Chegamos ao bairro de Alvalade e quase não é preciso ter a morada de Ana Maria Lucas, pois nas redondezas todos sabem onde mora e ainda há quem a trate por Anita. É que a ex-miss Portugal continua a viver na casa onde cresceu. Saiu aos 22 anos, quando se casou com o músico Carlos Mendes, pai dos seus dois filhos, Francisco, de 34 anos, e Miguel, de 29. No rescaldo da separação, como costuma dizer, "dei a volta ao mundo", mas o destino estava traçado, e aquele que foi o seu refúgio de infância é hoje o sítio onde se considera feliz. Apesar das remodelações, em cada parede há memórias, em cada canto há uma história. E Ana Maria Lucas, para quem "viver é um exercício diário", tem muitas para contar, como se comprova nestas páginas. Quanto a novidades, aqui ficam: a comentadora da Tertúlia Cor-de-Rosa, rubrica do programa Fátima, da SIC, emagreceu dez quilos, voltou a ser agenciada, agora pela Face Models, e tem na manga um novo desafio profissional, ser consultora de imagem no salão de Eduardo Beauté. Já quando se fala de afectos, continua a dizer que já viveu os grandes amores da sua vida, que a busca incessante pelo príncipe encantado já viu melhores dias e que a sua estabilidade emocional depende do bem-estar dos filhos e da felicidade da neta, Ana Mar, quase a completar quatro anos, com quem a fotografámos durante uma tarde animada no jardim do Estádio 1.º de Maio, mesmo às portas de sua casa. – Voltar à casa onde cresceu foi regressar às origens?- Os meus pais foram muito felizes aqui até ao dia em que o meu pai morreu. Entretanto, a minha mãe também desapareceu e eu, durante pelo menos quatro anos, não conseguia passar por aqui, porque ela morreu de forma inesperada e eu fiquei em choque. Mas a ordem das coisas era eu ficar com a casa. Comprei-a, mandei fazer obras e vim. Aliás, esta nunca deixou de ser a minha casa, pois nunca cheguei a alterar a morada nos meus documentos. [risos] Alvalade é como se fosse a minha aldeia. Sinto-me protegida e aqui a minha exposição pública diminui bastante, porque as pessoas já estão habituadas e isso agrada-me profundamente. – Não teve medo deste regresso a impedir de ultrapassar a morte da sua mãe?- De início achei que sim, e se não tivesse feito o luto durante alguns anos, provavelmente teria sido mais difícil. Hoje sinto-me imensamente feliz, aliás, uma das coisas que os meus pais queriam era que eu ficasse com a casa. – E não tem intenção de a partilhar com alguém especial?- Já tive os companheiros que tinha de ter. Tive a felicidade de perceber que escuso de andar a saltar de amor em amor para encontrar uma coisa que para mim já existiu e que hoje já não é fundamental. Nunca fui pessoa para saltitar de namorado em namorado, à espera de encontrar o grande amor da minha vida. O casal perfeito, para mim, não existe… – Se agora se apaixonasse perdidamente, estas suas declarações…- Caíam por terra. [risos] Sinceramente, neste momento não me sinto disponível para me apaixonar perdidamente. – Mas pode acontecer quando menos se espera…- Acho que é mesmo preciso ter a mente e o coração disponíveis para amarmos. Eu ponho tantas condições à partida que essa pessoa nunca pode existir. – Não terá colocado a fasquia demasiado alta? Parece que passaram na sua vida pessoas quase perfeitas…- Passaram na minha vida pessoas que me fizeram quase feliz, o que já é extraordinário. Acho que a felicidade total é uma utopia, portanto, essas pessoas fizeram-me feliz naquela altura. A grande felicidade somos nós que temos de a construir e fabricar. Não acredito numa grande felicidade eterna, para mim isso não existe. – Mas quando se casou, acreditou que poderia ser feliz ao lado da mesma pessoa para sempre?- Sim, assisti a um casamento de 37 anos, o dos meus pais, que era fantástico. Eles iam ao cinema e estavam de mão dada. A minha mãe era dona de casa, esteve sempre ao lado do marido para lhe proporcionar o aconchego do lar. Os tempos eram outros, eu sei. O ser humano ainda não conseguiu adaptar a parte sentimental à correria do dia-a-dia hoje, e conjugar tudo de forma a ser tranquilamente feliz. – Não teme a solidão?