O Grande Auditório do CCB, em Lisboa, revelou-se uma plateia suficientemente intimista para José Saramago, com 86 anos, partilhar com o público os momentos mais difíceis pelos quais passou ao longo dos vários meses em que esteve doente, durante o ano passado. Enquanto falava sobre o seu novo livro, A Viagem do Elefante, que já é considerado por vários críticos como uma das suas melhores obras, o escritor começou a falar espontaneamente e com a maior naturalidade do facto de quase ter morrido. "Tinha um soluço de três em três segundos e tornei-me uma sombra de mim próprio. Depois, tive uma medicação que talvez não fosse a mais adequada e, a partir daí, entrei numa rampa que não sabia onde é que ia parar. Em Maio, Junho, interrompi a escrita, porque não podia mais. E até Novembro foi um declínio constante de forças, de ânimo e de vitalidade. Eu estava mal, mas não se sabia porquê."Depois de ter estado internado em Madrid, o escritor regressou, extremamente debilitado e ainda sem diagnóstico definitivo, à ilha de Lanzarote, acabando por ser assistido num pequeno hospital local: "Durante alguns dias, estive entre cá e lá e não estava completamente consciente. A Pilar chamou uma ambulância e levaram-me para um hospital, pouco mais do que aquilo a que chamamos uma clínica. E tiveram alguma relutância em aceitar-me, tal era o meu estado, porque não queriam que o Saramago morresse no hospital deles. Mas fui assistido, deram-me uma medicação invulgar e salvaram-me. A Pilar não quis que eu morresse, e isso também me salvou."
José Saramago: “A Pilar não quis que eu morresse e isso também me salvou”
Foi na apresentação do novo livro, 'A Viagem do Elefante', que Saramago partilhou com o público como viveu a fase em que esteve doente e como conseguiu terminar esta obra