Há muito que era sabido que a relação entre os atuais soberanos da Jordânia, Abdullah II, de 59 anos, e Rania, de 50, com a anterior rainha, Noor, de 69, era tenso e difícil, havendo mesmo uma espécie de duas cortes no país, a oficial e a oficiosa, formada pela rainha viúva e o seu filho mais velho, Hamzah bin al-Hussein, de 41. Tudo porque depois de, em 1999, e respeitando a última vontade do pai, o falecido rei Hussein, Abdullah ter nomeado o seu meio-irmão seu príncipe herdeiro, em 2004 recuou e decidiu que quem lhe sucederá no trono será o seu filho primogénito, o príncipe Hussein, de 26 anos, nascido do seu sólido casamento de 27 anos com Rania. E Noor, certamente com alguma razão, culpa esta de ter influenciado o marido na decisão de afastar Hamzah. Rania terá tido o seu papel nessa decisão, mas é mais do que natural que tenha defendido os interesses do filho.
Agora, a Jordânia está a viver uma intriga palaciana que se julgaria impossível num país considerado dos mais estáveis e exemplares do Médio Oriente: no passado dia 3, soube-se que Hamzah bin Hussein – que há 22 anos rumina a raiva de ter visto o trono fugir-lhe das mãos a favor do sobrinho – estaria, alegadamente, a preparar um golpe de Estado para derrubar o irmão, sendo posto em prisão domiciliária, bem como várias pessoas que seriam suas cúmplices, por “ameaça de desestabilização”, conforme explicou a agência noticiosa jordana Petra. Outro dos detidos é Sharif Hasan bin Zaid, também ele membro da família real e embaixador da Jordânia em Riade.
Foi o próprio Hamzah a revelar que está preso em casa num vídeo de cinco minutos que enviou através de um advogado para a cadeia de televisão britânica BBC, e no qual afirmou que no sábado de manhã recebeu uma visita do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas que lhe comunicou que não podia sair de casa nem reunir-se com outras pessoas. “Disseram-me, sem me acusar formalmente, que em anteriores encontros que mantive ou em mensagens nas redes sociais se tinham expressado críticas contra o governo e o rei”, afirmou. Qualificando o reinado do seu meio-irmão de corrupto e incompetente, assegurou, ainda assim, que não faz parte de nenhuma conspiração: “Eu não sou o responsável pelo colapso da governação e da incompetência que tem prevalecido na nossa estrutura governativa nos últimos 15, 20 anos, e que tem vindo a piorar. Eu não sou responsável pela falta de fé que as pessoas têm nas instituições.”
Entretanto, o vice-primeiro-ministro jordano, Ayman Safadi, afirmou numa conferência de imprensa que “os serviços de segurança, através de investigações exaustivas (…), acompanharam durante muito tempo as atividades e movimentos do príncipe Hamzah bin al-Hussein (…) e outros, que visavam a segurança e estabilidade da pátria”.
A rainha Noor, que desde 2004 foi basicamente rejeitada pelos atuais reis, passando a maior parte do tempo nos EUA e no Reino Unido, reagiu no Twitter no passado domingo, com um post onde declarou que o filho está a ser vítima de uma “calúnia perversa”, e disse ainda: “Rezo para que a verdade e a justiça prevaleçam para todas as vítimas inocentes.” Esta crise agravará com certeza a tensão entre os atuais reis e a viúva de Hussein.