São ambos biólogos marinhos mas nunca trabalharam juntos. Esta casa é o primeiro projeto conjunto de Rita e David Abecasis. Depois de sete anos a viver fora de Lisboa – primeiro na ilha do Faial, nos Açores, depois na ilha de Faro, no Algarve, por fim, em Perth, na costa oeste da Austrália – o jovem casal sentiu que era tempo de voltar e ter um espaço próprio.
Difícil seria manter a relação privilegiada com o mar e aquele estilo de vida tão particular. “Quando estávamos nos Açores, saíamos do trabalho e íamos para a praia, fazer mergulho, ver as baleias, andar de barco. Na ilha de Faro, vivíamos pertíssimo do mar, abríamos a porta da cozinha e estávamos literalmente no areal. O ano passado na Austrália foi perfeito para nós. Os australianos têm um lifestyle muito saudável, adoram a natureza e todo o tipo de atividades ao ar livre”, conta a proprietária.
Depois de cinco meses de intensa procura, Rita e David Abecasis descobriram uma casa, em Algés, com uma vista deslumbrante para o Tejo. “Ficámos absolutamente encantados. Nunca pensámos que conseguiríamos encontrar e adquirir um apartamento com uma envolvente tão maravilhosa como esta. Visitámos várias habitações em que tínhamos de espreitar por uma janela ou pormo-nos em cima de um banquinho para vermos o rio”, revela.
Quatro janelas abrem a sala de estar e a sala de jantar, concebidas em open space, ao exterior. “Funcionam como molduras que enquadram uma paisagem em constante mudança. Se vier cá amanhã vai ter um cenário diferente, o céu vai estar mais azul ou cinzento, o rio mais calmo ou agitado. O nascer e o pôr-do-sol são particularmente bonitos. Há barcos, de pescadores ou recreativos, a passar de um lado para o outro”, descreve a proprietária. Quando se está no hall de entrada ou se percorre o corredor que liga a cozinha à área social, vê-se somente o rio no horizonte. É como se a estrada marginal e as linhas do comboio, que ligam Lisboa a Cascais, deixassem de existir.
No essencial, o estilo de vida do jovem casal manteve-se. David Abecasis gosta de correr no passeio ribeirinho, andar de bicicleta na marginal e nadar no mar ou nas piscinas do Jamor, consoante a estação do ano. Já Rita Abecasis prefere passear ou fazer caminhadas na praia.
Datado de finais do século XIX, o apartamento, com 130m, estava em avançado estado de degradação. “Nunca pensámos comprar uma casa que precisasse de obras, porque normalmente demoram muito tempo, dão imenso trabalho, implicam bastante dinheiro e os resultados nem sempre correspondem às expectativas. Mas decidimos que valia a pena arriscar. Conhecíamos o trabalho do arquiteto João Tiago Aguiar, confiávamos nele, e isso foi determinante para seguirmos em frente”, explica o proprietário.
Um dos principais desafios enfrentados por João Tiago Aguiar foi converter dois quartos interiores, sem qualquer luz natural, situados no centro do apartamento, de planta quadrada, num escritório funcional e aprazível. A parede opaca foi substituída por uma série de pilares equidistantes, que, por um lado, permite que os proprietários usufruam da vista de rio quando estão a trabalhar, e, por outro, quebra o contacto visual com a sala de estar. “A par da área social, gostamos muito do escritório. Passamos lá muitas horas por dia, dado que trabalhamos em casa. É um local agradável”, afirma David Abecasis.
Quanto à configuração dos espaços, permaneceram a cozinha e os dois quartos principais. Derrubou-se uma parede para conceder amplitude às áreas de estar e de jantar, criou-se um lavabo social, potenciou-se o espaço para
arrumação. Os móveis, de linhas retas, em MDF lacado branco, que se estendem a todo o pé-direito no hall de entrada, na cozinha e nos quartos, foram também desenhados pelo arquiteto. Preservaram-se os tectos, recuperaram-se os pavimentos, em madeira maciça de pinho, e as portadas, que foram pintadas a branco.
David e Rita Abecasis decoraram sozinhos a sua primeira casa. O simpático casal de biólogos marinhos compensou com engenho e criatividade o orçamento reduzido. “Reciclámos peças antigas e adaptámos peças novas ao nosso gosto, alterando as cores e os modelos. Do mobiliário à iluminação, passando pelos acessórios, todos os elementos têm muito de nós, alguns foram mesmo feitos por nós, pelo que possuem um valor emocional. A mesa de jantar, por exemplo, foi executada à medida, mas fomos nós que a pintámos e aplicámos as tachas”, nota a proprietária.
Mudaram-se há quase um ano, mas os dois quadros da sala de estar ainda estão por pendurar. “Há um terceiro quadro cuja moldura se partiu e estamos à espera de o receber. Além disso, como é a nossa primeira casa, estamos muito hesitantes em fazer buracos na parede”, justifica Rita Abecasis. E conclui: “Já gostei mais de passar fins de semana fora, agora custa-me deixar as nossas coisas. Sinto a falta do conforto, do carácter único da nossa casa”.
Decoração: Primeiro projecto feito a dois
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Sofá e chaise-longue na Ikea
Clara Azevedo / Clicklight
Sofá e chaise-longue na Ikea
Clara Azevedo / Clicklight
David e Rita Abecasis decoraram sozinhos a sua primeira casa. O jovem casal de biólogos marinhos compensou com engenho e criatividade o orçamento reduzido. Em Lisboa, um projeto especial, com uma vista deslumbrante para o rio Tejo.