Foi um fim-de-semana prolongado que serviu como ‘bolha de oxigénio’ para
Mico da Camara Pereira e
Joana de Sousa Cardoso. Durante quatro dias, os dois puderam conversar, namorar e esquecer um pouco os problemas que têm ensombrado as suas vidas nos últimos meses, o maior dos quais o cancro da mama detectado a Joana. Os tratamentos terminaram e agora a arquitecta só tem que tomar um comprimido diário, um tratamento hormonal de prevenção que termina no dia 3 de Agosto de 2014, data que a própria faz questão de referir.
Depois de ano e meio de sofrimento, luta, momentos de tensão, lágrimas e desespero, os dois respiram de alívio e começam a fazer planos, o primeiro dos quais será o casamento, pois, das muitas certezas que ganharam durante este período, uma delas foi precisamente a de que querem oficializar a relação e celebrar nesse dia a vida, a amizade e o amor junto dos filhos,
Afonso, de cinco anos, e
Francisco, de 12 [fruto de uma anterior relação do músico].
– É a primeira vez que estão juntos na Madeira…
Mico – Já cá vim muitas vezes, algumas das quais para tocar, e tenho um carinho muito especial pelo Funchal, pois os meus pais viveram cá muitos anos, inclusivamente, nasceu cá o meu sexto irmão, no Beco da Pena.
Joana – Pois eu não conhecia a Madeira, e gosto muito de viajar e de visitar sítios onde nunca estive, portanto, estou a adorar!
– Estes fins-de-semana também devem funcionar como uma ‘bolha de oxigénio’, uma forma de se desligarem dos problemas do dia-a-dia?
– Gosto imenso destas escapadelas românticas, destes miminhos que damos um ao outro. Acho que são necessários para manter uma relação. Há a família, os filhos, mas depois também tem de haver momentos a dois, apesar de estarmos a morrer de saudades do Afonso e do Francisco!
Mico – É claro que estes momentos são fundamentais, mas sabem sempre a pouco, porque quando nos começamos a esquecer do dia-a-dia, acaba o tempo e temos que voltar à labuta.
– Agora que a Joana deixou de usar o lenço e fica tão bem de cabelo curto, gostava que ela o mantivesse assim ou que deixasse crescer o cabelo?
– A partir de agora, francamente, é como ela se sentir melhor. Nunca a tinha visto de cabelo curto e não é qualquer pessoa que tem cara para usar cabelo curto ou lenço, como ela usou, e ficar bonita. Sei que ela fica bem de qualquer maneira, e o mais importante é deixar de se sentir limitada em termos de imagem. Agora, como ela se sentir melhor, é como eu vou gostar mais.
– Joana, já sabe que penteado quer ter?
Joana – Toda a gente diz que devia deixar o cabelo assim. Como nunca tive coragem de cortar o cabelo muito curto, vou aproveitar para experimentar vários penteados. Agora vou deixá-lo crescer, de forma a passar por todas as etapas, e depois hei-de decidir que penteado prefiro.
– Sentem que a vossa relação foi posta à prova? Acham que, depois de tudo o que se passou no último ano e meio, ficaram com mais certezas?
Mico – Se isto não é pôr uma relação à prova, então o que será? Ninguém aqui está a fazer de coitadinho, porque quem penou não fui eu. Eu só estava ao lado a assistir ao jogo, sem poder fazer nada, mas quem levou a canelada foi o jogador, neste caso a Joana. Como é que eu poderia interferir? Não fiz sacrifício nenhum, quem os fez foi a Joana. Eu estava lá como amigo. Não fiz isto só por amor, fiz por amizade. Estamos juntos há sete anos, e o amor e a paixão são flutuantes, há alturas em que podemos amar mais ou estar mais ou menos apaixonados, mas a amizade… Acho que esse é o ponto fundamental para que o amor e a paixão não baixem dos mínimos olímpicos, e isso nunca aconteceu connosco, porque gostamos muito um do outro. É importante que sejamos amigos e, se cada um de nós trabalhar para a felicidade do outro, estamos ambos bem. O problema nas relações é quando começamos a pensar primeiro em nós e depois no outro. É o princípio do fim. Neste caso, quem penou não fui eu, eu só assisti.
– Sente que, por terem passado juntos por tudo isto, qualquer coisa que aconteça na relação, futuramente, será sempre mais fácil de ultrapassar?
– Tenho a certeza absoluta disso. O mais fácil na vida é desistir das coisas, sejam profissionais ou amorosas. Eu já o fiz muitas vezes, sei o que isso é. É fácil desistir de um amor, de uma paixão, de uma amizade, de um trabalho. E hoje em dia estamos numa sociedade muito egocêntrica, egoísta, materialista, portanto, é facílimo trabalharmos para nós e não pensarmos em mais nada. Difícil é, nos momentos maus, agarrarmo-nos e unirmo-nos uns aos outros e trabalharmos para que as coisas não acabem. Lutar por uma relação, por um casamento, por um filho…
– Depois, quando se consegue, dá mais gozo?
– Quando as coisas correm bem, que é o caso, pensamos que valeu a pena. Porque na realidade era muito fácil a Joana desistir de tudo, não só de mim, como dela própria. Mas, para além de aguentar um homem chato, velho e rezingão, e um filho, que é muito intensivo, activo e que dá trabalho, não deixando que ele se apercebesse do que se estava a passar, e, ao mesmo tempo, fazer uma tese de mestrado… Não conheço muita gente com esta capacidade.
– Joana, o Mico não se deve ter limitado a assistir… Imagino que o apoio dele tenha sido determinante…
– Sim, claro. Sempre disse que esta vitória só foi alcançada porque tenho o Mico, o meu filho, a minha família e os meus amigos e amigas que adoro e que me apoiaram todos os dias, e me deram muito amor e carinho. [emociona-se]
– O casamento estava planeado para este ano, mas acabou por ser adiado. Já têm data?
Mico – Não há data, mas ter o ano marcado já não é mau. Há-de ser em 2010. Odeio coisas combinadas com muito tempo de antecedência, porque assim tenho tendência para faltar ou falhar, e eu não quero faltar! [risos]
– Já idealizaram esse dia?
Joana – Tem sido uma ‘guerra’ para chegarmos a um consenso quanto ao local, mas acho que já chegámos a acordo. O Mico queria que fosse no Castelo de Barbacena, no Alentejo, onde ele tem um espaço, e eu adorava que fosse na Quinta das Lágrimas, porque sou de Coimbra. Acho que ganhei eu… E idealizo tudo o que todas as noivas idealizam: um vestido muito bonito, muitos amigos e família, num espaço muito bonito, e nós muito divertidos a celebrar a vida, o amor, a amizade e o facto de estarmos cá. Acho que vai ser uma festa animada.