- Ainda não sei o que é. O que sei é que sou solitária por natureza. Claro que gosto de estar rodeada de pessoas, mas preciso do meu espaço, dos meus momentos sozinha. Já não estou para viver experiências ao lado de alguém. A minha preocupação são a minha família e o meu trabalho. – E trabalhar, formar os seus filhos e cuidar da sua neta é suficiente para a sua estabilidade emocional?- Este é o meu lado de afectos. Quando vejo, no olhar dos meus filhos, que eles são felizes, para mim é maravilhoso. Poderia ter escolhido uma carreira, que tive ao meu dispor, mas optei pelos meus filhos. Há quem me critique porque tive, de facto, muitas oportunidades que desperdicei. Costumo dizer que uma família é uma mesa, mas à minha faltava-lhe uma perna. Depois do meu casamento ter acabado, tive de me virar para tentar fazer tudo bem feito e dar-lhes assistência. A responsabilidade era toda minha, porque os meus filhos passavam mais tempo comigo. – Esperava outra realidade? Caiu do ‘mundo dos sonhos’?- Apesar de ter começado a viajar aos 17 anos como manequim e de ser independente, estava protegida. Os meus pais pintaram-me o mundo de cor-de-rosa e não me deixaram ver como ele era. Depois, casei-me e era tudo muito ‘arranjadinho’. Só quando me vi sozinha com os meus filhos percebi que nem tudo eram rosas. – Aos 30 acordou para a vida… Foi um choque?- Fui-me adaptando. Tive vários choques. Daí considerar-me uma lutadora e uma vencedora. – Quem olha para si não diz que teve de lutar muito…- Mas sim, foi uma luta grande, sendo sempre eu a puxar o barco. Pensa-se que tenho heranças, mas não. Há uns anos, disse ao Herman: "Bem, tens um Bentley e um Rolls Royce…" E ele responde-me: "Tu também tens: o teu Bentley tem 22 anos e o Rolls 17." Ou seja, os meus filhos. Toda a vida fui à luta e investi neles. Ajudo-os sempre que precisam e isso dá-me prazer. – Dedica-lhes a sua vida…- A eles e à minha neta. Aliás, se algum deles me disser que vem jantar comigo, por mais compromissos que eu tenha, desde que não sejam profissionais, desisto deles só para estar com eles. – Acha que a maioria das pessoas não dá o devido valor ao que tem?- Os urbanos têm muita pressa, muitas chamadas de atenção. Temos de ter cuidado com tudo, com as companhias que temos, com os sítios onde vamos. Vivemos numa sociedade de consumo. – Fala em ter cuidado, em sociedade de consumo. Acha que também temos de ter cuidado com a imagem, com o corpo?- Acho que sim… Quando a minha mãe morreu, passei por um grande desequilíbrio hormonal e o meu corpo e a cabeça ficaram transformados. A minha cabeça foi-se tratanto, mas o corpo deformando. E já não me sentia bem com a minha imagem. Quando fui trabalhar em televisão, percebi que precisava de cuidar de mim. Tomei coragem e fiz a dieta do Dr. Tallon e comecei a fazer ginástica, o que não fazia há 42 anos. – Cobravam-lhe o facto de ter sido modelo, um ícone da beleza, e ter-se deixado engordar uns quilos?- Sim, e eu própria me cobrava. Também sou vaidosa e gosto de receber elogios. Tenho noção da minha idade, mas sei que posso melhorar algumas coisas. Jamais farei operações plásticas para parecer que tenho menos 30 anos, pois fica-se ridícula. – Está, então, de bem com o corpo e a vida aos 59 anos…- Sinto que poderia ter menos rugas, mas também acho que cheguei bem aqui. Já tive depressões, já chorei muito, já me senti desintegrada da sociedade, e custa-me a adaptar-me a modismos, conceitos de mediatismo, o valor que se dá a coisas que não têm valor. Consegui dar a volta, provei que conseguia, e acho que hoje já não preciso de provar tanto. O que não me pode faltar é trabalho e saúde. – Hoje passou uma tarde divertida com a sua neta… São momentos que valem ouro? – É uma alegria quando estou com ela. Muitas vezes sou eu quem a vai buscar à escola. Ela é muito obediente, educada. Gosto de explorar o lado feminino dela. Acho que as meninas precisam de ser tratadas com mais cuidado… – Como nós, mulheres…- Exactamente…
Ana Maria Lucas dedicada à família: “Já não me sinto disponível para o amor”
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