Nesta moradia de praia, propriedade de um casal de jornalistas com dois filhos, a envolvente não podia ser mais esclarecedora, a natureza privilegiada do local acabou por ser o fator determinante em toda a filosofia do espaço. É o regresso às origens e ao estado de Alagoas, pelo menos em tempo de descanso, para esta dupla atualmente a desempenhar funções em Brasília, mas cujo percurso profissional também já passou por Lisboa.
Um sonho realizado numa região paradisíaca, a Barra de São Miguel, destino de férias por excelência, banhado por águas límpidas, mas com especificidades que se devem ter em devida conta quando se constrói junto ao mar, como atesta Humberta Farias, formada em Arquitetura e Urbanismo, e autora deste projeto integrado realizado de raiz, “é preciso ter especial atenção com a escolha de materiais adequados à região, com o clima, temperaturas, salinidades e a intensa maresia. As condições de insolação, ventilação, acessos e o próprio declive do terreno determinaram o processo arquitetónico”, refere a arquiteta para acrescentar, “foram criadas grandes aberturas em vidro refletivo, que diminuem a incidência solar, e amplas varandas para a fachada, a nascente, virada ao mar (para proteção do sol, ventos e chuvas). Foram ainda construídas, a poente, áreas de alvenaria em reboco rústico alternadas com aberturas estratégicas, de forma a criar-se isolamento térmico e circulação de ar”.
Tendo em conta estas características especiais de quem constrói nos trópicos, a casa de 500m foi dividida em três níveis distintos. No primeiro, está o acesso principal que se faz na cota zero pelo lado poente através de um pátio ajardinado, com área de estacionamento, garagem, habitação do caseiro e zona de serviço. No segundo (cota da praia), encontra-se a sala de estar e jantar, cozinha, quarto de hóspedes e varandas sociais, com zona de relva de acesso direto à praia. No terceiro nível estão situadas as três suítes que desfrutam de uma ampla varanda, com um piso em relva e cobertura de piaçaba para amenizar o calor.
Projetada para bem receber, a disposição dos interiores, numa generosa área social em open space, dentro de portas mas também exterior, foi pensada de acordo com o despojamento característico de uma habitação de férias. Apenas o mobiliário necessário para promover funcionalidade e conforto e tirar o máximo partido da intensa luz da região: “reflexos particulares de luz foram estrategicamente trabalhados no encontro e transição dos materiais, como o piaçaba, madeira, sisal, vidro, cimento e reboco rústico, complementados com os materiais da arquitetura de interiores. Algumas dessas relações foram estudadas in loco, com experimentações nas diversas horas do dia. Como resultado, conseguimos potencializar um cenário de luz natural, que me agradou particularmente”, refere Humberta Farias. E qual o papel da cor? A arquiteta não podia ser mais explícita: “Sou nordestina, utilizo no meu processo de criação elementos que fazem parte do meu universo. Os meus projetos possuem a cartela de cores que são matizes do verde dos coqueirais, do azul do mar ou do tear das artesãs que passam os dias nas margens das nossas lagoas enredando os fios coloridos. É impossível não ser contaminado pela energia e cor da nossa região. A utilização do ‘tangerine’ (laranja, cor de 2012, segundo a Pantone) é disso exemplo, a sugestão foi feita pela própria natureza anunciando a chegada do verão. Quando contemplei os imensos flamboyans (acácias rubras) floridos existentes no caminho da Barra de São Miguel, tive a certeza de que esse seria o tom da alegria para o projeto de interiores”.
No fundo e citando mais uma vez a arquiteta, um projeto é um sucesso quando “se misturam os sonhos e requisitos de uma família com os conceitos técnicos e estéticos do arquiteto e se consegue conjugar valores da identidade brasileira às tendências contemporâneas”.
Decoração: Energia laranja no Brasil
Contagiada pela natureza da região, a nordestina Humberta Farias projetou na Barra de São Miguel, Brasil, uma casa de praia que é um encontro entre tradição e contemporaneidade.