Quem é o Miguel Rodrigues e quando descobriu a sua paixão pela arte? A história e arte de Miguel Rodrigues
Nasci em Coimbra, a minha família sempre esteve ligada às artes. Quando era pequeno, lembro-me de fazer pequenos objetos com os materiais que encontrava ao meu redor. Contudo, creio que a grande paixão pela arte resultou do meu fascínio pela história e pelo património. Procuro sempre estudar a história através do olhar dos artistas. Quando fui estudar escultura para a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa fiz essa ponte entre a paixão pelo património e a arte contemporânea. A história e arte de Miguel Rodrigues
Porquê a escultura?
A escultura acabou por ser um acidente do destino, candidatei-me para Pintura na Faculdade de Belas-Artes, mas acabei por entrar em Escultura. Foi um feliz acaso. A escultura permite criar uma ligação mais complexa com o meio e com o espetador, permite explorar espaços que dificilmente o faria com a pintura. Hoje, vejo a escultura não apenas como o objeto escultórico, mas também na sua relação com a envolvente, que passa pelo digital, redes sociais e por uma certa interatividade. A história e arte de Miguel Rodrigues
Quais são as suas influências?
O meu trabalho é o resultado de um processo de olhar para a história. Queria pegar na tradição barroca portuguesa do século XVII/XVIII e fazer a ponte até aos nossos dias. As minhas peças evocam o luxo barroco e a teatralidade com materiais e técnicas contemporâneas. Desde o início, a ideia foi utilizar um material que fosse representativo do nosso tempo. Escolhi o PetG, um tipo de plástico. Hoje é um material que nos rodeia, mas não existia no século XVII, por isso, não caio na tentação de copiar modelos passados. Estou mais focado nas oportunidades da digitalização: usar técnicas para criar esculturas de exterior, de grande dimensão, a partir de pequenos modelos. Chamo ao meu estilo de hiperbarroco, pois é ainda mais barroco do que o barroco original.
Onde já deu a conhecer as suas obras?
Já tive oportunidade de ter exposições em vários países e cidades fora de Portugal: Londres, Paris, Praga, São Petersburgo. Também tenho trabalhado na Turquia, onde todos os anos participo em várias exposições. Tenho estado no Dubai e Bahrain. Tudo isto é o resultado de um mundo globalizado, onde tudo circula a uma grande velocidade.
Qual foi o mais marcante?
Estes países são o resultado de uma grande curiosidade pessoal sobre diferentes culturas e vontade de estabelecer pontes. Só viajo se for relacionado com trabalho, esta é a única maneira de perceber realmente os países que visito. Por isso, em cada um, acabo por criar uma rede de contactos e amigos que os tornam especiais.
Qual é a obra mais relevante?
No ano passado fiz uma grande instalação no Dubai. A Nuage foi uma peça de 13 metros suspensa, instalada no Sculpture Park, no DIFC. Pretendia refletir sobre os sonhos e o futuro do Dubai, foi um dos meus projetos mais desafiadores. Foi feita em Lisboa, no meu estúdio, durante seis meses, depois foi enviada às peças. Já no Dubai demorou uma semana a ser montada, envolveu uma grande equipa, que só podia trabalhar durante a noite. O resultado acabou por superar o que tínhamos imaginado e acho que foi um marco no meu percurso.
Quando cria as suas peças pensa em quem as vai comprar?
Não, mas penso no espetador. Tento sempre que as peças tenham um efeito teatral e desse modo são feitas, sem dúvida, para os outros e não só para mim.
As casas dos seus clientes estão incluídas na fórmula do processo criativo?
Tive já vários desafios em que levamos a integração da peça, num ambiente de casa, a um nível extremo. Um dos projetos mais interessantes foi para um colecionador que renovou um pequeno estúdio, no centro de Lisboa, com os arquitetos da Conceitos de Arte. Pensámos numa obra completamente integrada no apartamento, um projeto longo e cheio de detalhes, uma escultura que pela grande dimensão não podia condicionar a usabilidade do espaço.
Quer falar de Dinastia, a sua exposição que esteve patente no Palácio Fronteira, em Lisboa?
Esta exposição, denominada Dinastia, foi um convite da Fundação Fronteira e Alorna. Esteve nos jardins do palácio, na Galeria dos Reis e apresentou uma nova série de esculturas de exterior. É o concretizar de um sonho antigo. Quando vim estudar para Lisboa, visitei o palácio e desde aí fiquei a imaginar uma exposição nos seus jardins.