O dia de
Cristina Jorge de Carvalho parece ser maior do que o da maioria das pessoas. Arquitecta de interiores, ainda faz cursos de arte, de
raiki, de fotografia,
workshops de cinema e pratica desporto com regularidade. E educa os dois filhos,
Francisca, de 11 anos, e
Salvador, de sete. Como consegue fazer tudo isto em 24 horas?
"Simples", diz Cristina:
"Com uma grande organização." Antes, conta, trabalhava de mais e o tempo que tinha era para o marido e para os filhos. Agora, desde que ultrapassou a barreira dos 40 e se separou de
Francisco Norton de Matos, há cerca de ano e meio, as coisas mudaram:
"Cada vez faço mais aquilo de que gosto e selecciono onde quero estar e com quem." Mesmo com uma agenda superpreenchida, a arquitecta recebeu a CARAS no seu ateliê e abriu-nos um pouco as portas da sua intimidade.
– Percebe-se que adora aquilo que faz. O trabalho é a sua vida? É uma
workaholic?
Cristina J. Carvalho – Acho que só faz sentido trabalharmos naquilo de que gostamos. Quando cheguei aos 40 anos, comecei a questionar um determinado número de coisas, e uma das quais foi o facto de ser realmente
workaholic. E passei a prestar mais atenção a outras áreas da minha vida, como os amigos, os
hobbies, eu própria… A família sempre teve atenção, mas se calhar tinha menos disponibilidade para as outras coisas, deixava de ter tempo para mim por causa dos meus clientes… Hoje em dia, pondero muito as coisas. Continuo a ser
workaholic, mas com limites.
– Sente que prejudicou a sua vida pessoal a favor do trabalho?
– Acho que descurei em especial a mim. Eventualmente, a minha vida pessoal, os meus amigos que não tiveram a atenção que mereciam… Acho que trabalhei muito durante muitos anos.
– E arrepende-se disso?
– Não. Se não o tivesse feito, se calhar não teria chegado a essa conclusão. Todos os erros servem para aprendermos. Temos de tirar a lição de todas as boas e más experiências que temos.
– A Cristina separou-se há cerca de ano e meio. Sente que foi o trabalho que prejudicou o seu casamento, ou foi um refúgio para si?
– Não quero falar muito sobre isso… Mas é natural que tomemos e mudemos a nossa vida em prol daquilo que nos faz mais feliz, ou daquilo que julgamos ser o caminho mais feliz para nós. Por isso, espero ao longo da minha vida tomar sempre as decisões que achar mais correctas naquela altura. Porque a vida não é uma auto-estrada a direito.
– Foi uma decisão complicada que lhe trouxe momentos menos bons. Já superou essa fase?
– Já. Estou óptima. Sinto-me muito bem. Gosto imenso daquilo que faço, tenho uns filhos maravilhosos, uns amigos fantásticos, ocupo o meu tempo com hobbies e coisas de que gosto…
– Não fechou as portas ao amor?
– Não. Nunca. A ex-mulher do [presidente francês] Sarkozy disse, numa entrevista, que finalmente encontrou o amor da vida dela. Ela tem 50 e poucos anos, portanto…
– Tem esperança de ainda encontrar o seu?
– Não somos sempre iguais, a vida é um livro em aberto e eu sou uma apaixonada pela vida. [risos] A vida é um livro que é preciso escrever.
– Disse que sempre se dedicou muito ao trabalho. Os seus filhos queixavam-se da sua ausência?
– Eventualmente. Mas eu sempre lhes dei imensa atenção. Obviamente que, hoje em dia, se calhar tenho uma atenção diferente para com eles.
– Alimenta a amizade com eles? Tem tempo para conversar com eles quando sai do trabalho, por exemplo?
– Sem dúvida. A Francisca, como já tem 11 anos, é uma amiga… Das 18h, que é a hora a que chego a casa, ate às 22h30, estou sempre com eles, não tenho tempo para falar com ninguém ao telefone. É um tempo que dedico exclusivamente a eles. Fazemos os trabalhos de casa, conversamos, jantamos…
– Como consegue ser uma mãe presente, uma profissional de sucesso e ainda ter tempo para os seus
hobbies?
– Sou superorganizada. E obviamente que delego muitas coisas a equipas competentes, senão seria impossível fazer tanta coisa. É importante ter pessoas que nos auxiliam em casa, as nossas equipas de trabalho em quem podemos confiar e contar. Claro que eu não tenho momentos do dia parados, passo de umas tarefas para outras de seguida.
– Não se sente cansada?
– É óbvio que há períodos em que estou exausta, mas esta é a vida que escolhi.
– Onde arranja forças?
– Faço as coisas com gosto e, quando assim é, temos sempre onde ir buscar forças. Temos é de seleccionar o que queremos fazer, dessa forma temos energia. Cada vez faço mais aquilo que gosto e selecciono onde quero estar e com quem. Acho que isto se aprende com o tempo.
– Nem sempre foi arquitecta de interiores: primeiro trabalhou na área de gestão…
– Foi por paixão e vocação que mudei toda a minha vida. Depois de uns anos a trabalhar na área de gestão, cheguei à conclusão de que não me sentia realizada e que não era isso que queria fazer. Por isso, só tinha de mudar. Fui estudar uma nova profissão e começar do zero.
– E sente que é boa naquilo que faz?
– Sinto-me completamente confiante naquilo que faço, gosto imenso do meu trabalho e os meus clientes adoram-no. Por isso, sinto-me completamente realizada na minha profissão.
– Age por impulso?
– Sou uma mulher impulsiva e gosto muito de agir por paixão.
– Mas os impulsos podem trazer dissabores…
– É verdade… Hoje em dia sou um bocadinho mais controlada, aprendi a dominar a minha impulsividade, mas felizmente não a perdi. Sou determinada e lutadora. Não desisto.