Vera Roquette saiu dos ecrãs há vários anos, contudo, o seu sorriso rasgado e a conversa fácil que estabelecia com os telespectadores do
Agora Escolha continuam presentes na memória de muitas pessoas. Já não trabalha em televisão, mas continua a comunicar, o que considera ser a sua verdadeira vocação. Seja através da ajuda que dá ao marido,
José Manuel Trigo, como relações-públicas nos vários espaços nocturnos que possui, ou a escrever livros para crianças, Vera não abdica de estar em permanente contacto com o mundo que a rodeia.
Recentemente, a ex-apresentadora publicou
O Senhor que Vivia na Lua e Outras Histórias Divertidas e confessa que quer fazer carreira com estas histórias que despertam o imaginário infantil. Apesar de nunca ter tido filhos, Vera sente-se
"mãe de muitos". Esta vocação para estar com os outros já despertou em si o desejo de se tornar missionária e não esconde a vontade de ir para África durante alguns meses.
Foi sobre os afectos que se escondem, ou misturam, com o seu pragmatismo e dinamismo que falámos com a autora que, tal como as crianças para quem escreve, não se cansa de sonhar.
– Como tem sido esta experiência enquanto escritora?
Vera Roquette – Comecei por escrever crónicas. Sinto-me muito ligada ao jornalismo. Gosto de escrever coisas rápidas que fazem parte do dia-a-dia. A realidade é tão rica… Mas sempre sonhei com crianças. O meu programa
Agora Escolha era dedicado às crianças. São elas que lançam as modas. As pessoas podem pensar que é pelo facto de não ter filhos que sou tão ligada às crianças, mas não. Isto pode chocar, mas nunca me vi a ficar em casa com os filhos e com o marido… Acho que é maravilhoso uma mulher poder ser mãe, mas há muitas mulheres que não têm filhos e que são mães de muitos outros filhos. E eu sou assim. Não somos menos femininas por não termos filhos. Mas a ideia de escrever para crianças surgiu há muito tempo e agora realizei esse sonho.
– E a inspiração, vem da sua infância?
– Tive uma infância muito feliz. Os meus pais deram-me muito carinho e amor. Nunca os vi discutir, por exemplo. E isso é amor que fica e depois transmitimos aos outros. As crianças, para mim, são o sonho, o futuro. E foi a ternura que tenho por elas que me suscitou esta vontade.
– Parece ser muito ligada aos afectos…
– Sou uma pessoa muito impulsiva. Tento ser menos, porque a maturidade também nos ensina. Mas continuo a ser rebelde e gosto de ter uma certa rebeldia e ingenuidade que fazem parte da juventude. As pessoas dizem que deveria ser mais calma, mas quando vejo uma injustiça, fico rebelde. Sou uma mulher muito ligada aos afectos e viver sem eles é um horror. São a essência da nossa identidade e aquilo que deixamos nos outros. Mas noutras coisas sou muito pragmática. Equilibro o racional e o afectivo, mas as emoções ganham.
– Arrepende-se de não ter tido filhos?
– Não. A vida foi-me acontecendo e tem sido muito preenchida. Comecei como guia-intérprete, passei para a publicidade, depois para assistente de cinema, mudei para a televisão, e agora estou com um homem da noite… Optei sempre pela profissão e pelo meu estilo de vida. Houve uma altura em que pensei: ou tenho filhos agora ou já não tenho. Mas percebi que pensar assim era egoísmo. Temos de saber se não estamos apenas a satisfazer os nossos egos. Temos de ser muito conscientes. Há várias formas de ser mãe no mundo.
– Acredito que serem só os dois numa relação tenha aprofundado o conhecimento que têm um do outro…
– Com certeza. Conheço casais que vivem a dois e são muito felizes. Não são apenas os filhos que trazem alegria. Não há felicidades plenas, nem para os casados, nem para os solteiros. E um dia vamos todos estar sozinhos, porque muito raramente se morre em simultâneo. E é difícil recomeçar tudo de novo. Temos de aprender a viver sozinhos. Perguntar se somos felizes é ridículo. Ao olharmos à nossa volta, vemos pessoas a sofrer e, por isso, não podemos ser totalmente felizes! Temos momentos de felicidade na vida, mas a partir de um momento, começa a ser difícil.
– Pode dizer-se que o seu marido é o seu pilar?
– É, sem dúvida. Sempre fui muito independente e ele também é, e damo-nos muito bem. Temos liberdade. Vou com uma amiga ao cinema e ele não faz qualquer problema disso. Se não fosse assim, não poderíamos estar a trabalhar na noite.
– Gostaria de voltar à televisão?
– Não sei… Quanto mais vejo as pessoas a aparecerem, mais fico retraída. Não quero ser mais uma. Se houvesse projectos interessantes e a horas decentes, sim senhora. Acima de tudo, sou uma comunicadora. Mas hoje há telenovelas e futebol. E vejo programas fantásticos que começam à uma da manhã…