Foram precisos dois anos de muito trabalho, amor e dedicação por parte de Mafalda, Rita e António Ferro para que a Fundação António Quadros passasse do sonho para a realidade. Oficialmente reconhecida em Janeiro em Conselho de Ministros, e apresentada ao público há dias, no Círculo Eça de Queiroz, esta fundação destina-se a preservar a memória e dar a conhecer "o pensamento e a obra" do escritor António Quadros e dos seus pais, Fernanda de Castro e António Ferro. Como a escritora Rita Ferro explicou à CARAS, "esta iniciativa nasceu da necessidade de partilhar e pôr à disposição dos portugueses, dos estudiosos e dos investigadores os espólios do meu pai e dos meus avós". Apesar de todos terem dado o seu contributo, a ideia de criar a fundação partiu de Mafalda Ferro: "Primeiro, porque tinha o espólio lá em casa. E foi uma maneira de o manter junto em vez de o ver ser repartido ou vendido um dia mais tarde… Depois, por causa de um conto que o meu pai escreveu sobre a filha do poeta. Que é uma rapariga fútil que não liga ao trabalho de vida do pai, aos escritos dele… e eu não queria que isso acontecesse. E, de facto, tenho tanta consideração pela minha avó, pelo meu avô e pelo meu pai que acho que a obra deles merece ser estudada, continuada. Este espólio tem que ser disponibilizado a toda a gente em nome da cultura." O apoio da família foi fundamental para Mafalda, embora no início os irmãos se tenham mostrado descrentes e duvidado da sua força de vontade: "Eles não acreditaram que eu fosse capaz e pensaram: ‘Olha aquela maluquinha… não tem dinheiro, não tem casa, não tem nada… Tem uns documentos e agora, de repente, resolveu fazer isto. Mas pronto, nós apoiamo-la.’ Acho que o respeito, não só pela fundação, mas como por mim, foi crescendo nos últimos dois anos. Foi uma grande vitória."Uma das maiores felicidades dos irmãos foi poderem contar ainda com a presença da mãe, Paulina Roquette Ferro, neste dia tão especial, como nos confidenciou Mafalda: "Acho que quando fazemos uma coisa extraordinária e já não temos pais, há sempre uma tristeza e interrogamo-nos: por que é que os nossos pais não viveram para ver? Não estou a dizer que sou extraordinária, mas esta fundação é e eu estou tão contente por a minha mãe ainda estar cá e poder vibrar com isto e que o meu pai volte a ser lembrado… A Fundação António Quadros é também um presente que dou à minha mãe."Nada foi deixado ao acaso e até o espaço escolhido para a fundação tem, segundo Mafalda, um significado especial para a família: "Para nós, o Círculo Eça de Queiroz é um bocadinho a nossa segunda casa, porque foi um clube privado fundado pelo meu avô. Outro espaço não teria a alma deles aqui dentro. A minha mãe é sócia honorária, como a minha avó foi, o meu avô foi sócio fundador, o meu irmão é sócio… portanto, faz todo o sentido ser aqui a fundação."
Rita, António e Mafalda Ferro prestam homenagem à família
"A Fundação António Quadros é também um presente que dou à minha mãe." (Mafalda Ferro)