Toni Grilo nasceu em França, em 1979, e formou-se em Design de Mobiliário e Arquitetura de Interior na École Supérieure Boulle (Paris). Depois de várias colaborações, decide instalar-se definitivamente em Portugal. Em 2013, troca Lisboa pelo Porto.
Como define o universo Toni Grilo?
É uma pergunta difícil… Acho que um criativo não consegue se situar em concreto, pois é da sua natureza estar constantemente a redefinir tudo à sua volta. O universo não está sempre em movimento e em mutação? Talvez seja assim que me vejo a trabalhar.
Com que marcas trabalha atualmente?
Como diretor criativo, trabalho para a Riluc, marca de mobiliário em aço inoxidável criada em 2009; Haymann, editora de design contemporâneo que criei com o David Haymann em Paris em 2012; Blackcork, marca de mobiliário em cortiça preta; e Topázio desde 2013. Este ano, estou a lançar a WIDU, a convite da Câmara de Paredes e no âmbito do programa Art on Chairs, que associa excelentes fabricantes de mobiliário de madeira da região. Enquanto designer, trabalho para todas as marcas já referidas. E também para outras, caso da Roche-Bobois em França.
Qual a peça que melhor retrata/representa a sua filosofia e o seu trabalho?
Apenas existe a peça na qual trabalho no momento.
Cada projeto é um novo capítulo?
A página em branco como começo, sempre.
No processo criativo, o que nasce primeiro: a forma ou a funcionalidade?
A função vem em primeiro na maioria das vezes. À partida já é definida no desafio que me é posto em mãos: começo por norma o processo a partir de um briefing que estipula a tipologia da peça a desenvolver. A funcionalidade é uma condicionante neste caso. No entanto, não há regras. Acontece, muitas vezes, começar com ideias mais abstratas, como uma forma que leva depois a uma ideia de objeto.
É habitual acompanhar o processo de produção dos produtos?
Hoje passo muito mais tempo nas fábricas, e menos no meu ateliê. É imperativo para mim acompanhar o processo de produção e faz-me confusão quando não ponho ‘a mão na massa’. Considero que o trabalho de designer é criar o produto, não apenas o seu desenho, que é uma ínfima parte da tarefa.
Como é fazer a ponte com os artesãos?
Considero que um objeto nasce obrigatoriamente do diálogo entre o artesão (ou industrial) e o designer. A minha profissão não é impor um desenho. Leva-se um desafio, uma ideia, um ponto de partida para conversar. Saber ouvir e considerar a experiência dos outros é fundamental para o projeto. Não há segredo para trabalhar com artesões, basta consideração e respeito.
Qual é o limite/fronteira entre arte e design?
O limite entre arte e design é cada vez mais indefinido, as duas áreas tendem a se sobrepor. Ser criativo é ser-se livre de pensar, por isso vejo com bons olhos a confusão entre as áreas. No entanto, enquanto designer não posso me considerar artista. Enquanto este trabalha exclusivamente numa ótica de pesquisa pessoal e introvertida, o designer, ao contrário, deve responder a uma necessidade ou a um problema, vindo geralmente de um cliente. Existe como limite um caderno de encargos, um mercado específico ou o enquadramento de uma marca.
Quais os métodos/estudos que não podem faltar no decorrer de um trabalho?
A técnica e os materiais estão no centro do meu processo criativo. Irrevogavelmente.
Como vê a crescente valorização e/ou reconhecimento do seu trabalho?
Tenho dificuldade em ver, passa-me um pouco ao lado esta questão. No dia-a-dia trabalhamos numa esfera privada e não prestamos atenção. Não sei dizer se há realmente reconhecimento. Mede-se na satisfação e procura dos clientes? Apesar de ser criativo com a cabeça nas nuvens, vivo com os pés bem assentes na terra. Agradeço muito que o trabalho tenha corrido bem. Mas o reconhecimento não garante o futuro e não se pode baixar os braços. Pelo contrário. Já não há margem para falhar (embora os erros sejam benéficos).
Hoje, os clientes procuram um trabalho do Toni Grilo ou a ‘marca’ Toni Grilo?
Não existe ‘marca’ Toni Grilo, não há ‘receita’ ou qualquer reprodução de esquema no meu estúdio! No dia em que os clientes me pedirem para fazer mais do mesmo, prefiro mudar de profissão, será o início do fim. Espero por desafios e parcerias reais, pessoas que queiram trabalhar com seriedade comigo.
Com que marcas e designers da nova geração gostaria de trabalhar?
Não tenho nomes em mente. Interessa-me conhecer novos pontos de vista e formas de trabalhar, longe da Europa.
Portugal tem a sua própria identidade em termos de design?
Cada vez mais penso que o design não tem nacionalidade. Apesar de o designer ser influenciado obrigatoriamente pela sua cultura no seu trabalho, o mercado é aberto e abafa as diferenças. Hoje vende-se uma coleção particular para todo o mundo e as marcas também contratam designers de vários horizontes para a sua equipa. Interessa a identidade própria do designer.
Lançamentos, novidades… O que vem por aí?
Em curso, novas cadeiras, mesas, candeeiros, uma linha de joalharia, uma coleção de relógios…
Decoração: À conversa com Toni Grilo
O designer franco-português, que é também diretor criativo de várias marcas, abriu-nos as portas do seu ateliê, no Mercado de Matosinhos.