“Tem que dar o Óscar ao meu marido e aos meus filhos”. É desta forma bem humorada que Graça Viterbo, autoridade no mundo do design de interiores e a mais premiada das decoradoras nacionais, nos fala de uma insaciável curiosidade que a faz estar desperta ao mundo, ir sempre mais além, quer seja na atualidade, quando se cumprem mais de 40 anos de carreira, quer outrora, numa altura em que a profissão ainda era pouco considerada (ver entrevista).
Mudar? Sempre! Experimentar, aprender, por isso a sua casa, onde vive há mais de três décadas, acaba por ser um inevitável laboratório de ideias: “com a chegada dos meus netos já tenho mais respeito, não quero que eles estejam sempre a ver uma casa diferente”, reconhece Graça com grande naturalidade. E é também com este espírito descontraído que a designer de interiores justifica muitas das escolhas que vai fazendo em conjunto com o marido e restante família, parte dela também dedicada ao mundo da decoração através da Viterbo Interior Design, atualmente liderada pela filha, Gracinha Viterbo. “Recebemos tanta informação no ateliê, diariamente, que tenho sempre uma enorme vontade de experimentar, mas é importante dizer que no meio desta mudança, há sempre um elemento sagrado, o layout, a base de um projeto, é a partir daí que tudo se desenvolve, na minha casa também isso acontece”, explica Graça. Ali, a base é a cor, calma, relaxante, a transmitir conforto: “o mundo da cor é muito curioso, aprendi a usar parte delas com Manuel Canovas (editor de tecidos de renome internacional)”, refere. O fio condutor começa nas dependências do piso térreo e vai evoluindo até tons mais difíceis, os encarnados lacre da sala são disso exemplo, “e é esse o trabalho do designer de interiores, saber equilibrar, misturar texturas e padrões, as pessoas compram móveis, sofás novos, depois querem conjugá-los com outros, mas notam que há algo que não resulta, não se sentem bem, falta a imaginação criadora, a arte do designer”.
Em casa de Graça Viterbo, onde o conceito ‘tailor made’, tão apreciado pela decoradora, é levado em grande conta, há a experiência de uma vida e algum ‘atrevimento’, “com um mármore tão bonito, não tenho praticamente tapetes, gosto de ver a pedra, senti-la, num projeto talvez não o pudesse fazer…”, reconhece. No entanto, em contrapartida, não dispensa a utilização de almofadas, “adoro almofadas, podem fazer a diferença num ambiente de fundo neutro ou branco, de repente, com uma determinada almofada, com mais textura ou colorida, tudo pode mudar”.
Verdadeira especialista em tecidos, fruto de partilhas entre os melhores, Manuela Canovas, Pierre Frey, Tricia Guild (lamenta que os cursos de interiores não lhes prestem a devida atenção), Graça defende que as texturas e cores emprestam vida e conforto a qualquer habitação, e dá como exemplo o seu quarto, onde se misturam almofadas de inspirações diversas, mas com natural destaque para uma, em seda, da coleção Gracinha Viterbo.
Outra vantagem que encontra em sua casa e lhe dá especial gozo é a liberdade de poder misturar, conjugar épocas e correntes. É por isso que encontramos na mesma sala cadeiras Biedermeirer, um estilo que muito aprecia, peças Regency, chinoiserie… “aqui, posso ousar, até chocar um pouco… num projeto é mais complicado”, repara a designer. E é assim que esporadicamente Graça resolve pôr em destaque um móvel/peça que tinha retirado, “há peças que tive guardadas durante anos e depois voltei a usá-las, quando os objetos têm qualidade, uma história, devemos mantê-los, mais vale colocar numa sala um móvel em destaque do que três a passar despercebidos”.
E, finalmente, a questão que se impõe, será que perante tanta informação, terá Graça uma peça de especial apreço? A resposta é pronta e justificada, “gosto de biombos, tenho um (com espelhos, na sala de jantar) que me acompanha desde a minha primeira casa, são peças muito versáteis”.
Decoração: Apresentamos-lhe a casa de Graça Viterbo
Graça Viterbo abriu-nos a sua casa revelando um projeto baseado no rigor e experiência de 40 anos de carreira no design de interiores.