Entre as diversas revelações que o príncipe Harry fez no seu livro de memórias, uma das mais surpreendentes foi a de que, desde a sua infância, as pessoas com maior relevo na família – a rainha Isabel II, o duque de Edimburgo, o então príncipe Carlos e até a princesa Diana – se referiam a William como “o herdeiro” e a Harry como “o sobresselente” (“Spare”, em inglês, que foi o título que escolheu para dar à sua autobiografia).
“A minha família declarou-me como sendo uma nulidade, o sobresselente. Não me queixava, mas também não era preciso recordar-me disso. Era melhor, na minha opinião, não pensar em determinados detalhes, como a regra fundamental das viagens reais: o meu pai e o William nunca podiam viajar juntos no mesmo voo, porque não podia existir nenhuma possibilidade de que o primeiro e o segundo na linha de sucessão ao trono morressem ao mesmo tempo. No entanto, ninguém queria saber com quem é que eu viajava: o sobresselente pode-se sempre substituir“, escreveu o príncipe.
Ao longo do último século – até à atualidade – vários foram os ‘números 2’ existentes na monarquia britânica, que tiveram comportamentos e até destinos bastantes distintos. Recorde três deles.
1. Rei George VI
Pai de Isabel II e da princesa Margarida, George VI não nasceu para ser rei. Recebeu o título de duque de York e viu o irmão mais velho, Edward VIII, subir ao trono. O reinado foi curto, porque o então soberano decidiu abdicar para se poder casar com a americana Wallis Simpson. Quando tomou a decisão, George VI subiu ao trono e a então princesa Isabel passou a ocupar o primeiro lugar na linha da sucessão ao trono.
2. Princesa Margarida, condessa de Snowden
O rei George VI teve apenas duas filhas, as princesas Isabel e Margarida. Ao longo de toda a vida, as duas irmãs foram sempre inseparáveis, apesar dos distintos caminhos que seguiram e das diferentes personalidades que tinham. Isabel II tornou-se rainha aos 25 anos e a ela coube a difícil decisão de impedir a irmã mais nova de se casar com o amor da sua vida, Peter Townsend, que era já divorciado, algo que, naquela época, era malvisto pela igreja. Apesar de ter sofrido com a decisão da soberana, Margarida sempre se mostrou devota da irmã, apoiando-a incondicionalmente.
3. Príncipe André, duque de York
Quando nasceu, André passou à frente da irmã mais velha, Ana, na linha da sucessão ao trono britânico. Passou a ser o ‘número dois’, um lugar que manteve até ao nascimento do primeiro filho de Carlos e Diana, o príncipe William. Durante a juventude foi visto como mais carismático, extrovertido e seguro em comparação com o irmão mais velho, mas atualmente atravessa um momento particularmente difícil, do qual não parece que se vá conseguir reerguer.
André foi associado ao escândalo sexual de Jeffrey Epstein em 2019, tendo-se afastado da vida pública alguns meses mais tarde. Há um ano a mãe retirou-lhe todos os títulos militares. Dizia-se que era o filho preferido de Isabel II, mas nem isso lhe valeu na hora de se afastar dos holofotes e deixar de ter agenda oficial. Em todas as sondagens de popularidade feitas pelo YouGov ao longo dos últimos anos aparece sempre no último lugar, como o elemento da família real britânica que a população menos aprecia.