– Esteve dois meses a trabalhar no Canadá numa ópera contemporânea sobre Pedro e Inês. Acha que foi uma experiência decisiva na sua carreira?
Inês Santos – Todas as experiências têm o seu momento, a sua razão e o seu valor. Para mim, ter ido fazer uma ópera no Canadá não é nada de mais. Não penso que agora seja uma artista internacional. Acho que fiz bem e toda a gente ficou muito satisfeita. Não houve nenhum dia em que pensasse que não fiz o melhor que conseguia. Mas foi mais um passo. Sempre fui dando passinhos, este foi mais um.
– Passa grande parte do tempo a viajar. Consegue ter tempo para dedicar à sua vida pessoal?
– Claro que sim. Gosto muito do meu trabalho, mas se não tiver tempo para a minha família e para as coisas de que gosto, acabo por ter uma vida fútil e vazia. Se não tivermos outras coisas em que nos apoiar, acabamos por sofrer. Preciso muito da parte terra-a-terra da vida, que não é só o sonho, o palco e o glamour. Tem de haver um
lado mais normal e quotidiano.
– Acha que se não tivesse esse lado ‘mais normal’, ter-se-ia deslumbrado facilmente com a fama?
– Sem dúvida alguma. Comecei com quinze anos, e num programa que foi o primeiro de talentos em Portugal. Toda a gente via o Chuva de Estrelas. Aliás, as pessoas ainda hoje me reconhecem daí. Na altura, não podia passear na rua porque tinha o cabelo rapado e as pessoas sabiam quem eu era. E se eu não tivesse a minha família e a educação que tive, ter-me-ia deslumbrado na certa. Mas a partir daí o meu percurso foi real, com dificuldades, passos atrás e percebi que a vida não é só sonhos e vitórias.
– E lidou bem com essas dificuldades?
– Tive momentos mais tristes do que outros. Mas foi logo no início e rapidamente percebi que faz parte do jogo. É preciso acreditarmos em nós e gostarmos do que fazemos. E temos de ir à luta, não podemos ficar à espera que as coisas aconteçam. E eu tenho muito essa atitude. Vendo os meus próprios espectáculos, faço os meus contactos. Quero é trabalhar e cantar para as pessoas. Não tenho nenhum problema em lutar pela minha vida.
– Acha que ainda é, para o público, a menina do cabelo rapado?
– As pessoas continuam a chamar-me a careca do Chuva de Estrelas, mas sempre com muito carinho. E acho que sabem o valor que tenho, apesar de não ser uma cantora de discos e com uma carreira com um só estilo de música. Tenho feito muita coisa e provei que tenho versatilidade. Tenho crescido muito. Hoje canto de uma forma muito mais madura e segura. Mas acho que as pessoas continuam à espera de um disco…
– E para quando um disco?
– Já tenho dois discos, mas acho que não os deveria ter gravado nessa altura. Era muito nova e devia ter amadurecido um bocadinho mais e perceber que tipo de música é que queria fazer. Mas ainda hoje não sei. Gosto de muitas coisas diferentes. Agora estou a trabalhar com um músico brasileiro, Junior Meirelles, num projecto que se chama Meu Samba, Teu Fado. Vamos fazer espectáculos ao vivo e, se tudo correr bem, seguir-se-á um disco.
– Depois do Canadá, segue-se o Brasil. Ainda não está cansada de andar sempre a viajar?
– Canso-me de andar com as malas. Se pudesse viajar sem malas, seria maravilhoso. Mas fui crescendo a viajar. Somos quatro filhos e sempre viajámos muito. Tínhamos uma carrinha e fomos os seis pela Europa. Faz parte da minha vida estar em contacto com outras culturas e línguas. E preciso dessa novidade. Detesto a rotina e não ter nada de novo para fazer.
– Continua a ser romântica e sonhadora, ou a idade tornou-a mais pragmática?
– Continuo a achar que é perfeitamente possível encontrar o príncipe encantado. As pessoas quando estão juntas têm de se amar e respeitar e tratar uma da outra todos os dias. Só assim se pode ser feliz. Não sei bem o que se pensa quando se lê príncipe encantado… Mas acho que há pessoas maravilhosas. E se formos maravilhosos, de certeza que atraímos alguém também maravilhoso para a nossa vida.
– E já atraiu alguém?
– Sim. Estou muito apaixonada e já encontrei o meu príncipe encantado.
– E já sente a vontade de se casar e de ser mãe?
– Não digo que tenha de ser mãe já, mas desde miúda que quero ter vários filhos. Já me apaixonei e a seguir logo se vê. Quanto ao casamento, acho que é importante ter uma festa para partilhar com os amigos a nossa felicidade. Mas não é uma coisa que tenha necessariamente de fazer. Mas talvez me case… Gostava de ter um belo vestido e de fazer uma festa.