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CARAS Decoração
Trata-se de uma moradia unifamiliar integrada na Quinta da Avenida, no Porto, um projeto concebido pelo arquiteto Souto Moura. Todo o empreendimento se desenvolve em duas escalas. Na cota superior, o arquiteto criou uma espécie de quinta residencial, onde as habitações, apenas com um piso, confrontam a rua. Já numa cota inferior, foram planeadas habitações com três pisos, todas elas voltadas para um jardim interior, de que esta é exemplo.
A arquitetura contemporânea de grandes rasgos na parede para potenciar a luminosidade interior e a própria planta, no geral, fazem antever um pouco do espírito dominante, onde predominam os espaços amplos enriquecidos com materiais de qualidade. Por exemplo, os soalhos são em afizélia, nas salas de estar e jantar, bem como nos quartos e hall de entrada, as casas de banho foram equipadas com revestimento em mármore branco e os armários da cozinha são em bétula com balcão em aço inoxidável.
No que respeita à climatização, procurou-se soluções que promovessem o bem-estar interior, sustentáveis, logo sem grande dispêndio energético. A casa dispõe de piso radiante, caldeira a gás e caixilharias em alumínio com vidros duplos laminados. Este tipo de janelas proporciona a maior abertura à natureza, uma estética mais ousada e otimizam a temperatura interior, já que climatizam e aproveitam ao máximo as horas de luz natural.
O projeto que aqui se mostra foi planeado para responder às necessidades de uma jovem família de profissionais liberais, com dois filhos jovens, trendy, eclética e ao mesmo tempo adepta de soluções simples viradas ao futuro: formas dinâmicas, materiais de fácil manutenção, com elevado nível de versatilidade.
Por isso, quando Susana Camelo (foto21), responsável pelo desenho dos interiores desta habitação, foi contactada, a mensagem transmitida não podia ser mais clara. Era preciso que a própria arquitetura servisse de inspiração através da sua geometria urbana, apostar em formas do futuro associadas a novas tecnologias, ou seja, prolongar a envolvente até dentro de casa e procurar desenvolver um espaço partindo da estrutura base que conciliasse criatividade e sobriedade, mas que fosse igualmente funcional e acolhedor, despojamento não significa desconforto quando são mantidas as devidas proporções.
A estas premissas, a designer somou outras, alguns pormenores que individualizam a casa, pequenos detalhes a apelar ao humor dos seus habitantes. "Os proprietários gostam de arte, têm sentido de humor, daí o recurso a elementos que nos roubam um sorriso", aponta a propósito Susana Camelo, para acrescentar: "é o caso das mãos do designer Harry Allen na escadaria, um convite a subir, ou do papel de parede, da Cole & Son, do escritório, a simular uma vasta estante e uma biblioteca cheia de livros, brincando ao mesmo tempo com as características físicas daquela divisão de dimensão reduzida e sem luz direta", sublinha Susana.
Em suma, a arquitetura de linhas atuais e uma primeira abordagem, mais sensorial e intuitiva, que envolve algum conhecimento sobre as pessoas que vão usufruir do espaço (gostos, formas de estar, vivências, quotidiano) são um conjunto de fatores, na opinião de Susana Camelo, fundamentais para o sucesso a longo prazo de qualquer projeto. "Nesses primeiros briefings falam-me do seu relacionamento com o lugar, de rotinas, momentos de lazer, muitas vezes, um objeto ou uma referência podem dar o mote para uma composição diferente, mas mais personalizada, aqui o humor do proprietário foi um desses pontos de partida", refere, e esse elemento que caracteriza esta família acaba por ajudar a dar aquele toque de diferenciação, o que torna esta casa única mesmo que existam peças semelhantes noutras.
O humor está um pouco por toda a parte, até nas divisões das crianças, sobretudo no recurso a paredes mais ou menos figurativas. No quarto do bebé, com a boa disposição de um arco-íris que reporta inevitavelmente ao universo infantil e no outro são os aviões a despertar o imaginário juvenil.
É através do piso 0 que se circula por toda a casa, o hall de entrada acaba por resumir na essência as opções decorativas do ateliê de interiores de Susana Camelo. Composto como uma primeira sala, onde figuram dois cadeirões, um candeeiro de pé, uma mesa de centro e uma consola, elementos nas proporções certas para não atrapalharem a conveniente circulação num espaço de passagem que se quer desafogado e sem obstáculos. É nesta cota que se situa igualmente um escritório, onde se destaca o já referido papel de parede, elemento que também lhe empresta profundidade, já que se trata de uma divisão que não recebe luz natural.
No primeiro piso, com acesso a um jardim interior a partir da sala de estar, encontra-se, além desta, a cozinha e sala de jantar, com zonas de apoio e sanitários. A sala de estar é o centro nevrálgico da habitação e foi aqui que se deparou um primeiro desafio a Susana Camelo: "Era preciso pensar numa guarda de escada esteticamente interessante e funcional. A solução foi a construção de um biombo de inspiração japonesa, o que acabou por ser a minha peça favorita", sublinha a designer. Apesar de funcionar em open space, foram criados neste espaço vários recantos de convívio, uma zona de jogo com a respetiva mesa e outra de leitura onde não falta uma confortável chaise-longue. A sala de jantar cumpre a sua função, é depurada, além da mesa é apoiada apenas por um aparador e tem ligação à cozinha.
É no terceiro piso que se encontram as dependências íntimas da família. A suíte do casal, um quarto para hóspedes e os quartos das crianças, um conjunto de espaços que mantêm idêntica inspiração contemporânea, por exemplo, com mobiliário frugal, apenas o necessário a garantir conforto, e peças que contribuam para individualizar as diferentes atmosferas. "Mais importante do que combinar luz, formas, cores e texturas é converter cada espaço numa extensão de quem dele usufruiu, não sou fundamentalista, gosto de opções a longo prazo, sóbrias e seguras, no entanto, um pouco de condimento spicy nos acessórios personaliza o ambiente e atribui-lhe um caráter único, espelho de quem nele habita", sintetiza Susana, para acrescentar: "Devemos vestir a casa com aquilo que nos vai transmitir conforto, um ambiente propício ao convívio com o que nos faça sentir bem. Simples e descomplicado. As tendências podem ser interessantes quando nos facilitam o dia-a-dia".
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.