Não foi só o anel de noivado – uma enorme safira azul rodeada de diamantes – nem várias outras joias deslumbrantes e valiosas a principal herança que Kate Middleton recebeu da mãe de William. Diana deixou à nora, que nunca conheceu, um outro legado mil vezes mais valioso que os bens materiais: o facto de ter virado de pernas para o ar a mentalidade da família real britânica. Uma mentalidade que provavelmente evoluiu mais nos últimos anos – Lady Diana Spencer casou-se com o príncipe Carlos em julho de 1981 – do que em quase mil anos de história desde a fundação da monarquia inglesa.
E foram tantos os aspetos em que Diana criou novos caminhos que seria por demais exaustivo enumerá-los aqui. Mas basta lembrar apenas alguns deles para confirmar esta tese. Em primeiro lugar, a sua relação calorosa, empática e generosa com o próximo e, sobretudo, com aqueles que considerava mais frágeis. Uma atitude diametralmente oposta à da relação distante e institucional que a maioria dos Windsor, entre eles a própria rainha Isabel II, sempre tiveram com os seus súbditos. Em segundo lugar, o facto de ter ousado sacudir os pergaminhos familiares, exigindo um quase impossível divórcio por estar saturada de manter um casamento de aparência, em que foi sempre profundamente infeliz.
Em última instância, de facto, foi por Diana ter reivindicado o seu lugar ao sol, “partindo a loiça toda” e batendo com a porta quando se fartou de ser passiva, submissa e vértice de um triângulo amoroso pouco digno, que foi possível a uma plebeia como Kate casar-se com um futuro rei de Inglaterra. Porque, segundo as “regras”, William estaria destinado a casar-se com alguém de sangue real ou, no mínimo, de sangue nobre. Mas é sabido que quando confrontou a avó com o seu desejo de se casar com Kate, esta terá dado a sua bênção, dizendo que já chegava de asneiras no que dizia respeito a casamentos de conveniência.
Outra inquestionável dádiva que a falecida ‘Princesa do Povo’ fez à nora foi a de lhe ter aberto o caminho de uma popularidade quase ao nível da de uma vedeta de cinema ou rock. Além disso, pela sua morte precoce, Diana deixou órfãos dois filhos muito jovens, e o mundo em geral, mas os ingleses em particular, adotaram emocionalmente aqueles dois meninos de rostos fechados, sorrisos forçados e sem brilho nos olhos. Por isso o mundo vibrou quando William se pôde casar por amor com Kate e esta ganhou, de imediato, e sem sequer ainda ter tido oportunidade de dar provas de o merecer, um lugar no coração dos que idolatravam Diana, estendendo essa idolatria ao novo casal.
Dito isto, nem de longe nem de perto se pretende tirar mérito à duquesa de Cambridge, que ao longo dos anos já provou merecer o seu quinhão de apreço. Mesmo que a ideia de se casar com um futuro rei a possa ter deslumbrado um bocadinho, só por amor alguém se consegue sujeitar a uma mudança tão drástica como a que a união com William trouxe ao quotidiano de uma jovem que era independente e inteligente o suficiente para construir, por si própria, um projeto de vida válido.
Para estar hoje onde está, Kate sujeitou-se a um estilo de vida muito menos independente e a estar 24 sobre 24 horas nas bocas do mundo, adaptou-se a um ambiente doméstico diametralmente oposto ao da sua família de origem, teve de passar por uma intensa formação a nível de etiqueta e protocolo, passou a ter de aparentar uma permanente boa disposição, uma imagem exterior sempre impecável e uma agenda oficial sobrecarregada, nem sempre com eventos especialmente interessantes ou divertidos.
O que é que ganhou em troca? Está a construir com William uma relação de amor que se diria bastante sólida e uma família com três filhos: George, de nove anos, e Charlotte, de sete, e Louis, de quatro.