É a materialização de um sonho há muito acalentado e agora concretizado: uma casa térrea, de construção antiga, com cerca de 100m e um pequeno jardim de 50m. Este sonho tornado realidade parece, ao primeiro olhar, uma construção do tipo rural, a fazer lembrar as casas alentejanas, com uma porta e duas janelas, mas onde tudo se desenvolve depois lá dentro, com desníveis interiores feitos através de pequenos degraus.
A proprietária, Inês Oliveira Cruz, designer de interiores, já vivia nesta zona, mas ambicionava uma morada diferente. “Este foi sempre o meu ideal de habitação. Morava aqui perto, já a tinha visto, até ao dia em que foi posta à venda. Estava muito degradada quando a comprámos, mas representava tudo aquilo que tinha desejado: recuperar uma casa antiga com história e cheia de alma”, começa por contar muito feliz a proprietária. Já lá vão seis anos desde que iniciou a edificação deste projeto pessoal, que tem sido construído com muita dedicação e criatividade, duas características que definem o modo de estar do casal proprietário.
“Durante as obras anulei algumas paredes, principalmente na zona da sala comum, reorganizei os espaços que estavam menos bem, construi casas de banho, rasguei algumas janelas. Resumindo, recuperei na totalidade o interior e ao mesmo tempo passei para a casa aquilo que sou, a minha forma de estar, o meu estilo”, reconhece Inês, que acabou por exercer a sua atividade de designer de interiores na sua própria casa.
Inês Oliveira Cruz fez também questão de preservar algumas características da antiga casa, como é o caso das paredes largas que acabam por dar legitimidade à habitação. “Mudei o pavimento, optei pelo cimento afagado, mas mantive a pedra lioz da chaminé da cozinha” explica a proprietária. De facto, uma das grandes preocupações desta intervenção passou por manter ao máximo o que era de origem, o que estava em pior estado de conservação teve de ser substituído, mas a designer procurou sempre conjugar o melhor possível elementos novos e antigos.
“Fazer com que na base surja a conjugação do antigo com o atual é a minha assinatura, o meu gosto pessoal. Gosto que se note que há uma mistura entre passado e presente”, esclarece Inês. Hoje, estes 100m estão distribuídos por um escritório, uma sala comum (com zona de estar e de jantar), uma área que liga a sala aos quartos que, apesar de ser de passagem, está preparada para receber. Além de dois quartos e duas casas de banho, há ainda, junto ao jardim, mais duas divisões, um ateliê e outra sala ligada ao exterior e à cozinha.
Passada a fase da recuperação e melhoramentos, iniciou-se uma outra igualmente entusiasmante para o casal, a decoração de cada espaço. Ao lado da profissional de interiores esteve o marido, restaurador de antiguidades e de madeiras, que além de gostar dos trabalhos de Inês, concretizou para este projeto algumas das suas ideias.
“Da nossa anterior habitação transitou quase tudo: peças adquiridas, outras herdadas, algumas apanhadas na rua (que as pessoas deitam fora e que gosto de aproveitar). Somam-se as recordações das viagens que fizemos, apontamentos que vão dando alma à casa e que têm muito de mim, gosto de juntar!”, explica, “alguns objetos são transformados. É o caso de uma antiga balança de uma mercearia, agora mesa de apoio, ou da consola que fiz com uma porta antiga e que está a apoiar a zona da sala de jantar. Gosto de dar às peças novas funções”.
Aqui não há medo de colecionar objetos. O novo encontra lugar ao lado de elementos que vieram da rua, ou melhor, da casa de um desconhecido, sem a grande preocupação de que tudo tenha de condizer, no fundo, a aparente desorganização, funciona. Por isso, é uma casa muito rica, em cada recanto encontra-se algo com uma história para contar ou que ganhou renovada identidade através da funcionalidade que lhe foi dada.
“Esta é a minha forma de estar, aqui não há nenhum preconceito, no juntar peças, estilos, épocas, origens ou até tipos de madeira, não tenho essa preocupação. Claro que esta atitude é possível porque se trata da minha habitação. A nível profissional posso levar um pouco desta minha assinatura, mas só se coincidir com o gosto do cliente para quem estou a trabalhar”, salienta a designer de interiores, que, pessoalmente, gosta de tirar partido das peças independentemente da sua origem ou estilo.
Inês não deixa de sublinhar a ajuda do marido, Ricardo Eismann, fundamental na concretização daquilo que ia idealizando, muitas coisas foram feitas a dois: “também ponho mãos à obra, gosto de fazer essa parte de criar, pintar e transformar”, esclarece.
Além deste olhar personalizado que torna os ambientes desta casa tão originais, o casal é ainda colecionista, junta garrafas antigas de Cola Cola, saca-rolhas diversos… “também tenho a ‘mania’ de comprar louças e apresentar sempre mesas diferentes. Gosto muito de cozinhar e de receber amigos, por isso, faço questão de mostrar mesas criativas”, reconhece Inês.
Aqui as portas estão sempre abertas, o casal gosta de receber, por isso, a casa está frequentemente cheia de gente e de coisas novas…
Mudanças para breve? Só na decoração, reconhece Inês: “nunca deixam de entrar peças novas e há sempre um sítio próprio onde as colocar. Desde que viemos para cá, a base manteve-se, mas já chegaram muitos objetos. Sinto a necessidade de completar, mas não de mudar. Completar, por exemplo, o jardim. Tenho muitas ideias que não foram ainda concretizadas, nesse sentido, pode dizer-se que é uma casa em constante mutação. Vai sendo construída”, conclui a proprietária, feliz com a realização deste sonho que lhe permite usufruir de um espaço verdadeiramente edificado à imagem dos seus ocupantes.
Decoração: Sonho em construção no Estoril
Na zona do Estoril, uma casa antiga, de 100m2, depois de recuperada foi transformada com empenho e arte num lugar de encontro de épocas e muitas histórias.
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