto, teve tempo de se adaptar ao país que a acolheu, de se envolver em diversos projetos solidários que lhe ocupam tempo e energia e de se entregar à educação das suas três filhas – Amalia, de nove anos, que em abril se tornará princesa herdeira, Alexia, de sete, e Ariane, de cinco. Por isso, no último dia 30, no primeiro evento a que compareceu depois de se saber que em breve será rainha, uma conferência contra a fome no mundo, foi com um tom decidido que frisou aos jornalistas: “É uma enorme honra poder suceder à minha sogra.” E apesar de ter referido que tem consciência de que ela e Guilherme vão estar mais pressionados e ocupados, não perdeu por um momento o seu sorriso radioso.
Máxima, a argentina que abdicou do passado para ser rainha da Holanda
Os futuros reis da Holanda, Máxima e Guilherme, conheceram-se através de uma amiga omum, em Sevilha, e um ano depois anunciaram o noivado.